Saúde e Bem-Estar

Katherine Cave, Public Discourse

O que diz a mãe de uma adolescente que se identifica como transgênero

Katherine Cave, Public Discourse
08/02/2019 17:00
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Novas identidades de gênero, como “transgênero” ou “não-binário”, têm se tornado incrivelmente comuns, principalmente entre os jovens. Foto: Bigstock

A Lei da Igualdade (H.R.2282, S.1006) propõe redefinir o sexo em todas as leis federais norte-americanas e adicionar a “identidade de gênero” à Lei dos Direitos Civis de 1964 como uma categoria imune à discriminação em espaços públicos. Supondo que a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, mantenha sua palavra, a Lei da Igualdade será votada na Câmara dos Deputados. Se for aprovada ali, passar pelo Senado e virar lei, ela causará graves danos.
“Identidade de gênero” é um termo que se refere a como as pessoas optam por se identificar com base em como se sentem. Não há exame para determinar a identidade de gênero de alguém; é algo autodeclarado. Novas identidades de gênero, como “transgênero” ou “não-binário”, têm se tornado incrivelmente comuns, principalmente entre os jovens. Ao contrário de outras categorias protegidas, como as referentes a raça e sexo, a “identidade de gênero” não tem base na realidade material. Não existe ciência capaz de provar sua existência. Mesmo assim, cada vez mais estados e cidades têm aprovado leis que proíbem a discriminação com base na autodeclarada, subjetiva e não-comprovável “identidade de gênero”.
Ainda que leis de proteção à “identidade de gênero” pareçam justas e possam ser bem-intencionadas, os prejuízos involuntários que elas causam são bem sérios. Como mãe de uma adolescente que se identifica como transgênero, minha preocupação é pessoal.

Todas as pessoas deveriam ser protegidas da perseguição e de outros danos, não importa como elas se identificam. Mas nós, como sociedade, devemos poder agir com sensatez quanto ao sexo em casos em que o tratamento médico, a privacidade e a segurança estão em risco. Se a “identidade de gênero” se tornar uma categoria protegida, mulheres e crianças são as que mais sofrerão.

O que pode haver de errado com uma lei que promete “igualdade”? Quais seriam os danos possíveis resultantes da proibição de práticas discriminatórias? Apesar de à primeira vista tais leis parecerem inócuas, as consequências danosas de se ignorar a realidade das diferenças entre os sexos foram demonstradas nos estados e países onde leis de “identidade de gênero” já afetam crianças, serviços de saúde e espaços voltados para gêneros específicos. Crianças e mulheres são as que mais sofrem. Isso não é igualdade.

