Saúde e Bem-Estar

Quando a falha na memória é normal?

Amanda Milléo
14/03/2016 14:34
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Foto: Bigstock

A diferença entre uma falha de memória normal e outra grave é muito sutil. Às vezes não se vê de primeira e apenas quem é próximo da pessoa e a conhece bem sabe quando um comportamento que lhe era característico muda. Esquecer uma data ou o nome de algum personagem famoso só é preocupante se a pessoa era reconhecida pela memória de datas e nomes. Mesmo assim, acreditar que qualquer falha na lembrança é “normal da idade” pode ser perigoso.
Esquecimento patológico
A falha de memória chamada episódica, quando o idoso se esquece de um fato em um tempo certo, como o que fizeram no último carnaval, onde se reuniram no fim de ano, para onde viajaram nas últimas férias, é mais preocupante do que a falha de memória de trabalho, como se esquecer do que ia fazer no meio do caminho. Isso porque o estresse e a ansiedade influenciam muito esse tipo de memória, gerando um problema mais de falta de atenção.
A demência, um dos sintomas do Alzheimer, influencia principalmente no armazenamento das informações, não apenas na atenção, e pode alternar entre períodos de lucidez e outros com a sensação de estar perdido. Esses sinais de perda de memória grave são sutis e podem demorar a acontecer novamente, porque o processo degenerativo ocorre a partir de uma alteração na substância química acetilcolina, presente no cérebro, que também oscila.
O familiar deve se preocupar quando a pessoa repetir informações constantemente, esquecer-se de eventos, como ir ao dentista, médico, de forma frequente, perder-se no caminho para casa ou trabalho, atrasar o pagamento de contas – se essa não era uma característica prévia – e mostrar dificuldades em preparar refeições, pois não consegue se lembrar do que fazer primeiro. Mas, principalmente, o filho ou cônjuge devem ficar atentos se há alguma mudança importante no comportamento. A mãe nunca fica longe da bolsa, mas resolve deixar em algum canto em uma festa? O pai teima que estamos em 1996, apesar de os filhos chamarem a atenção para o ano correto? O avô esqueceu onde foram nas últimas férias? Fique de olho.

60 anos em diante, pessoas com perda de memória e com histórico de estresse, que não diminuiu mesmo com medicação, geram preocupação entre os especialistas.

Testes
Para identificar se a pessoa está no início de um processo neurodegenerativo mais grave, é preciso passar por uma avaliação neuropsicológica. Neste processo, o médico geriatra ou neurologista irá avaliar os seguintes aspectos:
Histórico da memória do paciente. Saber se a pessoa era reconhecida pela memória para datas, nomes, situações e fatos históricos ou se tinha uma memória normal para essas questões. Isso dará ao médico um parâmetro de como ela era antes e como está agora.
– Doenças crônicas. Hipertensão, diabete e problemas de apneia do sono, quando não controlados, podem causar alterações na memória.
– Testes de atenção. Há diferentes tipos de atenção e memória, e todas podem ser testadas para um diagnóstico completo, como teste de atenção dividida, seletiva e dos diferentes tipos de memória.
Esquecer por esquecer
Lapsos de memória são comuns na terceira idade e só devem ser preocupantes se aumentarem a frequência. Esquecer-se das chaves de vez em quando, ou do que faria primeiro não exigem muita preocupação dos familiares, pois são falhas relacionadas principalmente ao estresse, ansiedade e falta de atenção.
O idoso sabe que à tarde deve ir ao banco, mercado, consultório do médico e na casa da filha, mas acaba se perdendo entre a sequência de qual ir primeiro, por exemplo, embora consiga terminar o trajeto. Se as falhas não atrapalham no dia a dia, não há problemas. Uma pessoa com doença neurológica grave não conseguiria lembrar nem onde deveria ir ou por que.
Embora sejam lapsos mais leves, eles também podem estar presentes em doenças neurológicas, por isso a importância em fazer os testes neuropsicológicos ao primeiro sinal. Exames de sangue, ressonâncias e outros exames conseguem excluir outras doenças que também influenciam na memória. Falta de vitamina B12 pode causar sintomas semelhantes ao Alzheimer, por exemplo.
Fontes: Gislaine Gil, neuropsicóloga, titulada em gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e coordenadora do programa Cérebro Ativo, do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo; Rodrigo Rizek Schultz, diretor científico da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAZ).
Apneia e demência – Ter uma péssima noite de sono – por muitos anos – pode desencadear um quadro de demência. Pessoas com apneia, quando ocorre uma obstrução da respiração durante o sono, lesionam as células nervosas, que no futuro levam a problemas de memória, de linguagem, de planejamento e um quadro de demência. Pessoas com deficiência de vitamina B12 também podem ter sintomas parecidos.
Alzheimer não é só falta de memória – O Mal de Alzheimer não se traduz apenas na perda de memória. Problemas na linguagem, quando a pessoa tem dificuldades na leitura, em achar as palavras certas, e dificuldade de localização no espaço também fazem parte dos sintomas da doença.