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Para especialista, antes de começar a comer ovos cotidianamente, o ideal é fazer exames de sangue e, depois de três ou quatro semanas, repeti-los. Foto: Bigstock.
Para especialista, antes de começar a comer ovos cotidianamente, o ideal é fazer exames de sangue e, depois de três ou quatro semanas, repeti-los. Foto: Bigstock.| Foto:

Mais uma vez, a balança pende contra o ovo. Um novo estudo relacionou o consumo desse alimento a doenças cardiovasculares. O que você lerá a seguir pode – ou não – equilibrar a balança novamente, especialmente para os amantes de ovos que comemoraram quando as últimas diretrizes alimentares pareciam exonerar esse popular alimento rico em colesterol.

Apesar de aconselhar aos americanos que “consumam o mínimo de colesterol possível em sua dieta”, o relatório científico das diretrizes declarou em 2015 que “o colesterol não é um nutriente cujo consumo excessivo deva ser uma preocupação”.

Foi então que um artigo publicado na revista científica “JAMA”, sobre uma análise meticulosa e extensa envolvendo quase 30 mil homens e mulheres que, inicialmente, não tinham doenças vasculares, passou a sugerir o contrário.

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Os pesquisadores, liderados por Victor W. Zhong, da Faculdade de Medicina Feinberg, da Universidade Northwestern, concluíram que o consumo de apenas metade de um ovo por dia pode aumentar os riscos de doenças cardíacas, AVC e morte prematura.

“Meu estudo mostrou uma relação entre quantidade e consequência. Quanto maior o consumo de ovos, mais elevados os riscos. Aqueles que comiam menos de um ovo por semana não tiveram o risco aumentado”, afirmou o nutricionista Zhong.

Após acompanhar os participantes pelo tempo médio de 17,5 anos, o estudo descobriu que, a cada 300 miligramas de colesterol adicionados à dieta diária deles, o risco de doenças vasculares subia 17 por cento, e o de morte prematura por qualquer causa, 18 por cento.

Considerando que a gema de um ovo grande contém até 200 miligramas de colesterol e que, quando proveniente de dietas, este pode elevar os níveis sanguíneos do colesterol LDL, prejudicial às artérias em algumas pessoas, não é a primeira vez que os ovos são acusados de ser um perigo para o coração. Por décadas, fomos aconselhados a limitar o consumo de ovos e a manter a ingestão de colesterol a 300 miligramas ou menos.

Outros fatores combinados

Porém, antes de você eliminar os ovos da sua vida definitivamente ou passar a comer apenas as claras, vale a pena considerar as limitações da pesquisa e como os achados se enquadram nos atuais padrões americanos de alimentação e estudos preliminares que tratam da relação entre ovos, colesterol e saúde.

O estudo se baseou em uma análise de 29.615 adultos inseridos na comunidade, ou seja, não residentes de nenhum tipo de casa de saúde, sem doenças cardíacas conhecidas. No início, falaram sobre seus hábitos alimentares e de estilo de vida, como fumo e consumo de álcool, e índices de saúde, como peso, pressão sanguínea e lipídios no sangue.

Nas quase duas décadas que se seguiram, 5.400 foram acometidos por um evento cardiovascular (geralmente ataque do coração ou AVC) e 6.132 morreram de outras causas.

Com o propósito de esclarecer como a ingestão do colesterol influenciava o risco de uma doença cardiovascular e de morte, o foco de Zhong e seus coautores estava no consumo de ovos, a medida mais clara da quantidade de colesterol consumida pelos participantes por meio da dieta.

Segundo concluiu o grupo, o consumo de apenas meio ovo por dia, ou aproximadamente três ovos grandes por semana, aumentou a possibilidade de uma pessoa desenvolver doenças cardiovasculares em 6% e de morrer por causas diversas em 8% durante o período do estudo.

Essa pesquisa não foi de intervenção, por isso não é possível afirmar o que teria acontecido se as pessoas tivessem substituído o ovo por outros alimentos. “A mudança de alimentação é crucial”, disse Frank B. Hu, chefe do departamento de nutrição e epidemiologia da Escola de Saúde Pública T. H. Chan, da Universidade de Harvard. Se, por exemplo, em vez de ovos, você comesse iogurte desnatado com frutas ou cereais integrais, provavelmente haveria uma melhora na sua saúde.

