Saúde e Bem-Estar

Julliana Bauer, especial para Gazeta do Povo

Hipocondria existe sim! Confira os sinais de que você está extrapolando

Julliana Bauer, especial para Gazeta do Povo
23/09/2019 08:00
Thumbnail

O indivíduo com o transtorno não gosta de estar doente, mas tem uma vigilância muito aumentada, precisa da confirmação médica e das pessoas ao seu redor de que tudo ficará bem, conta detalhes sobre seu sofrimento para todos. Foto: Bigstock.

Fazer consultas e exames médicos anualmente, carregar consigo em viagens uma pequena bolsa de remédios, ter atenção e investigar quando um sintoma diferente surge de repente.
Todas essas atitudes são normais e características de pessoas prevenidas e atentas à saúde. Mas em que momento a preocupação com a saúde deixa de ser algo preventivo e se torna hipocondria?
Para evitar o estigma e a banalização relacionados ao termo, desde 2014 a hipocondria passou a ser denominada como transtorno de ansiedade de doença pelo Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais, diz o psiquiatra Oswaldo Petermann Neto, da Paraná Clínicas.

“[A hipocondria] É uma situação em que um indivíduo se preocupa muito com uma doença que, na verdade, não tem. Por isso, verifica seu estado de saúde com muita frequência e de forma compulsiva, fazendo visitas médicas sem necessidade e induzindo o profissional da saúde a prescrever exames que não seriam necessários”, afirma.

A psicóloga Michele Maba afirma que um erro comum é achar que as pessoas que sofrem com esse transtorno “gostam” de adoecer.
“O indivíduo não gosta de estar doente, mas tem uma vigilância muito aumentada, precisa da confirmação médica e das pessoas ao seu redor de que tudo ficará bem, conta detalhes sobre seu sofrimento para todos com o objetivo de ver no olhar do outro se a pessoa se choca ou não com aquilo descrito”, afirma.

Outra característica comum da doença é a desconfiança. “Mesmo quando os exames se mostram normais e o profissional a orienta de que ela não está doente, a pessoa ainda acredita ter um problema grave e continua investigando”, complementa Neto.

De acordo com uma pesquisa realizada em 2018 pelo Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ), 40% dos brasileiros fazem o autodiagnóstico médico de doenças com base em pesquisas na internet.
Para Michele, isso é preocupante, e só piora a condição de quem sofre de Transtorno de Ansiedade de Doença. “As pessoas fazem uma busca insana de informações sobre sintomas simples e encontram informações exageradas, o que piora os pensamentos obsessivos”, analisa.

Sintomas físicos

Se engana quem pensa que a pessoa que sofre desse transtorno não apresenta sintoma físico algum. A psicóloga explica que a dor que o paciente relata muitas vezes é real — trata-se do processo de somatização.

“Isso quer dizer que este indivíduo leva questões emocionais para o corpo físico — não está inventando uma doença, ele está realmente sentindo aquilo e preocupando-se exageradamente, são sintomas que não são explicados por meio de investigações médicas”, esclarece Michele.

O psiquiatra afirma ainda que a doença pode estar relacionada e associada a outros transtornos, como depressão e TOC. A boa notícia é que existe tratamento médico, que envolve associar a psicoterapia ao tratamento psiquiátrico.
De acordo com Neto, o mais comum é que se opte por medicamentos psicotrópicos, bem como com inibidores da recaptação de serotonina e terapia cognitiva-comportamental.

E não adianta fugir da terapia. “É sim um tema a ser levado para sessões de psicoterapia, pois a doença rouba a qualidade de vida de todas as áreas da vida do paciente, causa pensamentos catastróficos, faz com que ele não consiga fazer planejamentos a longo prazo, visto achar que qualquer tosse é sintoma de tuberculose”, exemplifica a psicóloga.
“O tratamento é fundamental para que o paciente possa lidar com esses pensamentos catastróficos e sair desse ciclo vicioso de obsessões e compulsões” recomenda.

Como ajudar amigos e familiares que sofrem com a doença?

Pessoas que sofrem com ansiedade estão entre aquelas mais propensas a desenvolverem o Transtorno de Ansiedade de Doença, bem como os idosos, por serem naturalmente estimulados a procurar cuidar da saúde e buscar ajuda médica.
Pacientes com histórico de padrão de comportamento obsessivo e compulsivo também estão entre os principais alvos, de acordo com os especialistas.
Mas como agir quando um amigo ou familiar dá sinais da doença?

“A atitude certa é dar apoio e acolher, pois é comum que os amigos de uma pessoa com esse transtorno estejam cansados do tom queixoso do indivíduo hipocondríaco, muitas vezes visto como exagerado e mentiroso”, aconselha a psicóloga. “É preciso compreender que o medo da pessoa é real, e que entendam que é um processo que exige cura psiquiátrica”, reforça.

O psiquiatra concorda. “O importante é criar um vínculo de confiança, oferecer companhia para levar a pessoa ou mesmo ir junto às consultas psiquiátricas, visto que esse perfil de paciente não busca ajuda para esse transtorno sozinho por não ter a autocrítica” finaliza.
LEIA TAMBÉM