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Mesmo que a mulher decida não menstruar, uma coisa ela  não pode abrir mão: a informação sobre o tema. Foto: Bigstock
Mesmo que a mulher decida não menstruar, uma coisa ela não pode abrir mão: a informação sobre o tema. Foto: Bigstock| Foto:

Não é preciso muito para que um comentário nas redes sociais gere discussões mais acaloradas. Certos ou errados, existe apenas uma coisa que pode combater comentários indevidos: a informação. O conhecimento sobre o tema é sempre a melhor resposta. E foram justamente as centenas de solicitações para que o autor de um comentários sobre menstruação se “informasse” que levantou a discussão sobre a necessidade ou não de as mulheres menstruarem “nos dias de hoje”.

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Os comentários em um grupo de mulheres, saúde e comportamento partiram do usuário @gustavaantone04, cuja conta foi desativada depois de centenas de respostas contrárias à posição dele.

“Menstruar é coisa retrô”; entenda por que este comentário causou revolta nas redes

Não. Menstruar não é “coisa de feministas” e nem é “retrô”. A menstruação regular, com fluxo equilibrado, sem perturbações no ciclo e com pouco ou nenhum sintoma de tensão pré-menstrual (TPM) é um evento do organismo feminino absolutamente saudável. Além disso, ela pode revelar algumas condições, funcionando como um verdadeiro termômetro do corpo da mulher.

A menstruação serve de alerta para inúmeras ocorrências. São várias características que se alteram na presença de eventuais pólipos, miomas e hiperplasia do endométrio, por exemplo. Todas essas condições cursam com alterações no sangramento normal”, explica o ginecologista e obstetra Vicente Letti Júnior, membro do corpo clínico, cirurgião e presidente da comissão de ética do Hospital Pilar, com atuação em endoscopia ginecológica.

Porém, apesar de saudável, a menstruação é, para muitas mulheres, um verdadeiro incômodo. E a decisão de parar de menstruar não é, de modo geral, censurada pela comunidade médica.

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Há várias razões que justificam a interrupção da menstruação: por comodidade, escolha pessoal ou em casos selecionados como forma de controle de alguma doença ou condição – como endometriose (uma das primeiras indicações para uso de pílula em esquema contínuo), dor de cabeça relacionada ao período, sangramentos excessivos de várias ordens e até mesmo anemia. Nesses casos, a decisão vai muito além de uma simples questão de conveniência.

Questão histórica

“Historicamente, em algumas culturas a menstruação é vista como algo impuro, rondada por uma série de tabus que foram incutidos ao longo do tempo na mente das pessoas. Isso foi bem observado nos povos latino, anglo-saxão e oriental, por exemplo. As mulheres eram e são educadas para menstruar, como se o sangramento fosse liberar algum tipo de impureza. E muitas ainda refutam a ideia de não menstruar por acharem que dessa maneira não serão “limpas”. Isso não existe”, continua o ginecologista.

Por outro lado, vem crescendo o número de mulheres que opta por decretar o fim “daqueles dias”, sem que se sintam menos femininas com a decisão. Vários sintomas da TPM estão entre os incômodos evitados, tais como mamas inchadas e doloridas, cólicas, dores nas costas, alterações intestinais, irritabilidade, mudanças de humor, dor de cabeça e outros desconfortos – para algumas, até mesmo incapacitantes.

Alternativas

Woman suffers from menstruation pain or stomach ache. Holding her hands on her belly. Woman menstruation problems
Woman suffers from menstruation pain or stomach ache. Holding her hands on her belly. Woman menstruation problems

Não há maneira de cessar a menstruação que não seja através da administração de hormônios. Uma nova geração de hormônios (desogestrel, um derivado sintético da progesterona, de uso oral), na dose correta e com uso contínuo, sem pausa, promove a atrofia do endométrio (a camada mais interna do útero, que se descama na ausência da gravidez e é eliminada na menstruação), suspendendo o sangramento.

O dispositivo intrauterino (DIU), que até alguns anos atrás funcionava apenas como método contraceptivo de barreira, hoje está “impregnado” de um mesmo hormônio que se toma via oral (levonorgestrel) e é programado para liberar diariamente e diretamente no útero uma pequena dose desse hormônio, ininterruptamente por até cinco anos. “Estima-se que até 90% das mulheres não menstruem com o DIU Mirena, como ele é comercialmente conhecido. Para as demais, o fluxo costuma diminuir bastante”, afirma o médico.

