Saúde e Bem-Estar

Cecília Aimée Brandão, especial para a Gazeta do Povo

O açúcar tem o mesmo efeito no cérebro do que drogas estimulantes; entenda os motivos

Cecília Aimée Brandão, especial para a Gazeta do Povo
15/03/2019 08:00
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Além de agir como fonte principal de energia das células, o consumo sistemático de açúcar leva à compulsão e à síndrome de abstinência. Foto: Bigstock

Há uma crença geral de que o consumo excessivo de açúcar seja estimulante e deixe, especialmente as crianças, em um estado de agitação além do normal.
O açúcar age como fonte principal de energia das células, mesmo que venha do metabolismo da gordura, por exemplo, não só de doces propriamente ditos.

“A agitação sentida após o consumo de doces pode não ser só pelo efeito energético do açúcar em si, mas pelo efeito que o açúcar tem no sistema nervoso central, no sistema límbico, o chamado prazer imediato, mesmo local de ação de algumas drogas, como a cocaína”, explica a médica nutróloga Debora Froehner, do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná.

O açúcar interage no cérebro com neuropeptídios como dopamina, opioides e acetilcolina, levando a alterações que ocorrem na neuroquímica semelhantes às drogas estimulantes, embora menores em magnitude.
O órgão central do sistema nervoso registra que este tipo de carboidrato é uma fonte rápida de energia e torna a requisitá-lo quando acha que há declínio nos neuropeptídios reguladores de ingestão, que também pode levar ao aumento da compulsão por açúcares.

“Há estudos, como um realizado por pesquisadores da Universidade de Princeton, que comprovam: o consumo sistemático de açúcar leva à compulsão e à síndrome de abstinência”, explica Marcella Garcez Duarte, médica nutróloga da Associação Brasileira de Nutrologia(Abran) .

Que tipo de açúcar?

Quando se fala em açúcar, pensa-se apenas naquele açúcar de mesa, a sacarose, e nos doces, mas também existem outros tipos, como a lactose, a frutose e o amido, todos fonte de energia. Há, portanto, uma distinção a ser feita.

“Hoje há um ‘pavor’ no consumo do açúcar, a carbofobia. Precisamos ter em mente que açúcares também estão presentes em legumes, verduras e frutas, não apenas nos doces. Então, precisamos definir que bons açúcares, como os provenientes de alimentos naturais, não são motivo de preocupação, mas sim os alimentos processados, as bebidas adoçadas e aqueles a base de sacarose”, orienta Debora.

Muitas pesquisas já foram realizadas sobre a sacarose e o efeito no comportamento humano, especialmente das crianças.
“Acredita-se que o efeito de agitação seja pela ativação do sistema nervoso central, não pelo excesso de energia. Outra influência seria o aumento abrupto da insulina após a alimentação, efeito muito comum em indivíduos com sobrepeso”, explica Débora.
Foto: Bigstock
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O consumo excessivo de açúcar está relacionado ao aumento de peso e estudos indicam que estariam também ligados à hiperatividade na infância. Foto: Bigstock

Consumo excessivo

O consumo excessivo de açúcar está relacionado ao ganho de peso, alteração do funcionamento da insulina e aumento da prevalência de obesidade e diabetes. Vale observar o comportamento para entender como cada individuo se comporta após comer doces. Existe ainda uma linha de estudos que relaciona o consumo excessivo de açúcar com o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
“Alguns pesquisadores viram que o consumo excessivo de alimentos doces por crianças pequenas pode levar a uma hiperativação do sistema límbico, mesmo horas após o consumo de doces. Esta ativação em excesso da região é responsável por alguns dos sintomas vistos no TDAH. Desta forma, existe hoje uma linha de pesquisa que investiga se crianças que consomem muito açúcar têm mais chance de desenvolver TDAH”, alerta a médica Debora.

Bons hábitos começam na infância

É na infância que se formam os bons hábitos alimentares que seguirão durante a vida para uma alimentação adequada, equilibrada e balanceada com legumes, frutas e verduras, proteínas e bons carboidratos, sem o hábito de consumir industrializados como bolachas e refrigerantes.
Uma criança que tenha em sua rotina diária bons hábitos alimentares poderia consumir eventualmente algum doce, desde que isso seja a exceção, e não a regra.
“A infância é uma época excelente para cultivar conhecimentos sobre a origem dos alimentos e entender a importância deles em nossas vidas, vendo o alimento como fonte de saúde, a chamada consciência alimentar, sólida e duradoura, que certamente vai reduzir a exposição desta criança a doenças metabólicas como a obesidade”, conclui a nutróloga Debora.
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