Leis de identidade de gênero prejudicam as crianças

A quantidade de pessoas em todo o Ocidente que buscam alterar seus corpos conforme suas “identidades de gênero” cresceu, sendo que os aumentos mais expressivos foram registrados entre meninas e jovens mulheres. Em menos de uma década, a quantidade de meninas procurando tratamento no Reino Unido aumentou mais de 4000%, o que levou a uma investigação por parte do governo.
Há cada vez mais provas de que muitas dessas novas identidades entre os jovens são resultado do contágio social, da influência das redes sociais e comorbidades subjacentes, incluindo o transtorno do espectro autista.
Algumas crianças ficam sabendo a respeito dessas identidades na escola. Cada vez mais distritos educacionais exigem que os alunos aprendam que o sexo deles foi “determinado” quando de seu nascimento, mas que só eles podem escolher sua “identidade de gênero”. Uma vez que os alunos escolham sua nova “identidade de gênero”, muitas escolas alteram os nomes deles e os pronomes a eles associados sem avisar os pais. Professores que se recusam a aceitar essas diretrizes ideológicas correm o risco de perder seus empregos. O Conselho Educacional de Nova Jersey chegou até a estimular professores e administradores a denunciar os pais que questionam as novas “identidades de gênero” dos filhos.
Se não controlarem os sentimentos de perda quando os filhos vão à escola, as mães podem sabotar esse momento e dificultar a adaptação da criança ao ambiente escolar. Foto: Bigstock
Se não controlarem os sentimentos de perda quando os filhos vão à escola, as mães podem sabotar esse momento e dificultar a adaptação da criança ao ambiente escolar. Foto: Bigstock
Outras crianças aprenderam sobre “identidades de gênero” na internet, onde vídeos publicados no Youtube exaltam garotas que passaram por mastectomias e posts no Instagram estão cheios de crianças posando com hormônios. Quando os pais tentam entender o porquê da nova identidade dos filhos ou procuram ajuda para eles, é quase impossível. Terapeutas são ensinados a aceitar a “identidade de gênero” e ignorar sinais de contágio social e problemas subjacentes como o autismo. Sacralizar a “identidade de gênero” com uma lei federal dificultará ainda mais a busca por ajuda às crianças.
Pesquisadores têm alertado que jovens com “disforia de gênero” se apresentam no contexto de “uma ampla confusão identitária, graves psicopatologias e consideráveis desafios no desenvolvimento adolescente”. Além disso, é impossível que os médicos prevejam se as “identidades de gênero” dos jovens persistirão ao longo da idade adulta. Mas o tratamento atual para esse fenômeno mal compreendido e cada vez mais comum consiste em bloqueadores de puberdade e hormônios de transformação sexual. Apesar da opinião de alguns médicos e associações médicas de que este protocolo de tratamento hormonal é psicologicamente necessário, ele é arriscado e ainda está num estágio experimental. Na verdade, sabe-se que os bloqueadores de puberdade e os hormônios provocam sérios efeitos colaterais, incluindo a infertilidade.
A doutora Johanna Olson-Kennedy, diretora da maior clínica pediátrica de gênero dos Estados Unidos, prescreve mastectomia para meninas de até treze anos, tudo com base na identidade autoproclamada de gênero que não pode ser objetivamente provada e que provavelmente mudará com o tempo. Alguns médicos usam táticas de manipulação para fazer com que os pais concordem com o tratamento. Muitas histórias de arrependimento quanto à transição de gênero estão surgindo, mas só o tempo exporá o tamanho desses danos médicos.

A Lei da Igualdade proíbe especificamente a discriminação com base na identidade de gênero em “qualquer estabelecimento de saúde”. Isso quer dizer que os terapeutas e médicos podem ser processados se não afirmarem automaticamente a “identidade de gênero” das crianças? Eles estão juridicamente proibidos de procurarem por outras causas? Como as crianças receberão o tratamento terapêutico adequado a fim de descobrir os motivos subjacentes à sua motivação para se identificar com o sexo oposto se os terapeutas estiverem legalmente obrigados a aceitá-los?

Se a “identidade de gênero” se tornar uma categoria protegida pelo governo federal, os médicos poderão legalmente se recusar a prescrever tratamentos experimentais e arriscados à base de hormônios para crianças que se identificam como transgêneros? Ou eles se sentirão pressionados a simplesmente aceitar a identidade da criança e prescrever tratamentos questionáveis só para evitar um processo em potencial? Como os médicos cumprirão o juramento de “antes de mais nada, jamais causar mal” se isso fará com que eles corram o risco de serem processados?

Leis de identidade de gênero prejudicam os pacientes

Leis de “identidade de gênero” prejudicam todos os pacientes, não apenas os jovens que buscam tratamento para disforia de gênero. As diferenças biológicas entre os sexos são muito mais profundas do que as diferenças óbvias na genitália; entre elas estão as diferenças bioquímicas e celulares, que têm implicações nas pesquisas médicas, no estudo das patologias, nos diagnósticos e tratamentos.
Receber transfusão de sangue de uma mulher que já passou por uma gestação, por exemplo, é algo associado a uma maior mortalidade entre os homens. Como homens podem receber transfusões de sangue seguras se os profissionais da saúde devem tratar os doadores e os receptores com base numa sensação instável de “identidade de gênero” e não com base em seu sexo biológico imutável?
"Eu não quero crescer e pesar 130 quilos como você", disse adolescente para mãe. Exercícios, conversa e terapia foram a resposta. Foto: Bigstock
"Eu não quero crescer e pesar 130 quilos como você", disse adolescente para mãe. Exercícios, conversa e terapia foram a resposta. Foto: Bigstock
Há diferenças evidentes e importantes entre homens e mulheres em seus sistemas cardiovasculares, musculares e imunológicos. Os sintomas e riscos das doenças cardiovasculares, por exemplo, a principal causa de morte, diferem com base no sexo biológico do paciente.
Quando médicos recomendam tratamentos, interpretam exames ou avaliam os perfis de risco, eles devem poder tomar decisões racionais com base no sexo. Os hospitais devem poder identificar os pacientes por sexo. Epidemiologistas devem poder identificar tendências patológicas com base no sexo. Mas se a “identidade de gênero” suplantar o sexo biológico nas decisões médicas, todos os pacientes serão seriamente afetados e muitos serão prejudicados.

