Saúde e Bem-Estar

O que estressa os idosos?

Amanda Milléo
25/03/2016 11:00
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As razões que levam os idosos a se estressarem são basicamente as mesmas em todos os lugares do mundo. Aposentadoria, morte de entes queridos, mudanças de ambiente, alteração de papeis sociais e o impacto financeiro de parar de trabalhar são as cinco principais. Sugerir uma viagem para o idoso com o objetivo de aliviar esse estresse, porém, pode não ser a melhor ideia, de acordo com Ricardo Pocinho, coordenador de pós-graduação em Envelhecimento Ativo e Saudável, da Escola Superior de Tecnologia de Coimbra, Portugal. Isso porque sair da zona de conforto nessa idade pode, se não houver um bom preparo, causar mais mal do que bem-estar.
Em entrevista à Gazeta do Povo, o pesquisador português cita ainda a importância de estimular nos idosos a procurarem atividades de lazer que tragam uma interação social qualificada, isso sim capaz de diminuir a percepção do estresse na terceira idade.
A percepção dos fatores que geram estresse muda depois dos 60 anos? Ou são os fatores que mudam?
É do conhecimento científico que o aumento no tempo de vida que se tem verificado nos últimos anos nem sempre é acompanhado por um aumento na qualidade de vida. Muitas vezes, constata-se a redução do status socioeconômico e até mesmo da condição psicológica da pessoa. A perspectiva na qualidade de vida sofre algumas alterações nessa transição. O que antes, na meia idade, a pessoa via como qualidade de vida no seu tempo de velhice, depois que a terceira idade chega, a expectativa nem sempre se cumpre. O tempo livre, devido a aposentadoria, leva a um estado depressivo, há uma redução da mobilidade e percebe que as tecnologias dominam o cotidiano. Nem sempre o idoso consegue fechar uma etapa da vida com confiança, assim não começa o novo ciclo da melhor maneira possível.
Como o idoso consegue iniciar na terceira idade da melhor maneira possível?
A forma como o idoso entende os agentes de estresse (aposentadoria, morte de entes queridos, mudança de ambientes) é um dos determinantes de como ele será afetado pelo estresse. É importante também lembrar que o envelhecimento não tem uma relação direta com a idade cronológica. O idoso deve estar bem psicologicamente com a evolução da idade para que ele possa realmente amadurecer.
Uma das suas áreas de estudo são as universidades abertas à terceira idade. Como elas contribuem na vida dos idosos?
As universidades sêniores são excelentes promotores de bem-estar e satisfação com a vida, segundo o estudo que conduzi entre 2013 e 2014. As pessoas que frequentam essas universidades têm menos solidão, e experimentam em menor escala os sintomas depressivos e a ansiedade. Eu diria que elas são um fantástico elemento de suporte ao chamado “envelhecimento ativo”, pois ajudam a manter as capacidades cognitivas, permitem a manutenção dos papeis sociais e promovem a mobilidade e funcionalidade do idoso.
Quais são as principais atividades de lazer que os idosos mais frequentam, a partir dos seus estudos?
Os participantes identificaram como principais atividades as caracterizadas no estudo como “sociais”. Podemos entender, então, que as pessoas com mais idade preferem as atividades realizadas em grupo, como esses encontros nas universidades.
Qual é o impacto do turismo na qualidade de vida dos idosos?
Trata-se de uma atividade de lazer, de tempo livre. Pretende ocupar o chamado “tempo sem ocupação”, que é característico dessa etapa da vida, e promove uma atitude de ação e de expansão das relações interpessoais do idoso. No entanto, o turismo sênior pode não ajudar na melhora da qualidade de vida. Fazer turismo implica uma saída da sua área de conforto, e isso pode provocar um mal-estar na pessoa. Antes de viajar, os idosos precisam ter confiança em si mesmos, e isso exige que eles estejam bem psicologicamente. Só assim terão ganhos reais com a viagem.