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Hospital cura paciente com rara bactéria ultrarresistente de tuberculose

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18/11/2019 13:00
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A condição de TB-XDR é rara e o bacilo é resistente a quase todos os medicamentos. Não há nada específico para tratamento. Foto: Bigstock.

Referência no atendimento de pacientes com tuberculose no Paraná, o Hospital Regional São Sebastião, na Lapa, região metropolitana de Curitiba, alcançou a cura de um paciente com tuberculose que conviveu por 13 anos com a doença.
O mecânico de caminhões Josué Melchiades da Costa descobriu que tinha tuberculose aos 27 anos, mas  mesmo sendo alertado pelos médicos que lhe atenderam ao longo do período adoecido, segundo ele próprio, não seguiu o tratamento de forma adequada.
Desse modo, ao não terminar o tratamento preconizado de modo adequado, desenvolveu um tipo de tuberculose multirresistente (MDR). As informações são da Agência Estadual de Notícia (AEN).
“Cheguei nesse estágio por minha culpa, não foi culpa dos remédios, nem dos médicos, só minha”, disse Josué. Foto: Divulgação AEN.
“Cheguei nesse estágio por minha culpa, não foi culpa dos remédios, nem dos médicos, só minha”, disse Josué. Foto: Divulgação AEN.
Após idas e vindas no tratamento e em internações, mais uma vez a bactéria adquiriu resistência, transformando-se então em uma tuberculose extensivamente resistente, ou TB-XDR. Essa forma da doença atinge 30 mil pessoas em todo o mundo entre as mais de 10 milhões de infectados.

A tuberculose É uma doença infecciosa e transmissível que afeta prioritariamente os pulmões, embora possa acometer outros órgãos e/ou sistemas. De acordo com informações do Ministério da Saúde, 25% da população mundial está infectada, mas a doença não se desenvolve. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a doença como uma das 10 principais causas de morte.

No Brasil são 19 pacientes que buscam a cura do bacilo na sua condição mais potente identificada até os dias atuais. No tratamento inicial, a chance de cura é de 95%. Com a evolução da resistência aos medicamentos, esse número reduz e na TB- XDR, caso do Josué, a chance de cura é de 20%.
Foi em julho de 2017 que teve início a última etapa de tratamento, com o infectologista Francisco Beraldi de Magalhães.

“A condição de TB-XDR é rara e o bacilo é resistente a quase todos os medicamentos. Não há nada específico para tratamento. Por isso precisávamos tentar algo diferente e, hoje, vemos que deu muito certo”, explicou o infectologista.

Apesar dos planos inciais de um tratamento de apenas 20 dias, o médico percebeu que seria necesária uma terapia de salvação, ajustando uma nova estratégia terapêutica, com duração de pelo menos dois anos internado.
Nesta época, Josué usava uma medicação nova no Brasil, a bedaquilina, mas as demais medicações em uso, nas estratégias de dose necessárias, fariam com que ele precisasse permanecer internado por pelo menos 2 anos.

De acordo com o médico, dois pacientes foram tratados na Itália com o mesmo medicamento (ertapeném), uma mulher ucraniana que se curou, e um outro paciente da Moldávia que se tratou mas que, infelizmente, morreu.

Essa doença é carente em relação aos medicamentos, não há uma gama muito grande ou vasta de fármacos, explicou o médico, que teve que viabilizar os remédios que estavam fora da lista dos ofertados pelo poder público.
“Fizemos um esforço conjunto para conseguir um medicamento mais potente do que estava previsto, arriscar com doses mais altas e buscar aliados e parceiros na Secretaria da Saúde. Um tratamento mais eficaz com o paciente em casa é fantástico”, disse o infectologista.
A combinação dos medicamentos que possibilitou ao paciente ficar internado no hospital por seis meses e o restante do tempo, os 19 meses, em casa. A combinação incluiu a aquisição pela Secretaria estadual da Saúde de 895 frascos de ertapeném.
Além deste, outros 12 tipos de medicamentos, entre comprimidos, bolsas e ampolas foram utilizadas. Nos 27 meses, foram mais de 3,2 mil comprimidos, 2,1 mil frascos e 245 ampolas de medicamentos.
Considerando que o tratamento indicado variava as doses de cada remédio, assim como alguns via intravenosa, a combinação foi o tratamento de salvação.
Nessa etapa, o médico sugeriu uma outra abordagem: cirurgia para retirar uma parte do pulmão. O plano foi executado por cirurgiões em Campo Largo. Na sequência, o tratamento seguiu com medicamentos via oral e intravenosa.
Cura e liberação
Após 824 dias no último tratamento, a equipe do hospital chegou à cura definitiva de Josué. O médico Beraldi de Magalhães disse que do ponto de vista médico-científico é um caso que apresenta uma grande inovação no tratamento da tuberculose, mas reconhece que sem o esforço do paciente, o tratamento não seria bem-sucedido.
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