Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

“Achei que fosse enxaqueca”, diz mulher vacinada que pegou sarampo

Amanda Milléo
01/11/2019 08:00
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Vacinas tríplice e tetra viral são as principais formas de prevenção contra o sarampo Foto: Bigstock

Ao sentir fortes dores de cabeça, há quase duas semanas, a publicitária Anne Matoso, de 34 anos, acreditou se tratar de uma enxaqueca. “Até pesquisei na internet para ver se não era um AVC [acidente vascular cerebral], porque era uma dor de cabeça pesada”, diz.
Dias depois, foi a vez de as manchas aparecerem. Começaram pelos braços, pescoço e um pouco no rosto até se espalharem pelo restante do corpo. Anne, ainda assim, primeiramente pensou que os sinais seriam de uma reação alérgica.

Nem mesmo os olhos vermelhos, a coriza e a dor de garganta fizeram a publicitária e professora universitária desconfiar de uma doença mais séria: o sarampo.

“Eu tinha me vacinado em fevereiro contra o sarampo, além da vacina que tomei na infância. Nem mesmo cogitei que fosse. Tanto que tomei um antialérgico para as manchas e fui dar aula na faculdade. Mas o grosseirão na pele só piorava. Fui ao hospital pensando se tratar de uma alergia, mas não estava cogitando que fosse sarampo”, conta Anne.

Quase 10 mil casos no Brasil

De acordo com dados do Ministério da Saúde, em 2019 (até o dia 19 de outubro) foram confirmados 9.304 casos de sarampo no país.

Embora a doença tenha se espalhado por 20 estados da federação, São Paulo ainda concentra a maior parte dos diagnósticos, com 6,3 mil, ou 93% do total.

E foi justamente para lá que Anne viajou no último mês, e onde a publicitária imagina ter entrado em contato com o vírus. “Eu fui uma vez para São Paulo nos últimos 30 dias. Mas como dou aulas também em Cascavel, passei por São Paulo em uma escala de retorno para Curitiba”, conta.
No Paraná há 157 casos confirmados, ainda segundo o Boletim Epidemiológico 31, divulgado pelo Ministério.
Aos 34 anos, depois de viajar a São Paulo, a publicitária Anne Matoso descobriu que estava infectada com sarampo. Na imagem, as manchas já começaram a secar Foto: Arquivo Pessoal
Aos 34 anos, depois de viajar a São Paulo, a publicitária Anne Matoso descobriu que estava infectada com sarampo. Na imagem, as manchas já começaram a secar Foto: Arquivo Pessoal

Isolamento social

Por se tratar de uma doença altamente contagiosa, Anne foi imediatamente isolada dos demais pacientes tão logo entrou no hospital. Na sequência, foi feita a primeira coleta de sorologia e, pelos sintomas, os médicos avisaram a publicitária que era alta a probabilidade de ser sarampo.

“Eu tive quase todos os sintomas. A médica me assegurou que a vacina é segura, mas talvez o estresse, a imunidade baixa, e como eu fui para um lugar com concentração alta da doença, acabei pegando. Nenhuma vacina imuniza 100%”, relata Anne.

Por isso a importância de todos se vacinarem — de forma a proteger quem não pode tomar a vacina, ou quem não produziu os anticorpos suficientes. 

Como a publicitária havia entrado em contato com alunos e outros professores, a faculdade — e outros locais por onde Anne passou — foram alertados do risco. Na faculdade, todos foram vacinados, garante a professora.
“Fiquei isolada mesmo, porque o contágio é muito alto. Fiquei em casa seis dias depois que as manchas apareceram. Eu tive varicela/catapora, caxumba na infância. Só sarampo que não”, relata.
As manchas de sarampo são diferentes das que aparecem na catapora ou varicela; Na imagem, As marcas no braço da publicitária Foto: Arquivo pessoal
As manchas de sarampo são diferentes das que aparecem na catapora ou varicela; Na imagem, As marcas no braço da publicitária Foto: Arquivo pessoal

Complicações

Antes de pensar em como foi entrar em contato com o sarampo, Anne conta que ficou com medo das complicações.
“A gente vê os números, sabe que a epidemia está chegando, mas em primeiro momento eu fiquei assustada, com medo das complicações. Fiquei em repouso, mas nos dias em que eu me movimentei um pouco mais, eu tinha febre”, relata Anne.
As manchas na pele não coçavam muito, mas incomodavam, e a publicitária achou melhor afastar qualquer pessoa do convívio até que a transmissão não fosse mais possível.
“Minha mãe queria vir me ver, eu disse ‘não’. Uma mulher da agência onde trabalho também queria vir, mas eu achei melhor evitar. O que eu fui aconselhada a fazer foi entrar em contato com pessoas que estiveram próximas a mim para tomarem uma dose de bloqueio da vacina até 72 horas depois do contato. Meus alunos de orientação, o pessoal da agência, minha mãe, foram todos vacinados”, explica.
Na última terça-feira (29), Anne voltou a dar aulas e a trabalhar normalmente. A recomendação que ela deixa é: vacinem-se. “Eu sempre cuido da vacinação, eu prefiro sempre prevenir. Sei que o número de complicações, em geral, aumenta em quem nunca se vacinou, ou quem não está com o sistema imunológico bom.”

Dúvidas sobre o sarampo? Confira!