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Por outro lado, Hu lembrou que, se as pessoas comerem dois ou três ovos fritos com bacon ou salsicha e torrada de pão branco com manteiga, não se poderá esperar um bom resultado.

“Estudos de intervenção têm mostrado que o consumo leve a moderado de ovos não aumenta consideravelmente o nível de colesterol. Comer três ou quatro ovos por semana aparentemente não causa um grande efeito no colesterol sanguíneo, a não ser que a pessoa já tenha colesterol alto ou sofra de diabetes tipo 2”, esclareceu Hu.

Ele acrescentou: “Na maioria das pesquisas anteriores, cujo foco eram pessoas saudáveis, o consumo moderado de ovos não foi associado a uma elevação significativa de risco cardiovascular”. No entanto, entre os 21.275 participantes do Physicians’ Health Study que foram acompanhados por mais de 20 anos, os que ingeriram um ou mais ovos por dia tiveram mais chances de desenvolver insuficiência cardíaca do que aqueles sem o hábito de ingestão frequente.

“Resultados contraditórios entre estudos diferentes não são incomuns – fazem parte do processo científico. Ao conceber diretrizes, é necessário analisar todas as evidências disponíveis, e não reagir de modo exagerado a cada novo estudo”, ponderou Hu.

Zachary S. Clayton, autor de uma extensa revisão de pesquisas sobre consumo de ovos e saúde cardíaca publicada no periódico médico “Nutrition”, em 2017, disse em uma entrevista que o consumo de dois ovos por dia, durante 12 semanas, por pessoas saudáveis, não aumentou os fatores de risco cardiovascular; “pelo contrário, diminuiu os níveis de triglicérides dos participantes”.

Clayton, aluno de pós-doutorado em nutrição na Universidade do Colorado, em Boulder, contra-argumenta: “É importante distinguir entre pessoas com hiper-responsividade e hiporresponsividade ao colesterol absorvido pela dieta. Se indivíduos do primeiro grupo comerem dois ovos por dia, podem aumentar o risco de doenças cardiovasculares.”

Por isso, sugere às pessoas que, antes de começarem a comer ovos cotidianamente, “façam exames de sangue e, depois de três ou quatro semanas, os repitam” para avaliar qual a resposta ao colesterol adquirido pela dieta. “Se todos os indicadores permanecerem dentro do normal, quer dizer que, para aquela pessoa, o ovo não é um fator de risco”, avaliou.

De olho na dieta

Há duas outras questões importantes que precisam ser levadas em consideração. Uma é saber quais outros alimentos se sobressaem na dieta. A gordura saturada, encontrada na carne vermelha e nos laticínios integrais, tem um efeito muito mais agressivo sobre os níveis de colesterol do sangue e riscos cardiovasculares do que o colesterol ingerido pela dieta.

Por isso, se você seguir um hábito alimentar ao estilo mediterrâneo, com muitas frutas, vegetais, peixe, aves, mas apenas raramente consumir carne vermelha, carnes processadas, queijos e outros laticínios integrais, você pode se preocupar menos com o colesterol no ovo.

Também é importante considerar os benefícios nutricionais e para a saúde proporcionados pelo ovo. Trata-se de um alimento barato, fácil de encontrar, preparar e digerir, que contribui de forma relevante para a dieta de muitas pessoas idosas, assim como de crianças pequenas, sem mencionar adultos que não têm tempo de comer bem.

Em viagem, ovos cozidos ou mexidos são geralmente as escolhas mais saudáveis e prazerosas à disposição. E, apesar do alto índice de colesterol, o ovo tem relativamente pouca gordura saturada.

Ademais, é uma excelente fonte de nutrientes importantes. Nas 72 calorias encontradas em um único ovo grande, você tem seis gramas de proteína, quase cinco gramas de gordura em grande parte não saturada, praticamente não há carboidratos e apenas 71 gramas de sódio.

O ovo é uma excelente fonte de fósforo, potássio, vitaminas A e D e diversas vitaminas B, e são especialmente ricos em luteína e zeaxantina, que ajudam a proteger contra a degeneração macular relacionada à idade. Por fim, a gema do ovo é a fonte alimentar mais concentrada de colina, um nutriente essencial para o desenvolvimento cerebral e um sistema nervoso saudável.

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