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Há ainda as opções de injeção trimestral de derivado da progesterona; implante subcutâneo que libera doses mínimas diárias também de um derivado desse hormônio; e anel vaginal – esse último apresenta particularidades quanto ao uso contínuo e prolongado com a finalidade de evitar a menstruação.

Riscos e benefícios

A utilização de hormônios sempre está associada a riscos e benefícios. Uma das principais dúvidas no consultório médico é quanto ao comprometimento da fertilidade. “Muitos estudos evidenciam que a fertilidade não fica prejudicada depois do uso contínuo de hormônios para parar de menstruar. Porém, o tempo para o retorno da fertilidade após a interrupção do uso da pílula varia de mulher para mulher, sem dano permanente”, observa o ginecologista.

Uma pesquisa encomendada pela empresa Libbs Farmacêutica realizada com 340 mulheres com idades entre 18 e 30 anos, em quatro capitais, apontou que aproximadamente 72% das entrevistadas desconheciam o regime contínuo de contracepção como método para colocar fim à menstruação. Entretanto, 40% delas afirmaram que gostariam de não menstruar para evitar todos os sintomas decorrentes da TPM e do sangramento.

Contraindicação

Woman suffers from menstruation pain or stomach ache. Holding her hands on her belly. Woman menstruation problems
Woman suffers from menstruation pain or stomach ache. Holding her hands on her belly. Woman menstruation problems

Uma vez que não existe outra forma de suprimir a menstruação que não a hormonal, essa decisão é contraindicada a mulheres que, por inúmeras razões, não podem fazer uso de medicamento contraceptivo. Entre elas estão pacientes fumantes, com história de câncer de mama e outras neoplasias ginecológicas, varizes severas, hipertensão, predisposição à formação de trombos, epilepsia, insuficiência hepática e renal, distúrbios de coagulação e diabetes.

Para todas elas, o melhor é continuar menstruando. “Há uma série de alternativas para amenizar e melhorar os incômodos da menstruação, como esportes, mudanças na alimentação, técnicas de relaxamento e até mesmo dedicação a uma atividade lúdica, por exemplo. Para tratar os sinais da TPM, toda paciente precisa de uma abordagem individualizada”, assinala Letti.

Se informar é sempre a melhor decisão

O ginecologista Elsimar Coutinho, autor do livro “Menstruação – A Sangria Inútil”, há décadas é lembrado por ser um defensor da interrupção da menstruação. Uma de suas justificativas reside no fato de que a mulher que para de menstruar ganha mais disposição e não desenvolve doenças esterilizantes como endometriose e infecções pélvicas.

Partindo do princípio de que a menstruação não é um evento imprescindível, a ciência aponta que menstruar “demais” ao longo da vida é pior do que menstruar “de menos”, uma vez que, quanto maior a exposição do organismo às variações hormonais do período (notadamente ao estrogênio), maior a incidência de diversas doenças – inclusive os cânceres de endométrio e ovário.

Por outro lado, há profissionais que afirmam que a mulher que se incomoda com o sangramento deve buscar alternativas para interromper o fluxo, mas nunca o ciclo/ovulação, além de condenarem a exposição da mulher sadia a hormônios sintéticos. Por isso, buscar ajuda médica para expor as motivações, equilibrar os prós e contras da decisão e evitar falsas promessas (nem todas as mulheres respondem satisfatoriamente aos métodos), é fundamental.

Métodos radicais

alternativas mais invasivas para a mulher que deseja suspender a menstruação. A ablação do endométrio, um procedimento que destrói e remove essa camada, é realizado em distúrbios menstruais graves e, em certos casos, interrompe completamente o sangramento mensal.

“A ablação seria uma opção apenas para mulheres com prole definida, assim como a histerectomia, que é a cirurgia de retirada do útero. São dois procedimentos importantes e bem indicados para uma série de problemas mais graves, mas, falando especificamente de supressão da menstruação, não vejo necessidade de procedimentos tão radicais.

Toda mulher que cogitar essa ideia deve receber orientação quanto aos riscos e repercussões de sua decisão, que incluem, entre outros, perda ou diminuição da libido, aderências, hemorragias, infecções e problemas psicológicos”, finaliza Letti.

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