Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Fast foods podem ser responsáveis pelo aumento das alergias alimentares no mundo

Amanda Milléo
06/07/2019 15:00
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Junk foods estariam associadas a alergias alimentares, diz estudo (Foto: Bigstock).

Há várias hipóteses que tentam explicar o que leva uma pessoa a desenvolver uma alergia alimentar. Uso excessivo de antibióticos e antiácidos na infância, exagero nas cesarianas durante o parto, a poluição nas cidades e mesmo os hábitos alimentares estão na lista.
Pesquisadores italianos da Universidade de Nápoles Frederico II trouxeram mais elementos à discussão, reforçando a culpa dos alimentos ultraprocessados, especialmente os fast foods.
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores avaliaram 61 crianças, entre os seis e 12 anos de idade, divididas em três grupos: aquelas com alergias alimentares, aquelas com alergias respiratórias e aquelas sem nenhuma alergia, que serviram como grupo controle.
Os resultados foram divulgados no início de junho durante a 52ª Conferência Anual da Sociedade Europeia de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica, na Escócia.

Cada grupo manteve um diário das refeições (acompanhado pelos pais) e foi submetido a exames médicos. Destes, os pesquisadores perceberam que, em comparação aos outros grupos, as crianças com alergias alimentares tinham níveis mais altos de um composto associado aos alimentos ultraprocessados, como os fast ou junk foods, chamado de AGE (Advance Glication End Products, em inglês, que significa produtos finais com glicação elevada).

Esses AGE são componentes que se formam quando uma proteína e uma gordura se misturam ao açúcar na corrente sanguínea. O mesmo processo ocorre também na produção de alimentos, e os componentes AGE são encontrados principalmente em carnes preparadas (especialmente fritas), alguns tipos de queijo, ovos fritos, manteiga, margarina, maionese, além de alimentos ultraprocessados.

“Hipóteses atuais e modelos de alergias alimentares não explicam adequadamente o aumento dramático observado nos últimos anos [das alergias alimentares]. AGE’s advindas dos alimentos junk food podem ser o elo perdido, e nossos dados apoiam essa hipótese”, apresentam os pesquisadores, sob a autoria do investigador principal Roberto Berni Canani, no estudo.

De acordo com dados da OMS, há mais de 70 alimentos que podem gerar alergias alimentares<br>(Foto: Bigstock).
De acordo com dados da OMS, há mais de 70 alimentos que podem gerar alergias alimentares<br>(Foto: Bigstock).

Especialistas concordam

De acordo com Mário Vieira, médico gastroenterologista pediatra e membro da diretoria da Sociedade Paranaense de Pediatria (SPP), o estudo abre uma hipótese nova: será que o consumo excessivo desses produtos industrializados, presentes em doces, refrigerantes, pode predispor às alergias alimentares?
“É um estudo bem interessante, e ainda necessita de confirmação. Ainda existe muita especulação na área, o que se sabe é que certamente as doenças alérgicas têm aumentado nas últimas décadas, e que podem estar relacionadas a mudanças na microbiota, no uso precoce do antibiótico, no excesso de cesariana, no uso excessivo de inibidores de ácido em crianças. Tudo isso pode predispor às alergias”, completa o especialista, que atua no hospital Pequeno Príncipe, de Curitiba, e é também professor da PUCPR.

Existem mais de 70 alimentos diferentes causadores de alergias alimentares no mundo, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Entre as crianças, 4% a 6% delas têm alguma alergia alimentar e, embora a prevalência reduza entre os adultos, entre 1% a 3% desse público desenvolve a condição. 

O impacto das AGE’s, conforme explica o médico Herberto José Chong Neto, está no microbioma, ou na flora intestinal, como era mais conhecido:
“Há uma relação direta da qualidade e diversidade das bactérias do trato gastrointestinal com o aparecimento das doenças alérgicas. O que sabemos hoje é que, se eu tenho uma má alimentação, com poucos nutrientes, eu modifico a microbiota intestinal, deixando menos diversificada. Isso facilita a penetração de alérgenos pelo trato gastrointestinal, sensibilizando a pessoa e tornando-a alérgica”, explica o diretor da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Abra menos pacotes

Para proteger a própria saúde, e a dos familiares, o especialista Herberto José Chong Neto sugere a seguinte ação: preste atenção na quantidade de pacotes que você está abrindo.

“Quantos pacotes você abre para comer durante a semana? São muitos? Isso significa que você está comendo muito alimento processado, e não está indo para a cozinha fazer a sua própria refeição. Se você está abrindo o pacote, o alimento já foi preparado, passou por modificações, e isso impacta na qualidade nutricional e vai mudar as bactérias do intestino”, explica o médico.

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