Saúde e Bem-Estar

Guilherme Grandi e Isadora Rupp

Menina de sete anos morre após fazer o “desafio do desodorante”

Guilherme Grandi e Isadora Rupp
07/02/2018 18:04
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Adrielly tinha sete anos e teve uma parada cardiorrespiratória. Foto: Reprodução/Inatagram.

Uma menina de sete anos, de São Bernardo do Campo (SP), morreu no último sábado (3) depois de inalar desodorante aerosol — segundo a família, Adrielly Gonçalves estava fazendo o “desafio do desodorante”.
O caso gera alerta: basta uma busca rápida no Google para saber que este desafio — que consiste em inalar o desodorante e manter a boca fechada pelo máximo de tempo — está sendo disseminado e incentivado pelas redes sociais e plataformas de vídeos.
Tanto quanto em outros modismos da internet, este também precisa estar no radar da família. “Já tivemos coisas como a Baleia Azul, entre outros, da circulação de informações sem qualquer qualificação de acesso, e que uma criança de 7 anos não conseguirá processar direito isso”, explica o psicólogo Mario Lunardi.
Dados do Instituto Psicoinfo, especializado no transtorno de dependência da internet, mostram que jovens que participam destes desafios são expostos, em média, seis vezes a um conteúdo semelhante quando estão navegando na grande rede. “As crianças, os jovens, não podem entrar nesse mundo da internet sem o acompanhamento dos pais. É preciso ter um diálogo, encontrar uma maneira para criar essa confiança”, ressalta Lunardi.
Além da conversa, algumas atitudes preventivas são importantes como deixar o computador que a criança utiliza em um local da casa que toda a família possa monitorar, usar sistemas de restrição de acesso a determinados conteúdos e não dar smartphones de presente tão cedo. “Quanto mais tarde, melhor”, recomenda o psicólogo.
Por outro lado, se o presente já foi dado, Mario Lunardi recomenda que os pais chamem os filhos para uma conversa e expliquem a necessidade de se estabelecer alguns limites de uso. “A criança sempre vai pedir mais, mais liberdade, mais autonomia, mas os pais precisam mostrar que ela não pode ter tudo na hora que quer, que é para o bem dela estabelecer estes limites”, diz.

Risco aumentado

De acordo com o clínico-geral do Hospital Vita, Luiz Carneiro, crianças têm mais predisposição à intoxicação, seja por desodorantes, remédios e outras substâncias químicas, por conta do tamanho e peso. “E isso gera um efeito maior no organismo”, explica.  Ainda segundo o médico, é possível que a menina já tivesse algum problema respiratório ou alergia, o que pode ter facilitado o óbito.
De acordo com a família, Adrielly  estava na casa de uma vizinha, enquanto a mãe trabalhava — a menina, que desmaiou após a inalação foi levada a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da cidade, mas teve uma parada cardíaca irreversível.
A Secretaria de Saúde de São Bernardo do Campo informou, em nota à imprensa, que os médicos realizaram manobras de socorro para reanimar a criança, mas ela não resistiu. Segundo o órgão, Adrielly chegou à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) no último sábado, às 4 horas da manhã, já com parada cardiorrespiratória em estado grave. O Instituto Médio Legal (IML) local não informou mais detalhes de como a prática teria causado a parada cardiorrespiratória.
Em Curitiba, a Secretaria Municipal de Saúde informou, por meio da assessoria de imprensa, que ainda não registrou nenhum caso ligado ao “desafio do desodorante”.

Campanha alerta para os perigos

No dia do velório de Adrielly, a família publicou um texto alertando sobre o desafio do desodorante. A postagem já teve mais de 17 mil compartilhamentos.

Mais desafios

Além da prática de inalar o produto diretamente do frasco para a boca, há também outras versões propagadas na internet — uma delas incentiva o “congelamento” de partes do corpo com o spray.
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