Saúde e Bem-Estar

Saiba como conviver com idosos de uma maneira saudável

Vivian Faria
18/04/2015 15:10
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Liliane Poletto com sua mãe, Tereza, de 73 anos: respeito, atenção e bom humor são as chaves para o bom relacionamento entre elas. Foto: Mel Gabardo/Gazeta do Povo

“Você quer conhecer o hospital de fraturas?”, brinca Liliane Poletto quando sua mãe, Tereza, resolve subir em banquinhos ou fazer alguma atividade que possa resultar numa queda. Para Liliane, o tom de brincadeira é a melhor forma de alertar a mãe, que chegou aos 73 anos, sobre situações que representam risco sem causar conflitos – o que nem sempre é possível.
Apesar das eventuais divergências, o relacionamento das duas é próximo e amigável, o que especialistas em geriatria chamam de relação intergeracional saudável, muito importante para o bem-estar do idoso. “O apoio da família reforça bastante a autoestima e promove a saúde mental e física do idoso ”, explica o médico e diretor do conselho consultivo da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia Rubens de Fraga Jr.
Ainda assim, há idosos, filhos e netos que vivem em pé de guerra, seja por atividades de risco, dificuldades para entender-se, lidar com a tecnologia ou qualquer motivo que evidencie que cada um pertence a uma geração. Parte dessa tensão pode ser explicada pelo culto ao jovem. “Vivemos numa sociedade que idolatra a juventude, e existem jovens que pensam que o idoso não tem lugar no mundo, que negam a contribuição deles para a sociedade”, afirma Fraga Jr. Por isso, é importante quebrar os estereótipos negativos ligados à velhice e passar a olhar para o idoso como uma pessoa experiente, que contribui para a sociedade.
Isso, porém, é insuficiente, porque, segundo os especialistas, a culpa pelos conflitos intergeracionais deve ser dividida entre todos. “Quando os conflitos existem, eles geralmente têm corresponsabilidade. Por parte do jovem, você pode ter impaciência, falta de amor, falta de tempo. Do outro lado, você tem o idoso, que pode estar ocioso e quer receber mais atenção”, exemplifica o professor de psicologia da PUCPR Cloves Amorim.
Coração aberto
Para melhorar os relacionamentos, a coordenadora de psicologia do Hospital do Idoso Denise Ribas Jamur defende que tanto os mais velhos quanto os mais novos precisam estar dispostos a entender o outro. “Por isso, a comunicação é extremamente importante, seja por conta própria ou com intervenção de profissionais”, diz. Além da comunicação e da tolerância, a dica dos especialistas é criar momentos de convivência saudável em rede. “As experiências em rede – com avós, pais, neto, tio – diluem os polos de conflito”, explica Amorim. “E se você tem uma convivência familiar baseada no respeito e na tolerância, é alta a probabilidade de que os membros dessa família repitam esse comportamento em outros contextos.”
Essa convivência não precisa se restringir a almoços nos finais de semana. Outras sugestões são a organização de álbuns de fotos antigas ou visitas a lugares do passado, que resgatam e valorizam a história da pessoa da terceira idade.
PARA REFLETIR
Há questões que podem levar a conflitos entre gerações.  Listamos algumas a seguir:
Valores
Em geral, gerações diferentes percebem questões como trabalho, casamento e religião de forma diferente. Nesse caso, tolerância e respeito evitam os conflitos.
Tecnologia
“O idoso é capaz de aprender, mas de uma forma mais lenta, então ele precisa de mais repetições e ajuda de pessoas pacientes”, diz a psicóloga Denise Ribas Jamur. Além disso, os mais velhos precisam se esforçar para entender a relação do jovem com a tecnologia.
Autonomia
A orientação é que o idoso se mantenha o mais ativo possível, porém, em caso de risco, ele deve abandonar algumas atividades, como dirigir, cozinhar ou sair desacompanhado. Para isso, é necessário um processo de conscientização para que ele não se sinta incapaz, saiba pedir ajuda e busque outras atividades.
Presença
O convívio estreita os laços entre as pessoas e satisfaz a necessidade de atenção do idoso. Liliane e Tereza, por exemplo, moram no mesmo prédio — cada uma em seu apartamento — há quatro anos e se veem diariamente. Isso contribuiu para a proximidade entre elas e deixou Liliane mais despreocupada com relação ao bem-estar da mãe, sem que elas perdessem seus respectivos espaços.