Quanto tempo leva até o sarampo mostrar sintomas?
Entre 7 a 10 dias é o tempo que se leva até que as lesões na pele e a febre (alguns dos sintomas do sarampo) surjam. Mas é preciso atenção porque três dias antes de surgirem essas lesões e uma semana depois de elas sumirem, a pessoa infectada transmite a doença a quem estiver perto.
Quem for diagnosticado com sarampo, portanto, deve manter-se isolado por pelo menos uma semana inteira. Isso significa não entrar em contato com ninguém em risco, seja no trabalho, na escola ou mesmo em casa. Apenas quem foi imunizado ou quem teve a doença pode chegar perto.
Quais sintomas do sarampo?
De acordo com dados do Ministério da Saúde, os principais sintomas do sarampo são:
Febre acompanhada de tosse;
Irritação nos olhos;
Nariz escorrendo ou entupido;
Mal-estar intenso;
Manchas vermelhas no rosto e atrás das orelhas tendem a surgir entre três a cinco dias depois dos sintomas acima;
Manchas vermelhas que, do rosto, espalham-se pelo corpo;

Sarampo tem tratamento? Não há tratamento para o sarampo, tendo que esperar a evolução da própria doença. Mas há prevenção, através das vacinas tríplice viral, tetra viral e dupla viral (que protege apenas contra sarampo e rubéola).

As vacinas estão disponíveis nas unidades públicas de saúde e em clínicas privadas de vacinação.
Quais as consequências do sarampo?
As consequências da doença variam conforme a idade, mas em todo caso são condições importantes e que chamam atenção das autoridades em saúde.
Entre as crianças: Pneumonia; Otite média aguda; Encefalite aguda; Morte.
Entre os adultos: Pneumonia.
Entre as gestantes não vacinadas previamente: Parto prematuro e bebê pode nascer com peso baixo
Sou adulto, preciso me vacinar contra o sarampo?
A resposta é: depende. Depende da sua idade e do seu histórico de vacinação e, ainda mais importante, da comprovação de que você recebeu as vacinas que protegem contra o sarampo.
A orientação dos especialistas segue a seguinte tabela:

Entre 6 meses a 11 meses – dose zero.

Aos 12 meses – primeira dose. (tríplice viral)

Aos 15 meses – segunda dose. (tetra viral)

Até os 29 anos – duas doses da vacina.

Dos 30 aos 49 anos – uma dose da vacina.

Acima dos 50 anos – só é indicada para bloqueio vacinal depois de exposição a casos suspeitos ou confirmados.

Tenho até 29 anos, mas não sei se fui vacinado, ou tenho uma única dose ou não tenho como comprovar
Reforce a proteção. E tanto faz se for com a tríplice viral ou com a tetra viral, pois ambas protegem contra o sarampo. No caso da tríplice, a proteção também abrange contra caxumba e rubéola. A tetra protege, além do sarampo, caxumba e rubéola, contra varicela (catapora).
Se você tiver sido vacinado e tiver como comprovar, não se preocupe com o reforço – mesmo se for visitar cidades com surto ativo da doença.
Tenho entre 30 e 49 anos, mas não sei se fui vacinado ou não tenho como comprovar
Reforce a proteção. Pode ser tanto com a tetra ou com a tríplice viral. O importante é imunizar contra o sarampo.
Se você tiver sido vacinado e tiver como comprovar, não se preocupe com o reforço – mesmo se for visitar cidades com surto ativo da doença.
Sei que fui vacinado e tenho como comprovar: Não se preocupe, você está protegido e tem como comprovar essa proteção. Não é preciso reforço da vacina.
Tenho mais de 50 anos, não sei se fui vacinado e não tenho como comprovar
Quem tiver mais de 50 anos não precisa se vacinar, a não ser que entre em contato com alguém com suspeita ou com sarampo confirmado. Conforme explica a médica infectologista Marta Fragoso, a partir dessa idade o sistema imunológico tende a enfraquecer com o envelhecimento e como a vacina contra o sarampo é feita a partir do vírus atenuado, há um risco (ainda que mínimo) de que a pessoa tenha uma leve manifestação da doença.
“Gestantes, pessoas imunodeprimidas, alguns pacientes com HIV, pacientes oncológicos também não podem fazer a vacina contra o sarampo. Por isso que é importante que as pessoas saudáveis se vacinem. Quanto mais pessoas estiverem vacinadas, esses grupos que não podem se vacinar ficam protegidos”, explica a especialista.

Já tive sarampo, preciso me vacinar? Não. Quem já teve o sarampo no passado não precisa tomar a vacina, a não ser que queira. Isso porque o organismo já desenvolveu uma imunidade natural à doença.

Tomei a vacina, mas depois descobri que já tinha sido vacinado, tem problema?
De forma alguma. Você apenas reforçou o seu sistema imunológico.
Tomei a vacina, quais reações posso ter?
As vacinas contra o sarampo, tanto a tríplice quanto a tetra, são bastante seguras. Em geral, são raros os casos de reações, mas é possível que a pessoa tenha uma dor no local da aplicação e febre leve.

Quanto tempo depois de tomar a vacina que meu corpo estará protegido?

Em geral o sistema imunológico precisa de um tempo até estar bem preparado para proteger o organismo contra o microorganismo. Em geral, esse período é de 15 dias.
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