Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Dia Mundial do Mal de Parkinson: tremores não são os primeiros sinais da doença

Amanda Milléo
11/04/2018 07:00
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Nereu Mendes, de 62 anos, descobriu o mal de Parkinson há um mês e, de lá para cá, tem lutado para aprender a conviver com os sintomas (Foto: Daniel Caron / Gazeta do Povo)

Poucas pessoas perceberam quando Nereu Cesar Bobroff Mendes não conseguia mais se alimentar direito. Até mesmo ele demorou a se dar conta de que aquele tremor na hora de pegar o garfo não era normal. Foi o sogro, médico aposentado, que sugeriu para que procurasse um neurologista. Dias depois, o diagnóstico: mal de Parkinson.
Nereu tem 62 anos, idade em que a prevalência da condição neurodegenerativa avança (hoje é lembrado o Dia Mundial da doença), embora ele não esperasse por isso. Sem ninguém com o mesmo diagnóstico na família, a doença nem passava pela sua cabeça e a evolução dos sintomas, em questão de meses, fez com que o Parkinson o pegasse de surpresa.
“Foi uma coisa de seis meses. De repente me vi impossibilitado de trabalhar, eu trabalhava em fazenda, com cavalos, e o psicológico abalou. Foi uma mudança muito brusca no início. Mas eu estou bem, graças à minha esposa, que tem força e garra. Tem dias que estou bem, no outro amanheço triste, choro bastante, mas estou lutando contra isso”, relata Mendes, que se dedica todos os dias aos exercícios físicos e, semanalmente, à fisioterapia.

“Os exercícios alongam a musculatura, porque o cérebro deixa de enviar os comandos certos para a musculatura. Ou, se envia, envia com falhas. Então você tem que compensar, porque o corpo está acostumado com a rotina de andar, sentar, mas o cérebro erra os comandos. Emagreci 12 kg em três meses”, diz.

Mendes relata que a doença trouxe dificuldades para escrever na letra cursiva, comer e se locomover. “Também comecei a ter um pouco de problemas na fala. Você vai ver, às vezes eu dou uma pausada. Mas comecei um medicamento, três comprimidos todos os dias, e tive uma melhora”, explica.
(Foto: Daniel Caron / Gazeta do Povo)
(Foto: Daniel Caron / Gazeta do Povo)
“Pesquisar sobre os sintomas na Internet me ajudou muito. Ali eu descobri as associações que, se precisar, eles dão apoio. E descobri uma série de regalias, como não pagar mais o IPVA [Imposto sobre propriedade de veículos automotores], comprar um carro livre de imposto. Estou aprendendo tudo agora.”

Primeiros sinais

Quando se pensa em Parkinson, a imagem dos tremores nas mãos sempre surge, mas esses não são os primeiros sinais de que a condição está se instaurando. Não saber disso posterga o diagnóstico de muitas pessoas, o que prejudica a qualidade de vida dos pacientes.
Embora a doença não tenha cura e nem seja possível evitar o avanço de todos os sintomas, aprender a lidar com as limitações logo no início é essencial para se adaptar à nova vida.
“Usualmente, os sintomas não motores são os primeiros a aparecer, como alterações no sono, constipação do intestino, pode afetar inclusive o olfato e levar à depressão. E esses sinais podem surgir durante anos até que se desenvolvam os motores, como tremor, enrijecimento das articulações, lentidão de movimento, problemas no equilíbrio e postura”, explica Henrique Ballalai Ferraz, médico doutor em neurologia e professor adjunto livre-docente da Universidade Federal de São Paulo.
O ritmo de evolução dos sintomas varia a cada pessoa, mas o Parkinson tende a progredir com o tempo. Caso a pessoa faça uso dos medicamentos adequados, podem controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida.
“O período inicial da doença é quando as pessoas respondem muito bem aos medicamentos. O principal tratamento hoje é com uma substância que se metaboliza em dopamina no organismo e consegue controlar bem a doença perto de cinco anos. Mas é variável. Pessoas com três anos de Parkinson podem já estar mal, outras com cinco estão relativamente bem”, reforça Murilo Sousa de Meneses, médico neurocirurgião e chefe da unidade de neurocirurgia funcional do INC.
(Foto: Daniel Caron / Gazeta do Povo)
(Foto: Daniel Caron / Gazeta do Povo)

Cirurgia: quando é indicada?

Quando os medicamentos não são mais capazes de ajudar o paciente, há ainda a possibilidade cirúrgica para alguns casos. “A DBS, ou estimulação cerebral profunda, é uma técnica que faz a implantação de eletrodos no núcleo cerebral desregulado. Esses eletrodos são conectados a um gerador que envia impulsos para inibir aqueles desregulados”, explica Meneses.

1% da população mundial, a partir dos 55 anos, desenvolverá o mal de Parkinson. Apesar de ter uma relação genética e hereditária, apenas 20% a 30% dos pacientes desenvolvem o Parkinson por essa causa. A causa real da doença ainda não está completamente clara.

Fique atento:

Os primeiros sinais do Mal de Parkinson nem sempre são os tremores. Preste atenção quando perceber:
  • Alteração no sono;
  • Fadiga, falta de equilíbrio ou tontura;
  • Sinais de depressão;
  • Confusão mental, amnésia, dificuldades em pensar e compreender;
  • Dificuldade na fala;
  • Perda de olfato ou sinais de que o sentido está comprometido;
  • Incontinência urinária;
  • Na musculatura: instabilidade, rigidez, complicações para se locomover.
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