Saúde e Bem-Estar

Alerta aos avós: mimos para os netos têm limites

Vivian Faria, especial para a Gazeta do Povo
11/03/2016 22:00
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Foto: BigStock

Que atire a primeira pedra a avó e o avô que nunca cederam a uma vontade de um neto, mesmo sabendo que seus filhos, pais da criança em questão, não aprovariam. Pode ter sido um doce antes do almoço, um filme na televisão até mais tarde ou um dinheirinho extra quando toda a mesada foi gasta antes mesmo do meio do mês.
São agrados aparentemente inocentes, mas que, em excesso, podem prejudicar a educação e o desenvolvimento social da criança. “O mimo excessivo impede a criança de aprender a lidar com frustrações, distanciando-a do mundo real, no qual nem sempre os desejos magicamente são atendidos”, alerta a professora de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Thaise Löhr-Tacla.
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Por isso, mesmo que os avós exerçam um papel coadjuvante (o que depende do contexto familiar) na educação da criança e pensem que faz parte de suas funções mimar os netos, a “mimação” deve ser feita com parcimônia, mantendo a coerência com a orientação dos pais. “Se na casa dos avós eles ‘liberam geral’, bagunçam as ordens na cabeça das crianças e criam confusões do tipo: ‘ah, mas na casa do vovô eu posso’”, diz o psicólogo especialista em gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) Guilherme Falcão.
No dia a dia, o especialista ressalta que doces e balinhas até podem ser dados (de vez em quando!), até porque promovem uma maior cumplicidade entre avós e netos, mas o avô também deve incentivar o neto de comer a salada, se os pais estão tentando incluir o prato na dieta dele. O mesmo vale para as tarefas escolares, que devem ser feitas pela criança, e para o período de uso de tecnologias e redes sociais, entre outras regras.
Diálogo
Caso os avós questionem alguma norma imposta aos netos, isso deverá ser conversado diretamente com os pais da criança. “Eles podem explicar o ponto de vista deles, porém não na presença da criança”, afirma Thaise. Para que a conversa sobre a educação dos netos flua sem problemas, é preciso, primeiramente, que pais e avós saibam quais os seus papeis na educação das crianças.
Se os pais forem os educadores primários, cabe a eles a decisão final sobre regras e limites, mas isso não faz deles “donos da verdade”, por isso devem considerar a experiência dos avós, assim como o olhar distanciado deles (já que, muitas vezes, não convivem com a criança diariamente).
Outra recomendação é evitar que a conversa aconteça apenas com um dos pais e, se não for possível, evitar que seja entre sogros e nora/genro. “Se a avó é mãe do pai, é melhor que a conversa seja entre os dois, para não gerar outro tipo de problema familiar”, diz Falcão.
Relação que faz bem
Com ou sem mimos, um relacionamento saudável entre avós e netos é importante porque os mais velhos passam segurança e carinho às crianças, mas de uma forma mais “relaxada” do que os pais. “É um relacionamento gostoso pela liberdade que os pequenos têm com os avós – e que nem sempre têm com os pais. É um relacionamento de amadurecimento, porque tem uma distância de gerações muito grande e eles precisam ‘se afinar’”, diz o psicólogo Guilherme Falcão. Para os avós, além da nova oportunidade de acompanhar o desenvolvimento de uma criança, os netos trazem orgulho, bem-estar, maior conexão com ‘o mundo moderno’ e novos aprendizados. Tudo isso contribui para uma vida mais feliz e saudável.