Saúde e Bem-Estar

Camila Petry Feiler, especial para Gazeta do Povo

Meninas de até dois anos são as principais vítimas de violência no Paraná

Camila Petry Feiler, especial para Gazeta do Povo
18/05/2017 13:35
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Foto: Bigstock

As meninas são as maiores vítimas de violência no Paraná. Números dos atendimentos realizados no ano passado no Hospital Pequeno Príncipe, referência no estado sobre o tema, mostram que do total, 61,2% eram meninas e 30% das crianças tinham até dois anos de idade. “Acreditamos que essa violência na primeira infância acontece porque é um momento em que a criança não vai conseguir se defender”, explica a psicóloga Daniela Prestes. O HPP divulgou os dados nesta quinta-feira, Dia Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes.
Para a especialista, além de não ter habilidade motora para escapar da agressão, a criança com até dois anos não vai conseguir relatar a situação realisticamente. “Quando isso acontece, é da maneira que ela conseguir. Ainda é uma fase que a criança permeia a realidade com a fantasia e as pessoas acham que ela está inventando”, afirma.
Sobre os tipos de violência, 54,8% dos casos atendidos no Pequeno Príncipe em 2016 foram de agressão sexual; 26,6%, negligência; e 15,6%, física. A reincidência também é alta: em 29,1% dos casos, não era a primeira vez que a criança sofria violência. E em relação às cidades onde os casos aconteceram, 44,1% deles eram de Curitiba; 55,2% de outros municípios do Paraná; e 0,7% de outros Estados.
Perigo está dentro de casa
Outro dado alarmante do Hospital Pequeno Príncipe é que a maioria dos casos de violência  aconteceu dentro de casa. Em 71,1% dos atendimentos a violência ocorreu no ambiente da família, sendo que 52% dos agressores eram a mãe, o pai, amigos ou o padrasto.
De acordo com Daniela, os filhos mais velhos são as maiores vítimas, já que os pais ainda estão se apropriando dessa função paterna e materna e perdem a razão quando alguma situação sai do controle.
Outro aspecto que tem influenciado casos de violência, segundo a especialista, são problemas econômicos.  “Com o desemprego, com a privação que as famílias estão passando, as pessoas estão mais intolerantes, mais impacientes, não tendo controles sobre seus impulsos”, diz a psicóloga. Apesar disso, a psicóloga destaca que relações agressivas acontecem em qualquer meio social.
Casos vêm aumentando, denúncias também
Os dados do Pequeno Príncipe mostram ainda que o número de crianças e adolescentes atendidas por sofrerem algum tipo de violência teve um salto do ano de 415 casos em 2015 para 533 casos em 2016, um aumento de 28% . “Penso que talvez o aumento se dê ao fato de as pessoas estarem mais conscientes, estão denunciando mais e sabem onde procurar ajuda”, diz Daniela.
Questão de saúde pública
O Dia Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes é lembrado no dia 18 de maio. Diante da gravidade do tema, o trabalho se torna uma ação que engloba toda a sociedade. Para Daniela, a violência infere no meio familiar e social, já que pode deixar muitas sequelas em várias instâncias da vida da criança e do adolescente. “Acreditamos que uma criança vítima de violência pode ser um adulto agressor no futuro. Se nós nos imbricarmos de reconhecer e atender de forma eficiente, estamos evitando a perpetuação da violência”, afirma.
Ao reconhecer e procurar ajuda, a criança violentada tem a possibilidade de entrar em uma rede de proteção e passa a ser cuidada e orientada, rompendo com o ciclo de violência. Como a denúncia é anônima, qualquer um pode fazer.
Atenção aos sinais
Tanto a criança quanto o adolescente podem dar diferentes sinais. Imediatos ou em longo prazo, essas marcas podem aparecer como hematomas, marca de queimadura, alguma fratura, queda de cabelo, ou ainda como alteração comportamental ou na rotina.
É possível também perceber alteração no sono, com terror noturno, na alimentação, não querendo comer ou desenvolvendo uma compulsão alimentar por ansiedade, e quadros físicos, mas que representam uma questão emocional como vômito, diarreia, febre, taquicardia.
Um declínio no rendimento escolar, crianças comunicativas aparecem introvertidas, não quer sair de casa, medo do convívio social. Ou uma criança apática, tímida, de repente começa a ficar agitada, agressiva. As crianças que estão sofrendo abuso sexual aparecem com comportamento sexualizado, perde o controle sobre as expressões do afeto e repete expressões, carícias e histórias para adultos ou para outras crianças.
“Esses sinais não significam que toda criança que muda o comportamento possa estar sofrendo abuso, mas os sinais com o tempo decorrido com sinais físicos são passíveis de investigação”, diz Daniela.
Denúncia
Para denunciar qualquer situação ou suspeita de violência ou violação de direitos contra crianças e adolescentes, basta ligar um dos três números: 181 (disque-denúncia do governo do Paraná); 100 (disque-denúncia do governo Federal) ou para o 156 (serviço de atendimento ao cidadão da prefeitura de Curitiba).
A ligação é gratuita e pode ser feita de qualquer município do Paraná (menos o da prefeitura de Curitiba). O atendimento funciona 24 horas, todos os dias da semana, com garantia de sigilo das informações e de quem faz a denúncia.
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