Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

OMS muda orientações para trabalho de parto: cesárea deve ser exceção

Amanda Milléo
21/03/2018 12:00
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Novas diretrizes da OMS frisam a importância de respeitar a decisão da mulher sobre o parto. Foto: Unsplash.

O crescimento no número de intervenções médicas desnecessárias, entre elas a cesárea, durante o trabalho de parto fez com que a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelecesse, no início de 2018, novas recomendações.
São 56 diretrizes que priorizam o parto natural e humanizado, o respeito às escolhas da gestante e reforçam o diálogo entre paciente e médico ginecologista obstetra.
Na série de diretrizes da OMS, a instituição sugere que as gestantes possam se alimentar e façam caminhadas durante o trabalho de parto, de forma que não fique restrita ao leito. Recomenda ainda a presença de acompanhantes, prioriza a posição vertical, que favorece a iniciação do parto, e estimula, inclusive, o contato pele a pele depois que o bebê nascer.
São Paulo é a terceira cidade brasileira a conseguir impedir a transmissão do vírus de mãe para filho. Foto: Bigstock,
São Paulo é a terceira cidade brasileira a conseguir impedir a transmissão do vírus de mãe para filho. Foto: Bigstock,
O corte do cordão umbilical também pode ser feito até três minutos depois do nascimento, para que mais sangue da placenta chegue ao bebê e reduza as chances de anemia no primeiro ano de vida.

Cesárea deve ser exceção

A regra é que, no parto sem qualquer complicação, não há necessidade de nenhuma intervenção externa, segundo os especialistas — segundo a OMS, 140 milhões de partos são realizados no mundo todos os anos, a maioria deles sem intercorrências.
“Se a criança não desce espontaneamente, isso é a exceção, não a regra. E só então você retira o bebê [via cesárea]. É por necessidade, por ser uma exceção. Não pode virar regra”, explica Antonio Paulo Mallmann, médico ginecologista obstetra e diretor técnico da maternidade Santa Brígida e professor de Ginecologia e Obstetrícia da PUCPR.

“Não somos radicalmente contra a cesárea, ela tem indicações. Mas ter uma equipe voltada ao parto normal ajuda a empregar essa cultura. Se amanhã ou depois os médicos não aprenderem o parto normal, só a cesárea, isso é ruim”, frisa Mallmann.

A OMS condena, especialmente, o uso de medicamentos que aceleram o trabalho de parto, geralmente desnecessários e invasivos, e reforça a importância de um acompanhante de confiança da gestante. “Se a paciente confia no serviço, no hospital, no médico que a atende, maiores serão as chances de ela ter o parto normal. Isso tudo faz com que ela se sinta confortável e até o ambiente físico ajuda nesse momento”, reforça Mallmann.
Medo do tempo de parto
Achar que o parto deve ser rápido é um mito. No entanto, muitas gestantes e mesmo médicos, que não têm a experiência de partos naturais, acabam caindo no medo de que tempo demais é perigoso.
De acordo com dados da OMS, o primeiro parto pode chegar a uma média de 12 horas, não mais que isso. No segundo parto em diante, a média reduz para 10 horas. “Tem um estudo antigo, mas que é clássico na obstetrícia, do partograma. Ali preconizava que a dilatação do parto deveria ser de 1 cm por hora e hoje sabe-se que demora um pouco mais para algumas mulheres, pode ser mais tolerante”, orienta Vinicius Pacheco Zanlorenci, médico ginecologista obstetra da Paraná Clínicas e professor da Universidade Federal do Paraná.
Essas informações, no entanto, devem ser repassadas à gestante pelo próprio médico. “Entra em trabalho de parto, demora duas horas e já quer fazer uma cesárea: isso é um equívoco. Essa contextualização é o médico que deve fazer. Dialogar com o paciente, entender o que ela quer fazer. A gestante, com conhecimento de como o parto evolui, ela se dessensibiliza até do medo do parto”, reforça Mallmann.
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