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Autoridades de Illinois, nos Estados Unidos, disseram que a vítima foi hospitalizada com doença pulmonar grave. Foto: Bigstock.
Autoridades de Illinois, nos Estados Unidos, disseram que a vítima foi hospitalizada com doença pulmonar grave. Foto: Bigstock.| Foto:

Autoridades estaduais e federais de saúde que investigam doenças pulmonares misteriosas relacionadas a cigarros eletrônicos nos Estados Unidos encontraram o mesmo produto químico em amostras de produtos de maconha usados por pessoas doentes em diferentes partes do país e que usaram marcas diferentes de produtos nas últimas semanas.

Investigadores da Food and Drug Administration dos Estados Unidos encontraram um óleo derivado da vitamina E em produtos de cannabis em amostras coletadas de pacientes que adoeceram naquele país. As informações foram compartilhadas por autoridades do FDA esta semana.

Esse mesmo produto químico foi encontrado em quase todas as amostras de maconha de pacientes que adoeceram em Nova York nas últimas semanas, disse uma porta-voz do departamento de saúde do estado.

A vitamina E é encontrada naturalmente em certos alimentos, como óleo de canola, azeite e amêndoas.

O óleo derivado da vitamina, conhecido como acetato de vitamina E, é comumente disponível como um suplemento nutricional e é usado em tratamentos tópicos da pele.

Não é conhecido por causar danos quando ingerido como um suplemento vitamínico ou aplicado na pele. Seu nome parece inofensivo, disseram especialistas, mas sua estrutura molecular pode torná-lo perigoso quando inalado.

Suas propriedades semelhantes ao óleo podem estar associadas aos tipos de sintomas respiratórios relatados por muitos pacientes: tosse, falta de ar e dor no peito, disseram autoridades.

“Sabíamos de testes anteriores em Nova York que eles haviam encontrado acetato de vitamina E, mas ter a FDA falando sobre isso foi o mais notável que ouvimos”, diz um funcionário que participou da comunicação.

A FDA também disse às autoridades estaduais que seus testes de laboratório não encontraram nada incomum em produtos de nicotina que foram coletados de pacientes doentes, de acordo com outra pessoa que participou da reunião.

Os departamentos estaduais de saúde estão relatando novos casos semanalmente. Em 27 de agosto, havia 215 casos possíveis relatados por 25 estados.

Relatórios adicionais de doenças pulmonares estão sob investigação, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças, que lideram a investigação.

Nesta quarta-feira (4), as autoridades de saúde de Oregon disseram que um adulto de meia-idade que morreu no fim de julho de uma doença respiratória grave havia usado cigarro eletrônico contendo óleo de maconha comprado de um dispensário legal.

É a segunda morte ligada ao vaping em todo o país e a primeira a ser ligada a um produto comprado em uma loja. As autoridades de Illinois relataram a primeira morte na semana passada. Eles não especificaram qual o tipo do produto usado nesse caso.

As autoridades de saúde estaduais e federais disseram estar se concentrando no papel dos contaminantes ou de substâncias falsificadas como uma provável causa de doenças pulmonares relacionadas ao vaping.

Muitos pacientes disseram a funcionários e médicos que compraram produtos de maconha nas ruas.

Muitos daqueles que adoeceram dizem ter consumido produtos contendo maconha, mas alguns também usavam cigarros eletrônicos tradicionais de nicotina. Muitos relatam terem usado ambos. As autoridades disseram que não estão descartando adulterantes em produtos de cigarros eletrônicos de nicotina.

Embora a descoberta de um produto químico comum em testes de laboratório do FDA e do conceituado laboratório do Wadsworth Center de Nova York ofereça uma informação, as autoridades alertaram que estão muito longe de entender o que exatamente está deixando tantas pessoas doentes.

Um porta-voz da FDA disse que a agência está “investigando possíveis pistas sobre qualquer componente ou composto em particular que possa estar em questão”. O FDA está analisando amostras para uma ampla gama de produtos químicos, incluindo nicotina, THC e outros canabinóides, “agentes de corte” que podem ser usados para diluir líquidos, outros aditivos, pesticidas, opióides, venenos e toxinas.

“O número de amostras recebidas continua aumentando e agora temos mais de 100 amostras para testes”, disse o porta-voz da FDA Michael Felberbaum na quinta-feira (5).

Na quinta-feira, Nova York havia recebido 34 notificações de médicos com doença pulmonar grave entre pacientes com idades entre 15 e 46 anos que usavam pelo menos um produto estilo vape contendo cannabis antes de adoecer.

Todos os pacientes relataram o uso recente de vários produtos vape, disseram autoridades. Suspeita-se que muitos sejam produtos falsificados ou vape recreativos contendo cannabis, disponíveis em outros estados.

O segundo relato de uma morte enfatizou o perigo desta doença pulmonar. “Foi surpreendente que o paciente subitamente aparecesse sem outras condições de saúde subjacentes e ficasse doente o suficiente para morrer desta síndrome”, disse Ann Thomas, médica da Autoridade de Saúde de Oregon.

Vaping refere-se à prática cada vez mais popular de inalar vapor de um dispositivo de cigarro eletrônico, que freqüentemente envolve o aquecimento de um líquido que pode conter nicotina, maconha ou outras drogas.

O acetato de vitamina E é basicamente graxa, disse Michelle Francl, professora de química da Bryn Mawr College. Sua estrutura molecular significa que “você precisa aquecê-lo bem quente” para que ele se vaporize. Seu ponto de ebulição é de 183 graus C, que está bem acima do ponto de ebulição de 100 graus C da água e cinco vezes a temperatura normal do corpo humano.

Quando o óleo é aquecido o suficiente para vaporizar, ele pode se decompor e “gerar sabe se lá o quê para ser respirado”, diz Francl.

Quando esse vapor se resfria nos pulmões, ele volta ao seu estado original nessa temperatura e pressão, ela disse, o que significa “que assim esse óleo passa a revestir o interior dos pulmões”, disse ela.

Em Utah, os médicos trataram vários pacientes com lesões pulmonares agudas diagnosticadas com uma condição rara conhecida como pneumonia lipóide, com sintomas como dor no peito e dificuldade em respirar. Esses pacientes tinham células imunes anormais cheias de lipídios, disseram os médicos.

Ao contrário do trato digestivo humano, que pode se decompor e se livrar de substâncias estranhas, os pulmões não são projetados para lidar com nada além de gases, dizem especialistas.

Laura Crotty Alexander, pesquisadora de inflamação pulmonar e cigarros eletrônicos da Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia em San Diego, disse que não está claro se o produto químico em si ou seus derivados podem ser tóxicos.

“Não analisamos a toxicidade da vitamina E nos pulmões”, disse ela. “Os pulmões são projetados para trocar moléculas de gás; eles não são projetados para serem expostos a outros produtos químicos”.

Quando as células pulmonares morrem, isso geralmente provoca uma resposta inflamatória e “outras células precisam entrar e limpar os resíduos celulares”, diz Alexander. Mas os pulmões são muito delicados. Quando células extras entram, “elas impedem as trocas gasosas”, diz ela.

Isso dificulta a entrada de oxigênio na corrente sanguínea de uma pessoa. A inflamação pode causar acúmulo de líquido nos pulmões, dificultando a respiração, diz ela.

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