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Brasil teve um aumento de 3% no número de casos de aids entre 2010 e 2016 (Foto: Bigstock)
Brasil teve um aumento de 3% no número de casos de aids entre 2010 e 2016 (Foto: Bigstock)| Foto:

Nenhum dos três filhos de Sônia* têm o vírus do HIV, causador da aids. Diagnosticada há mais de 10 anos, a moradora de Curitiba recebeu a notícia da doença enquanto fazia o pré-natal da primeira gestação, e teve acesso ao tratamento logo no início, o que impediu a transmissão ao bebê.

Curitiba, inclusive, foi a primeira cidade a eliminar a transmissão vertical do HIV no Brasil, conforme anunciou o ministro da saúde Ricardo Barros, nesta sexta-feira (1º). Nos últimos 10 anos, mais de 400 bebês, cujas mães são HIV positivo, foram protegidos da doença. A data faz lembrança ao Dia Mundial de Combate à Aids, doença que teve um aumento de 3% nos casos no país, entre 2010 e 2016, de acordo com informações da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Quando engravidou pela segunda vez, todo o planejamento da gestação incluiu também os cuidados para evitar novamente a transmissão. Mais calma e conhecida da burocracia brasileira, Sônia logo teve acesso aos medicamentos e, quando o terceiro membro da família nasceu, um ano e meio depois (e de surpresa), a mãe estava bem familiarizada com o processo.

“As pessoas sabem que a doença existe, conhecem os riscos, mas o tratamento é algo que, só quando você precisa, você vai atrás. No começo, na primeira gestação, foi bem complicado. Eu descobri quando fui pegar o exame do pré-natal e o laboratório disse que ele tinha sido enviado direto ao meu médico. Achei estranho e fui atrás do médico, que estava viajando na época. Todo o suspense sobre o assunto tornou tudo bem pior”, relata.

Quando não é feita nenhuma intervenção médica, com base em medicamentos, a transmissão do HIV da mãe ao filho chega a 45% dos casos. Essa transmissão pode ocorrer tanto durante a gestação, no parto ou mesmo durante a amamentação, e a prevenção se dá em forma de medicamentos para a mãe e, após o nascimento, ao bebê. Em Curitiba foram registrados 926 casos de gestantes HIV positivo, entre 2007 e 2016, de acordo com informações da prefeitura de Curitiba.

Aids ainda é assunto “proibido”

Nenhum amigo ou colega de trabalho sabe que Sônia tem o vírus do HIV, e até mesmo na sua família são poucas as pessoas que conhecem  a sua história: embora a aids tenha sido muito discutida no passado, atualmente o assunto parece ter sumido e se transformado, novamente, em tabu.

“Sou professora, trabalho há 11 anos e nunca transmiti nada para ninguém. Meu marido não tem HIV, meus filhos também não. Mas, eu sinto que se eu contar para alguém, vão agir com preconceito. O ser humano é preconceituoso, ele tem o hábito de não conhecer e sair julgando, achando que sabe o que me levou até ali”, explica Sônia, que diz não saber exatamente quando entrou em contato com o vírus, mas desfaz um dos principais preconceitos com relação à doença:

“As pessoas pensam que isso acontece com a mulher que sai com vários homens. Eu só tive dois namorados na vida. Isso é uma prova de que não é a quantidade que importa, temos de nos cuidar sempre. Meu médico ginecologista nunca pediu o exame para diagnóstico da aids, fui saber só na gestação”, diz Sônia, que hoje tem 35 anos.

Embora os filhos de Sônia não saibam que a mãe carrega o vírus, ela tenta ser aberta sobre o assunto, especialmente com a filha mais velha, que tem hoje 11 anos. “Converso com a minha filha sobre os cuidados, as doenças, a forma de prevenção. Acho que ela não precisa saber que eu tenho a doença, senão vai se preocupar comigo e eu não quero isso”, diz.

Com o marido, a conversa é aberta e o apoio é incondicional. “Ele é uma pessoa maravilhosa, e não me julgou em nenhum momento. Quando eu falei dos exames, a primeira coisa que pensou é que ele poderia ter me transmitido, mas ele não tem a doença. É por isso que eu consigo enfrentar tão tranquilamente, porque ele está do meu lado, assim como meus pais, que nunca me julgaram ou fizeram críticas.”

“Comigo não foi por falta de informação. É aquele hábito de jovem, de achar que isso nunca vai acontecer com você. De pensar que a doença existe, mas não aqui. E vemos os casos aumentando cada vez mais, é complicado.”

Evolução nas medicações

Do início, quando tomava de três a quatro comprimidos por dia, até hoje, quando toma apenas um antes de dormir, Sônia sentiu a evolução no combate à aids no Brasil. E percebe que o cuidado com a própria saúde é bem maior do que seria se não tivesse recebido o diagnóstico.

“Eu nem reclamo da vida. Estou há três meses com uma nova medicação e faço acompanhamento médico de seis em seis meses, onde faço exames e vejo como meu organismo está. Nesse check up, confiro diabetes, colesterol, doenças do fígado, tudo. Meus filhos também passam por exames para ver se a medicação que tomaram na infância não afetou o fígado, e isso é bem importante. Faço exercícios e me cuido mesmo, para estar presente para eles”, reforça.

*Nome fictício. A professora preferiu não se identificar. 

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