Saúde e Bem-Estar

RBS, por Camila Kosachenco 

Terapia por e-mail, celular e videochamadas passa a ter novas regras no Brasil

RBS, por Camila Kosachenco 
08/06/2018 07:00
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Alvo de muitos estudos e já em uso em locais como Reino Unido e Estados Unidos, a psicoterapia online é vista com cautela por alguns profissionais. Foto: Visual Hunt

Em novembro, entra em vigor uma nova resolução do Conselho Federal de Psicologia (CFP) permitindo a realização de psicoterapia online. Essa medida atualiza a resolução de 2012, que restringia esse tipo de atendimento a, no máximo, 20 encontros. Agora, o tratamento completo pode ser feito por meio de dispositivos tecnológicos como videochamadas, mensagens e e-mail, de forma síncrona ou assíncrona (imediata ou não).
Na prática, a mudança não deve interferir na técnica psicoterápica, garantem especialistas. O que pode variar é o formato como ela será feita, presencial ou por meio de computadores, smartphones e aplicativos, diz o coordenador do curso de Psicologia da Feevale, Marcus Levi Lopes Barbosa.
“Essa é uma mudança importante para legitimar e regulamentar o trabalho. Nas universidades, isso não transforma o curso, mas o assunto deve ser mais abordado”, reforça.
Pesquisa mostrou que a prática de atividade física ajuda a proteger contra a depressão. Foto: Bigstock
Pesquisa mostrou que a prática de atividade física ajuda a proteger contra a depressão. Foto: Bigstock
Tema em discussão desde 2005 pelo CFP, o uso de novas tecnologias dentro da psicologia era permitido, inicialmente, em caráter experimental, direcionado para estudos. Sete anos mais tarde, veio a norma que permitiu os 20 encontros e outras abordagens, como processos seletivos preliminares, aplicação de testes e supervisão.
“Era permitido prestar serviços online somente em formato de orientação psicológica, que é um conceito vago e confuso. Além disso, os profissionais tinham de ter um site cadastrado junto ao CFP, que funcionava como o “endereço” dele”,  lembra o vice-presidente do Conselho Regional de Psicologia (CRPRS), Cleon Cerezer.
Para tornar esse processo mais claro, foi formado, no fim de 2016, o grupo de trabalho que começou a pensar na atualização. Integrante dessa equipe, Cerezer diz que, ao longo da discussão, houve algumas críticas à novidade, mas foi possível chegar ao consenso, que resultou no documento publicado em 11 de maio.
“A ideia é falar de tecnologia em vez de criticar o que não conhecemos. O problema não é a tecnologia em si, mas o uso que eu faço dela”, comenta.
Sem mudanças na técnica, a nova modalidade também não deve impactar no preço cobrado pelas sessões, acredita Cerezer.
Segurança e privacidade
Alvo de muitos estudos e já em uso em locais como Reino Unido e Estados Unidos, a psicoterapia online é vista com cautela por alguns profissionais. Zuleika Gonzales, professora do curso de Psicologia da Unisinos, destaca algumas questões que ainda devem ser discutidas:
Em princípio, é um encaminhamento na profissão que nos inquieta e nos convoca a pensar na forte demanda gerada para esta forma de atendimento. Como e a partir do que ela foi gerada? Outro ponto a se pensar é sobre os efeitos que esses procedimentos terão sobre o nosso campo profissional e sobre as pessoas que venham a utilizar essa modalidade de atendimento. Fica a questão: em que dimensão ética se sustenta a relação estabelecida neste serviço psicológico?
Até entrar em vigor oficialmente, o que está previsto para ocorrer em 11 de novembro, a ideia é debater, discutir e tirar dúvidas tanto dos psicólogos quanto da sociedade sobre a nova resolução.
Recomendação 
Para crianças, por exemplo, a prática não é recomendada. Foto: Bigstock
Para crianças, por exemplo, a prática não é recomendada. Foto: Bigstock
Assim como acontece com a psicoterapia presencial, a busca por esses profissionais que atuem online deve ser feita por meio de recomendação de pessoas próximas e de confiança, sugere Cerezer. Fora isso, é imprescindível certificar-se de que o psicólogo esteja com o cadastro junto aos conselhos em dia e ativo. Essa é a garantia de que se trata de alguém habilitado e apto a atender por intermédio tecnológico. Lembrando que a nova resolução não obriga nenhum profissional a atender online.

O texto traz ressalvas importantes no que diz respeito a algumas situações específicas. O atendimento online é vedado em casos de urgência ou emergência, quando há risco de suicídio ou o paciente está em sofrimento intenso, por exemplo.

Quando o assunto é psicoterapia com crianças, a nova resolução não traz novidades em relação ao texto anterior, apenas exige que menores de 12 anos tenham autorização dos responsáveis.
“O contato presencial com crianças faz toda a diferença, mas a decisão fica a critério do psicólogo”,  esclarece Cerezer.
É importante certificar-se de que o sistema usado para as sessões esteja protegido, o que garante a privacidade e o sigilo. Se forem usadas mensagens ou e-mails, o paciente precisa estar ciente de que deve manter as informações em segurança.
Casos em que o atendimento é permitido
>> Situações de emergência: quando o paciente está em sofrimento intenso, por exemplo.
>> Situações de desastre: casos de comoção pública, que afetem muitas pessoas, como foi o caso da Boate Kiss, em Santa Maria, não podem ter atendimento online.
>> Situações de violação de direitos ou violência: quando há casos de agressão ou abusos, por exemplo.
>> Em todas essas situações, cabe ao profissional indicar um atendimento presencial, seja ele em consultório ou mesmo na rede pública.
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