Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Óleo de coco tem mais gordura saturada que lombo de porco e aumenta risco de infarto

Amanda Milléo
22/08/2018 16:34
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Óleo de coco foi comparado a uma grande besteira e até mesmo a veneno por médica pesquisadora de Harvard (Foto: Bigstock)

De superalimento, milagre e salvador das dietas, o óleo de coco desceu ao patamar das gorduras saturadas consideradas maléficas à saúde do coração. A médica alemã Karin Michels, diretora do Instituto de Prevenção e Epidemiologia da Universidade de Harvard, argumenta que o óleo de coco seria uma “grande besteira” e até mesmo “um veneno” à saúde. Ela chegou a gravar um vídeo sobre o tema, que teve ampla repercussão.
“Quanto maior o consumo de óleo de coco, menores ficam os vasos coronários do coração, aumentando o risco de um ataque cardíaco. O óleo de coco é um veneno puro. O lado ruim é que lojas de alimentos saudáveis e de alimentos orgânicos têm prateleiras com vários tipos de óleos de coco. Eu suponho que seja por ignorância, ou para o lucro”, disse a especialista na palestra realizada na Universidade de Friburgo, na Alemanha.

Os malefícios estariam na grande quantidade de gordura saturada presente no óleo de coco, que chegaria a 82%, de acordo com dados da Associação norte-americana de Cardiologia, que recentemente condenou o uso do óleo de coco. Em comparação, a manteiga tem cerca de 63%; a carne bovina, em um bife, tem 50% e, no lombo de porco, há 39% da mesma gordura.

Quanto maior a quantidade de gordura saturada na dieta, maiores os riscos de elevação do colesterol considerado ruim, o LDL – low-density lipoprotein, e os danos ao coração, como enfartes. “Os cardiologistas já percebem que os pacientes que consomem óleo de coco tendem a ter maior colesterol, aumentando o risco de obstrução das artérias e o risco de eventos cardiovasculares”, explica Otávio Celeste Mangili, médico cardiologista do Parana Medical Research Center, em Maringá.

Benefícios (e malefícios) desconhecidos

Embora seja fácil de adquirir e existam várias receitas na Internet, ainda há poucos estudos que apontem, de fato, os benefícios e os malefícios reais do alimento.
“Os benefícios do óleo de coco estão na sua quantidade de triglicerídeos de cadeia média, que são algo bom para a saúde, pois têm uma atuação melhor no metabolismo do que os de cadeia longa. Mas, os estudos que avaliaram os benefícios desses triglicerídeos usaram o óleo de coco apenas como um veículo, e os triglicerídeos estavam purificados. O óleo de coco tem 15% de triglicerídeos, enquanto a maior parte da composição é de gordura saturada”, explica Mangili, cardiologista.
O problema maior, de acordo com Jennifer Partika, nutricionista do hospital Santa Cruz, não se trata apenas da composição do óleo, mas do uso que as pessoas fizeram — e ainda fazem — do mesmo.
Você costuma usar óleo de coco para hidratar os fios? Foto: Monicore / Unsplash
Você costuma usar óleo de coco para hidratar os fios? Foto: Monicore / Unsplash
“As pessoas consomem de forma errada. Alguns comem o óleo puro, na colher. Ou colocam no café. Isso aumenta a saciedade, então a pessoa acha que é benéfico, mas ficou muito indiscriminado. Todas as refeições têm o óleo de coco”, explica a nutricionista.
Se acha que o óleo de coco vai ajudar a emagrecer e mudar a vida, pense melhor. “É mais interessante usar o óleo/azeite de oliva. As pessoas acham que só porque o óleo é de coco, de uma fruta, acreditam ser uma forma mais saudável, o que não é o caso”, diz Partika.

Com equilíbrio

Isso não significa, porém, que o óleo não tenha benefícios à saúde e nem possa ser usado. Até 10% das calorias diárias podem ser consumidas com gorduras saturadas e, então, cabe à pessoa escolher como esse percentual será completado: com as carnes vermelhas, óleo de coco ou outra gordura.
“O óleo de coco promove a saciedade e ajuda no funcionamento do intestino. Como ele faz uma lubrificação, pessoas com intestino preso podem se beneficiar do óleo. Ou quem quiser reduzir a vontade de comer doce, também consegue usá-lo para isso”, reforça a nutricionista.

Posicionamento entidades médicas

A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO) se posicionaram sobre a discussão acerca do uso do óleo de coco. Na visão de ambas as entidades, o óleo de coco não deve ser usado com a finalidade de emagrecimento e nem como óleo de cozinha de forma regular.
“A SBEM e a ABESO posicionam-se frontalmente contra a utilização terapêutica do óleo de coco com a finalidade de emagrecimento, considerando tal conduta não ter evidências científicas de eficácia e apresentar potenciais riscos para a saúde (…) também não recomendam o uso regular do óleo de coco como óleo de cozinha, devido ao seu alto teor de gorduras saturadas e pró-inflamatórias”, afirmam em nota.
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