Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Até 2022, brasileiros encontrarão biscoitos e refrigerantes com toneladas a menos de açúcar

Amanda Milléo
28/11/2018 17:00
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Refrigerantes, bolos, misturas para bolos e biscoitos serão impactados pela redução proposta pelo Ministério da Saúde. Foto: Bigstock

Bolos e misturas para bolos, produtos lácteos, achocolatados, refrigerantes e biscoitos terão a quantidade de açúcar reduzida nos próximos anos, conforme acordo anunciado na última segunda-feira (26) pelo Ministério da Saúde. A meta prevê uma redução de 144 mil toneladas de açúcar na composição dos alimentos processados e industrializados até o ano de 2022.
O objetivo, conforme informações divulgadas pelo Ministério da Saúde, está na redução da incidência de doenças crônicas importantes, como hipertensão e diabetes. Em parceria com a Anvisa e 68 empresas do setor alimentício, o órgão afirma que seguirá o mesmo modelo usado na diminuição dos teores de sódio. Em quatro anos, 17 mil toneladas de sódio foram retiradas de alimentos processados vendidos no Brasil.
Cada alimento terá uma taxa máxima permitida de açúcar, que passará por uma redução gradual, monitorada em dois momentos pela Anvisa: 2020 e, então, 2022. No caso dos biscoitos recheados, a taxa de açúcar que deverá ser eliminada da composição será de 62,4% — o maior número dentre os alimentos listados, devido à maior quantidade de açúcar, hoje, encontrado nesse produto.

Confira a redução de açúcar conforme cada grupo de alimentos:

Misturas para bolos reduzirão até 46,1% dos açúcares;

Bolos terão de reduzir até 32,4% dos açúcares;

Bebidas açucaradas, como refrigerantes e sucos de caixinha, deverão diminuir 33,8% dos açúcares;

Produtos lácteos, como iogurtes, leites fermentados, iogurtes tipo grego, 53,9% dos açúcares. 

Achocolatados até 10,5% dos açúcares;

Biscoitos recheados até 62,4% dos açúcares. 

Os critérios que determinam as metas de cada categoria de alimento variam conforme o consumo, a distribuição dos teores de açúcar dos alimentos e até o percentual de produtos que deverão ser reformulados a fim de atingirem a meta.
Indústrias terão metas para reduzir os açúcares dos produtos e serão monitorados em 2020 e 2022, ano limite para a mudança (Foto: Jonathan Campos / arquivo / Gazeta do Povo)
Indústrias terão metas para reduzir os açúcares dos produtos e serão monitorados em 2020 e 2022, ano limite para a mudança (Foto: Jonathan Campos / arquivo / Gazeta do Povo)

Impacto na saúde

Reduzir a quantidade de açúcar consumida pelo brasileiro, deixando de ser algo excessivo, é uma medida sempre bem-vinda, segundo Fábio Trujilho, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). Isso não significa, porém, que terá um impacto imediato e efetivo contra obesidade, hipertensão ou diabetes.
“Vai depender muito de como esse acordo será cumprido. A redução do açúcar vai trazer para a população a possibilidade de escolher produtos menos calóricos, e associado a campanhas de educação sobre os riscos desses alimentos calóricos, a médio e longo prazo pode ter um impacto. Mas, é difícil quantificar”, explica o especialista.
Entre 2008 e 2015, a quantidade de bebês (entre 0 a 5 anos) e crianças (entre 5 a 10 anos) que apresentavam sobrepeso, obesidade e obesidade grave  só aumentou – chegando a quase 400 mil meninas, entre 5 a 10 anos, diagnosticadas com sobrepeso, em 2015 no Paraná. Os dados são do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) do Ministério da Saúde.
A medida, segundo Trujilho, traz benefício semelhante à campanha de favorecer a rotulagem frontal dos produtos, com informações claras, que propiciem uma escolha consciente por parte dos consumidores.

“O acordo, pelo que vi, não prevê a substituição do açúcar por outro ingrediente, nem mesmo por adoçante, como é feito em outros países que adotaram medidas semelhantes. É uma redução do açúcar mesmo, para tornar o alimento com um paladar menos doce. Isso pode afastar o consumidor, mas é importante que as pessoas se adaptem a um paladar menos doce”, completa o presidente. 

Brasileiros amam açúcar

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda um consumo máximo de açúcar de 50 g por dia e, se possível, até 25 g/dia. O brasileiro, no entanto, ultrapassa em 50% essa recomendação, e ingere, em média, 80 g de açúcar todos os dias — algo em torno de 18 colheres de chá do alimento.
Esse açúcar está nos alimentos processados, mas 64% do total está naqueles que são adicionados pela própria pessoa. Exemplificando, o açúcar extra está nas colheres de chá a mais que adoçam o café, o achocolatado, o suco natural e o chá.
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