Saúde e Bem-Estar

Cecília Aimée Brandão, especial para a Gazeta do Povo

Médicos apontam 5 ações desnecessárias realizadas em UTIs

Cecília Aimée Brandão, especial para a Gazeta do Povo
22/03/2019 17:00
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Estas medidas evitam o excesso e também a utilização de ações desnecessárias. Foto: Bigstock.

O uso de antibióticos, sedação, contenção ao leito, dispositivos invasivos e suporte avançado de vida em pacientes das unidades de terapia intensiva (UTI) está na mira de um movimento iniciado nos Estados Unidos, o Choosing Wisely, que busca a racionalização dos tratamentos e o bem-estar do paciente.
No Brasil, um manifesto assinado pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira, a AMIB, inspirado no movimento norte-americano, procura aplicar intervenções e procedimentos efetivamente indicados para cada paciente crítico e que não os coloque em risco.

“O objetivo é aumentar a segurança do paciente e diminuir a possibilidade de eventos adversos e mortes relacionadas aos serviços de saúde prestados durante o internamento”, explica o professor de Medicina da Universidade Federal do Paraná e Presidente da Comissão de Formação Intensiva da AMIB, Álvaro Réa Neto.

“Estas medidas evitam o excesso e também a utilização de ações desnecessárias e não essenciais. Além de mais segurança para o paciente, traz mais economia e eficiência”, completa o professor e médico.
Manifesto recomenda revisão de cinco ações para pacientes críticos. Foto: Bigstock.
Manifesto recomenda revisão de cinco ações para pacientes críticos. Foto: Bigstock.

As cinco frentes

São cinco ações a serem atacadas: a primeira delas, não usar ou manter antibióticos desnecessariamente. Esta frente é defendida no manifesto por causa do desenvolvimento cada vez maior de bactérias multirresistentes, pois as bactérias se desenvolvem em uma agilidade muito maior do que as pesquisas e medicamentos para combatê-las.
O uso racional do antibiótico faz com que o paciente seja tratado de maneira adequada e, por consequência, a vida útil do medicamento passa a ser muito maior.
“Usando um antibiótico de maneira indiscriminada, sua eficiência diminui, pois a resistência das bactérias é aumentada”, explica o intensivista do Hospital Vita Batel, Rafael Deucher. De acordo com as diretrizes da AMIB, é essencial limitar o alcance do antibiótico assim que os exames detectarem quais os micro-organismos responsáveis pela infecção.
A segunda pauta defende a não utilização de sedação excessiva – ela deve ser limitada aos pacientes com indicação e usando a menor quantidade de sedativos possível, para manter o conforto do paciente.

“A sedação é indicada para algumas classes de paciente, como aqueles que usam respiradores, que têm traumatismos cranianos graves ou com doenças pulmonares muito avançadas. Hoje a maioria dos pacientes internados em UTI já fica sem sedação”, esclarece o intensivista do Hospital Vita.

O terceiro aspecto abordado orienta não manter o paciente imobilizado no leito, a não ser que seja essa a recomendação explícita. Deixar o paciente imóvel está diretamente associado ao surgimento de complicações e do tempo de permanência no hospital.
Ela deve ser usada, por exemplo, em pacientes que estejam em delírio, o que causa uma agitação psicomotora excessiva e perigosa.

“Usamos contenção farmacológica e física para a segurança e proteção do paciente, pois uma queda de leito, por exemplo, traz malefícios para o paciente e sua recuperação”, diz Rafael Deucher.

A quarta orientação da AMIB diz respeito a não utilizar ou manter dispositivos invasivos desnecessariamente, como a entubação, sondas nasogástricas e urinárias, e drenos em geral, devem ser usados seguindo critérios objetivos, pois o uso destes dispositivos está associado à incidência de infecções que poderiam ser evitadas caso o paciente não estivesse usando estes suportes.
Por último, está o uso de suporte avançado de vida. A recomendação da AMIB é que pacientes sem possibilidade de recuperação não usem medidas exageradas para manter a vida, “as famílias dos pacientes são envolvidas no processo e o objetivo é que não seja prolongado o sofrimento de uma pessoa em fase terminal de uma doença”, explica o médico do Hospital Vita.

Customizar o tratamento

Para o futuro do cuidado dos pacientes críticos, na opinião do intensivista Rafael Deucher, a tendência é a customização do tratamento, seguindo grandes diretrizes que promovam a segurança e boas práticas, “inicialmente o tratamento deve seguir os protocolos, mas o olhar deve ser para cada paciente, de forma individualizada, respeitando seu histórico e condições particulares”, indica Deucher.
O presidente da comissão da AMIB, Álvaro Réa Neto, explica que todas as áreas de tratamento na medicina estão envolvidas na definição de medidas semelhantes, “é uma tendência mundial e o paciente terá cada vez mais segurança”, conclui.

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