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Uma em seis crianças brasileiras até 5 anos tem excesso de peso

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24/11/2019 08:00
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Nos últimos 13 anos, o porcentual de obesos no país passou de 11,8% para 19,8%. Foi um aumento de 67,8%, um dos maiores índices de crescimento no mundo. Foto: Bigstock.

O consumo de alimentos ultraprocessados é cada vez mais precoce no Brasil.
Crianças com menos de 2 anos chegam a ter praticamente a metade da sua alimentação diária composta por produtos industrializados.
São farináceos, bebidas lácteas, refrigerantes, biscoitos. Por isso, o Ministério da Saúde lançou no último dia 13 uma campanha de prevenção à obesidade infantil.
O objetivo é alertar e orientar as famílias sobre a importância da formação de hábitos saudáveis na infância. Foi lançada também uma nova versão do guia alimentar para bebês.

A alimentação com altas quantidades de sal, gordura e açúcar desde a primeira infância tem impacto direto nos índices de obesidade dos pequenos e também da população em geral.

Dados do governo mostram que 15,9% das crianças com menos de 5 anos já apresentam excesso de peso.
Nos últimos 13 anos, o porcentual de obesos no país passou de 11,8% para 19,8%. Foi um aumento de 67,8%, um dos maiores índices de crescimento no mundo.
Já está bem estabelecido cientificamente que o excesso de peso pode causar doenças crônicas como diabete, hipertensão e colesterol alto. Também é fator decisivo para o desenvolvimento de problemas cardíacos e câncer.

“O cenário de obesidade infantil é muito preocupante, com índices cada vez mais altos de diabete e hipertensão”, afirma o nutricionista Cristiano Boccolini, da Fiocruz. “Cada vez mais as crianças estão recebendo produtos ultraprocessados em vez de comida de verdade. Temos de desembalar menos e descascar mais.”

A má alimentação desde a primeira infância tem causas múltiplas, como indicam especialistas. Um dos maiores problemas está relacionado ao aleitamento materno.
O recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é que bebês de até 6 meses se alimentem exclusivamente do leite materno.
Dados do governo brasileiro mostram, no entanto, que duas em cada três crianças com menos de 6 meses já recebem algum outro tipo de leite, em geral acrescido de alguma farinha e açúcar.

E apenas um terço continua recebendo leite materno até os 2 anos. Nesta faixa etária, 49% já se alimentam também de sucos adoçados, refrigerantes e biscoitos. O preconizado é zero açúcar até essa idade.

“A amamentação previne a obesidade na idade adulta, as crianças amamentadas têm menos chances de se tornarem adultos obesos”, afirmou Boccolini. “Mas, além disso, a complementação alimentar dos bebês deve ser feita com comida de verdade —, feijão, carne, legumes e verduras.”
Alguns obstáculos são a pouca disponibilidade das mães que precisam trabalhar e o alto preço dos alimentos mais saudáveis. “O paladar das crianças na hora de descobrir o açúcar é muito aguçado”, disse o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que lançou a campanha no Rio.

“É preciso evitar alimentos que não agregam valor nutricional, mas agregam peso. E criança tem de andar descalça, correr, pedalar. Se essas atividades forem substituídas por horas de tela, vamos pagar um preço muito alto.”

“O leite materno tem menos proteína que o leite de vaca, mas é uma proteína de qualidade superior. Quando tira a o leite materno, a criança recebe um excesso de proteína que já favorece o ganho de peso”, afirma o nutricionista Marcio Atalla, embaixador da campanha do ministério.
“Além disso, tem muita criança com menos de 2 anos tomando refrigerante, comendo biscoito; um excesso de caloria que ela não gasta nessa idade e vai reverter no sobrepeso.”
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