Leis de identidade de gênero prejudicam mulheres e meninas

Se a identidade de gênero se tornar uma categoria protegida, homens que “se identificam” como mulheres terão acesso livre a qualquer vestiário, banheiro, abrigo, prisão, camarim ou equipe esportiva feminina em todos os Estados Unidos. As diferenças sexuais biológicas serão consideradas irrelevantes à medida que a identidade de gênero se tornar o critério determinante para a inclusão. Escolas e empresas serão obrigadas a obedecer, independentemente de seus temores legítimos quanto à privacidade e segurança das mulheres.

Quando mulheres e meninas usam vestiários, banheiros e abrigos públicos, elas esperam não serem cobiçadas, assediadas ou atacadas por homens. Mas se a identidade de gênero se tornar uma categoria legalmente protegida, as mulheres não terão direito a exigir que homens não estejam presentes em situações nas quais elas estejam nuas ou seminuas.

Casos no Reino Unido, onde a quantidade de instalações para ambos os sexos está aumentando, mostram que estes lugares se tornaram um ímã para predadores sexuais. Em alguns estados norte-americanos onde o acesso ao banheiro é determinado com base na “identidade de gênero”, ataques sexuais já têm sido relatados; uma das supostas vítimas tinha apenas cinco anos.
Foto: Bigstock
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Mulheres sem-teto e vítimas de violência doméstica ou sexual que buscam refúgio em abrigos serão legalmente obrigadas a compartilhar este espaço com homens. Nos lugares onde as leis de “identidade de gênero” já são praticadas, os abrigos femininos foram obrigados a abrir suas portas para homens biológicos, com resultados desastrosos. Na Califórnia, um homem que se identificava como mulher assediou sexualmente nove mulheres sem-teto que estavam nuas no banho. Outro homem que se dizia uma mulher transgênero atacou sexualmente suas vítimas em dois abrigos femininos no Canadá.
Estudantes mulheres serão obrigadas a dividir o dormitório com homens, tendo por base a “identidade de gênero” deles, uma política que já está sendo adotada em várias faculdades. Muitas escolas descritas como “exclusivamente para mulheres” estão começando a aceitar garotos que se identificam como transgêneros. Equipes de esportes femininos serão obrigadas a incluir homens com base em suas autodeclaradas identidades, como tem acontecido em estados como Minnesota – o que em essência nega às atletas mulheres a oportunidade de vitória por conta das inegáveis vantagens fisiológicas dos homens. A segurança das mulheres estará em risco quando elas disputarem esportes de contato.
Se a “identidade de gênero” se tornar uma categoria protegida, quase todos os espaços públicos protegidos com base no sexo desaparecerão. Mulheres e meninas certamente serão prejudicadas.
Conclamo a todos que se manifestem e implorem aos legisladores que reflitam a respeito do impacto de incluir a “identidade de gênero” na Lei da Igualdade. Devemos agir antes que mais pessoas sejam prejudicadas pelo ideologizado movimento da “identidade de gênero”. Não precisamos de mais vítimas. Minha filha já sofreu o suficiente.
Katherine Cave é mãe de uma adolescente que se identifica como transgênero. Médicos especializados a convenceram a apoiar a transição da filha, até que ela percebeu os perigos da medicina identitária e da ideologia de gênero. Katherine Cave é um pseudônimo usado para proteger a privacidade da filha da autora.
Tradução de Paulo Polzonoff Jr.
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