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Os sintomas do AVC não apareceram imediatamente, mas não são incomuns quando costas e pescoços são estalados. Foto: Bigstock
Os sintomas do AVC não apareceram imediatamente, mas não são incomuns quando costas e pescoços são estalados. Foto: Bigstock| Foto:

Saudável, ativa e praticante de atividade física, a paramédica Natalie Kunicki sofreu um acidente vascular cerebral aos 23 anos. O AVC ou derrame cerebral, como é popularmente conhecido, aconteceu no dia 05 de março, enquanto ela assistia a um filme com um amigo, em Londres, e o motivo pode parecer inusitado: após sentir um estalo nas costas e na base do pescoço, a jovem começou a sentir os primeiros sintomas – tontura e dormência na perna esquerda.

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Em entrevista aos jornais britânicos The Sun e Daily Mail, Natalie contou em abril, quando já começava a se recuperar, que não associou as sensações com um AVC.

Foi somente quando chegou ao hospital que descobriu que o estalo nas costas pode ter causado uma lesão em sua artéria vertebral, o que levou à formação de coágulos e à interrupção da irrigação do cérebro, ocasionando o AVC do tipo isquêmico.

Hoje em recuperação, Natalie já conseguiu reaver alguns dos movimentos e é provável, segundo os médicos que a acompanham, que ela consiga voltar a ter uma vida semelhante à que tinha antes, mesmo que, nas primeiras semanas, seu lado esquerdo tenha ficado temporariamente paralisado.

O que aconteceu com Natalie é um caso relativamente raro, segundo Elizana Rasera, cirurgiã vascular do Hospital Cardiológico Costantini, mas pode acontecer com qualquer pessoa. Trata-se de um dano à artéria vertebral. Esta, segundo a médica, “localiza-se na região cervical em ambos os lados. Ela é o primeiro ramo da artéria subclávia e possui um trajeto retilíneo ao longo de todo o pescoço.

Assim, alguns movimentos como extensão e rotação podem causar nas artérias lesões que, apesar de ser um evento raro, pode ter consequências gravíssimas, sempre sendo necessário a avaliação de um médico”, detalha a cirurgiã.

NatalienKunicki em recuperação. Foto: Reprodução Facebook
NatalienKunicki em recuperação. Foto: Reprodução Facebook

A lesão que levou ao AVC da jovem britânica foi possivelmente uma dissecção desta artéria vertebral, que consiste no deslocamento das camadas internas da parede do vaso sanguíneo, uma espécie de rasgo, gerando a formação dos coágulos.

Conforme explica Maramelia Miranda, neurologista vascular da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), isso pode ocorrer não somente durante um estalo nas costas e pescoço, mas também em uma aula de yoga ou pilates, em uma sessão de fisioterapia ou até mesmo em um evento musical, onde as pessoas costumam balançar o pescoço.

“Tanto a dissecção da artéria vertebral quanto da carótida [localizada à frente do pescoço] acontece mais em jovens e adultos de até 45 anos, uma vez que eles em geral não têm outras causas para ter AVC”. Segundo a literatura médica, a dissecção da artéria vertebral é responsável por 2% dos casos de AVC – número que aumenta para entre 10 e 25% dos casos quando se considera apenas pacientes com idade inferior a 40 anos.

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Segundo a neurologista vascular, o motivo pelo qual Natalie provavelmente não imaginou que estivesse tendo um AVC é o fato de que, nos casos em que é causado pela dissecção da artéria vertebral, nem sempre os sinais são os mesmos que os de um AVC “convencional” – que seriam o entortar a boca, o lábio paralisado e a fala enrolada. “O sintoma depende da artéria que teve a lesão.

Se foi a vertebral, é ela que irriga a parte do cérebro responsável pelo equilíbrio, pela visão, pela fala. Então os sintomas são mais parecidos com os da labirintite: tontura, desequilíbrio, náusea com muito vômito, paralisia de um lado do corpo ou alteração visual”.

Estes sinais, no entanto, não necessariamente vão aparecer de imediato, de forma que é possível que o AVC da paramédica inglesa tenha sido causado por outro evento, em dias anteriores.

“O mais comum é você ter a lesão da artéria, passar alguns dias, você fica com a dor naquele local e depois você tem o AVC. Em geral, acontece na mesma semana ou na semana seguinte”, aponta dra. Maramélia.

Lesões a um estalo de distância

Não é apenas o sistema circulatório que pode sofrer danos com o hábito de torcer, entortar e estalar. Essas práticas podem também ter consequências para os ossos e articulações, embora não tão graves quando as vasculares.

O médico ortopedista especialista em cirurgia da coluna Antonio Bernardo de Queiroz Krieger não chega a caracterizá-la como perigosa, mas sim como uma “atitude desnecessária”. Ele esclarece que, quando repetido com frequência e com força, o estalo estressa consideravelmente os tendões, cápsulas, cartilagens e ligamentos. “Isso tende a desgastar a cartilagem que reveste os ossos a longo prazo.

Estalar o pescoço, especificamente, pode levar a um quadro de luxação facetária [uma espécie de fratura] em situações extremas, correndo o risco até de lesão da medula”.

O risco mais frequente se dá pela repetição dos estalos que, por lesionar continuamente a articulação, pode contribuir para o processo de artrose a longo prazo. “Pessoas com instabilidade articular, frouxidão ligamentar e hipermobilidade apresentam risco de luxação – ou seja, de tirar a articulação do lugar. Esta situação é grave, podendo necessitar de cuidado médico urgente para reposicionar os ossos”, orienta.

Por isso, embora seja considerada uma sensação prazerosa e relaxante por muita gente, a mania de estalar deve ser substituída por outras abordagens. “Alongamento, cuidados com a postura e ergonomia, prática regular de exercícios físicos são ótimos aliados para proteger nossas articulações e manter os músculos saudáveis”, orienta.

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