Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

A galinha que ajuda pacientes com paralisias e deficiências a se recuperarem melhor

Amanda Milléo
25/07/2018 13:03
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João Arthur Kaminski Oliveira, de 18 anos, é um dos pacientes que se beneficia da pet terapia com a galinha Laila (Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo) | Leticia Akemi

De todos os lugares onde se pode imaginar encontrar uma galinha, uma clínica de recuperação neurológica no meio da cidade não é a primeira opção – mas é o que acontece em Curitiba. Laila, a galinha de dois anos, “trabalha” como co-terapeuta desde agosto do ano passado, beneficiando o tratamento de crianças e adultos com paralisias cerebrais, síndrome do espectro autista, entre outras condições.
Por ser bem calma e dócil, a tutora Janaina Ribeiro de Souza percebeu que Laila poderia fazer mais do que ciscar o quintal e botar ovos. “Eu tinha quatro galinhas, que peguei para ficar no quintal mesmo, e eu percebi que a Laila era a mais mansa. Como eu já levava meus cachorros para a mesma atividade de pet terapia, sugeri a galinha. Ela passou por várias etapas de avaliação, para confirmar que não era agressiva, que não tinha medo e deu certo”, relata a pet sitter de 30 anos.
Laila fica tão relaxada durante os encontros com pacientes que, certa vez, depois da atividade, voltou para casa em uma cesta botando ovos. “Ela sempre foi socializada com outros animais, desde franguinha. Eu tenho 15 cachorros, sete ratos, duas galinhas (as outras duas faleceram) e um marreco, e muitos deles atuam na pet terapia também”, explica a tutora, que leva Laila para as atividades a cada 15 dias, em média.
(Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo)
(Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo)

Coração com mais saúde na presença da Laila

Além dos benefícios comprovados do contato com animais para a saúde fisiológica, como redução da pressão cardíaca nos primeiros 15 minutos de contato, relaxamento e diminuição do estresse, Laila faz mais. Convocada pela primeira vez para mostrar a uma pessoa deficiente visual como uma galinha se comportava, Laila encantou todos na clínica CERNE – Centro de Excelência em Recuperação Neurológica, um dos locais onde atua.
“Ao paciente com deficiência visual, ela mostrou um pouco de como o mundo funciona. Mas ela encantou os demais, que também quiseram entrar em contato, até mesmo aqueles que tinham medo de cachorros ou dos outros animais”, relata Manuella Balliana Maciel, psicóloga do CERNE e responsável pelo projeto de terapias com animais.
Por ser um animal que dificilmente a pessoa terá contato – a não ser que visite uma fazenda ou chácara fora da cidade -, Laila permite às crianças e adultos um contato mais próximo com a vida do campo. Assim como com os cachorros, a galinha também cria uma ponte entre o paciente e o meio social.
“O paciente pode não criar um vínculo imediato com a gente, como no caso do espectro autista, mas a grande maioria cria com os animais. Eles percebem o animal interagindo com as outras pessoas e passam a interagir também. Os pets também ajudam a quebrar a rotina das atividades na clínica, que chega a ser de quatro horas diárias para o paciente”, explica a psicóloga.
(Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo)
(Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo)

Movimentos certeiros

Cachorros, galinhas, cavalos, ratos, jabutis são todos animais que, desde que avaliados, podem se transformar em parceiros de terapias, conforme explica Ana Lúcia Lacerda Michelotto, psicopedagoga da PUCPR e voluntária do Pequeno Cotolengo.
“Se quiser trabalhar a função motora, por exemplo, você cria um circuito com alguns obstáculos e pede para a pessoa passar por ele, em companhia do animal. Alimentação, higiene, escovação, tudo que é do bem estar do animal consegue ser trabalhado nas terapias”, reforça a psicopedagoga, que trabalhou durante muitos anos com os equinos, mas hoje tem um cachorro e um jabuti atuando como co-terapeutas.
“Ele tem mais de 50 anos e ele me acompanha às vezes. Lógico que a interação é bem diferente do que com o cachorro, visto que ele não interage igual. Mas é interessante para a questão sensorial e até de entender como vive um jabuti, que ele se encolhe e se esconde bastante”, relata Michelotto.
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