Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Retirar o apêndice pode diminuir riscos de ter doença de Parkinson, diz estudo

Amanda Milléo
15/11/2018 07:00
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Ao retirar o apêndice, de acordo com estudo, a pessoa teria uma redução de 19,3% no risco ou mesmo a postergação do início da doença. Foto: Bigstock

A partir dos 65 anos, 1% da população mundial irá desenvolver a doença de Parkinson, de acordo com estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS). Embora seja menos prevalente que o Alzheimer, a quantidade de pessoas que conviverá com a doença (e suas sequelas) é considerável, e as causas reais continuam desconhecidas pelos médicos e especialistas.
Há, no entanto, suspeitas do que possa desencadear essa condição neurodegenerativa. Uma delas, divulgada recentemente por pesquisadores norte-americanos, franceses, suecos e canadenses, lança luz a uma atuação do apêndice — outro órgão cuja exata função no organismo ainda não está completamente clara.
Em estudo divulgado pela revista científica Science Translational Medicine no fim de outubro, os pesquisadores perceberam que uma das proteínas consideradas uma marca da doença de Parkinson, a alfa-sinucleína, também é encontrada, em grande quantidade e na sua forma patogênica, no apêndice.
Ao retirar o apêndice, portanto, a pessoa teria uma redução de 19,3% no risco ou mesmo a postergação do início da doença. Para chegar a essa resposta, os pesquisadores analisaram os resultados de dois bancos de dados independentes, que envolveram mais de 1,6 milhão de pessoas.
Os pesquisadores descobriram que quem havia retirado o apêndice anos antes tinha um risco menor de a doença surgir. Essa associação era vista principalmente entre quem vivia em áreas rurais — com maior proximidade a agrotóxicos, conhecido fator que pode levar ao desencadeamento do Parkinson.
A causa da TDPM está associada a uma má resposta das células nervosas em relação a serotonina, neurotransmissor responsável pelo humor e regulação do sono. Foto: Bigstock<br>
A causa da TDPM está associada a uma má resposta das células nervosas em relação a serotonina, neurotransmissor responsável pelo humor e regulação do sono. Foto: Bigstock<br>
“A exposição ao agrotóxico pode levar ao Parkinsonismo, e geralmente é mais difícil de ser tratado. Embora possam ser sintomas que simulam o Parkinson, mas não exatamente a doença, as pessoas que vivem em área rural, em maior contato com os agrotóxicos, tem um risco maior de Parkinson também. Há vários estudos que comprovam isso e vemos na Associação essa diferença”, explica Renata Ramina, médica neurologista do hospital Pilar e diretora clínica da Associação Paranaense dos Portadores de Parkinsonismo.

Sintomas que denunciam

A possível relação da doença de Parkinson com outros órgãos no organismo — além do cérebro — já vem sendo estudada há anos. Isso porque os especialistas perceberam que os primeiros sinais da doença não traduzem a visão que o senso comum tem do Parkinson, com os sintomas de lentidão e dificuldade motora.

“O Parkinson tem sintomas que antecedem muito o descobrimento da doença, como o intestino preso, alteração do sono, perda de olfato e depressão. Mas, nem sempre a pessoa associa a uma condição e procura pelo médico. Quando o diagnóstico é finalmente feito, o paciente já perdeu 60% a 70% de neurônios na substância negra do cérebro”, explica Renata Ramina, médica neurologista. 

A relação com o intestino — justamente pelos sintomas que o paciente com Parkinson desencadea — também é reforçada pela presença de neurônios dentro do órgão do sistema digestivo. “Acredita-se que o intestino tenha muito neurônios. Tanto que o chamam de segundo cérebro. Acredita-se ainda que ali começa o Parkinson, que sobe pelo nervo vago e compromete o cérebro. Mas, é tudo teoria ainda”, reforça a especialista.
Fique atento, porém, se os seguintes sinais aparecem com frequência, e procure um médico:

Alteração no sono; Fadiga, falta de equilíbrio ou tontura; Sinais de depressão; Confusão mental, amnésia, dificuldades em pensar e compreender; Dificuldade na fala; Perda de olfato ou sinais de que o sentido está comprometido; Incontinência urinária; Na musculatura: instabilidade, rigidez, complicações para se locomover.

Tratamentos atuais

Atualmente, o Parkinson não tem cura, mas os sintomas conseguem ser bem controlados com o uso de medicamentos. Como a doença reflete uma deficiência do neurotransmissor dopamina, o principal tratamento visa a reposição dessa substância. “Esse ainda é e vai continuar a ser, por um tempo, o principal tratamento no Parkinson”, explica Renata Ramina, médica neurologista.
Em casos que o paciente, mesmo testando diferentes medicações, não consegue ter o controle dos sintomas, pode ser indicada a cirurgia. Nesta, conforme explica Ramina, a pessoa tem um núcleo no cérebro lesado, o que pode ser feito por um eletrodo que inibe a ação dessa região. Isso ajuda na manutenção dos sintomas, e da qualidade de vida.
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