Saúde e Bem-Estar

Soomi Lee, David Almeida, Orfeu Buxton e Ross Andel

Sono atrasado em apenas 16 minutos prejudica concentração do dia seguinte

Soomi Lee, David Almeida, Orfeu Buxton e Ross Andel
23/05/2019 17:00
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Entre os participantes da pesquisa, dormir apenas 16 minutos a menos do que o habitual foi associado a um ponto adicional na escala de interferência cognitiva no dia seguinte. Foto: Bigstock.

Você teve um desempenho no trabalho abaixo do esperado ultimamente? Você tem devaneios ou está tomando decisões erradas? Pode não ser por causa do seu trabalho, mas de seu sono. E não é tudo culpa sua.
Cada um de nós, autores deste texto, estuda diferentes aspectos da saúde e do envelhecimento. Um estudo recente que conduzimos descobriu que o sono ruim pode inibir o julgamento e levar a desatenção nas tarefas e distração no trabalho. Fazer do sono uma prioridade pode melhorar o desempenho cognitivo no trabalho.

Menos sono, menos concentração

Usando dados diários, ao longo de oito dias, de uma amostra de 130 trabalhadores de meia-idade em uma empresa de TI dos EUA, descobrimos que as características de sono da noite anterior prediz a “interferência cognitiva” no dia seguinte – a experiência de distração e de pensamentos alheios à tarefa.
Para a mensuração, usamos uma escala de 5 pontos (0 = nunca a 4 = muito frequentemente) e calculamos a média de respostas em nove itens que medem a experiência de pensamentos alheios à tarefa e a distração do que o habitual. Por exemplo, uma das perguntas era “Com que frequência você teve pensamentos que continuaram invadindo sua sua cabeça hoje?”

Nos dias que se seguiram a um sono de menor qualidade e mais curto do que o habitual, os trabalhadores relataram mais interferência cognitiva. Entre os participantes, dormir apenas 16 minutos a menos do que o habitual foi associado a um ponto adicional na escala de interferência cognitiva no dia seguinte.

Os participantes também relataram que depois de experimentar mais interferência cognitiva em um determinado dia, eles iriam dormir mais cedo e acordar mais cedo do que o normal devido à fadiga.
A ligação entre o sono da noite anterior e a interferência cognitiva no dia seguinte foi mais aparente nos dias úteis e menos nos dias não úteis. Talvez os participantes tenham mais oportunidades de interferência cognitiva e menos oportunidades de dormir durante os dias de trabalho. Os resultados sugerem que colocar uma ênfase maior na melhoria da saúde do sono resultará em um desempenho de trabalho mais eficaz.

A partir dos resultados deste estudo, deduzimos que o sono curto pode reduzir a produtividade no trabalho. Estudos experimentais anteriores realizados em laboratório mostraram que a privação do sono, como a restrição da duração do sono a quatro ou cinco horas, tem efeitos negativos sobre o desempenho em testes cognitivos.

Contudo, existe uma carência de estudos empíricos que examinem a relação entre sono e funcionamento cognitivo na vida do dia-a-dia dos participantes. Nosso estudo acrescenta evidências empíricas de que um sono mais fraco na noite anterior ao trabalho resultará em atividade mental mais lenta, atraso na tomada de decisões e, potencialmente, um aumento nos erros.

Menos sono, mais estresse

Em trabalhos colaborativos anteriores, eu (Soomi Lee) também encontrei que o sono ruim pode levar a mais fatores de estresse e conflitos no dia seguinte. Nos dias que se seguiram a um sono com quantidade e qualidade menores de sono do que o habitual, os participantes relataram maiores conflitos entre trabalho e família do que o usual.

E nos dias que se seguiram a um sono mais curto e a de menor qualidade do que o habitual, os participantes relataram menos tempo para se exercitarem e também menos tempo para os filhos.

Os dados de ambos os estudos são de um estudo maior chamado Work, Family & Health Study (Estudo do Trabalho, Família e Saúde, em tradução livre), que foi desenhado para examinar empresas com muitas sedes dos setores da tecnologia da informação e de casas de repouso.
Os dois estudos utilizaram uma amostra de trabalhadores de TI, o que representa uma força de trabalho de um maior nível profissional e renda mais alta. Os trabalhadores deste setor ocupacional tendem a trabalhar longas horas e experimentam uma linha frágil entre trabalho e vida pessoal.
As horas extras, as ligações telefônicas frequentes após o horário de trabalho, os e-mails atrasados relacionados ao trabalho e as reuniões ao alvorecer, como as das 7h ou 8h, podem interromper o sono dos trabalhadores.
Prestar atenção à saúde do sono parece ser importante até mesmo para uma vida profissional bem-sucedida. Foto: Bigstock.
Prestar atenção à saúde do sono parece ser importante até mesmo para uma vida profissional bem-sucedida. Foto: Bigstock.
Os resultados mostram que o sono dos trabalhadores pode afetar o desempenho no trabalho em vários aspectos, incluindo na tomada de decisão e com a presença de pensamentos intrusivos. As queixas de sono são prevalentes na população adulta, especialmente entre os trabalhadores.
Aproximadamente 40% dos trabalhadores dos EUA relatam sintomas de insônia. Estes sintomas podem prejudicar o funcionamento diário dos trabalhadores de meia idade de diversas maneiras. Desta forma, prestar atenção à saúde do sono parece ser importante até mesmo para uma vida profissional bem-sucedida.

Na mesma linha, os empregadores também precisam fazer esforços para promover ou, pelo menos, não perturbar sistematicamente o sono de seus funcionários; bom sono pode promover a produtividade do trabalho e tornar o ambiente de trabalho menos estressante.

Algumas dicas de sono

Para priorizar o sono, indivíduos e organizações precisam agir. As organizações podem criar e estimular uma cultura que minimize qualquer atividade profissional que atrapalhe o sono, como telefonemas fora do horário de trabalho, qualquer senso de obrigação de responder a e-mails após o expediente e reuniões no início da manhã.
Os colaboradores também podem estabelecer boas rotinas de sono e segui-las todos os dias. Por exemplo, eles precisam desligar os telefones e ignorar os e-mails após uma determinada hora, depois das 21h por exemplo, para “ligar” um modo relaxado antes de deitar-se e dormir pelo menos sete horas.
O exercício regular também pode ser benéfico para ter um sono de boa qualidade. Um desafio é que a maioria dos trabalhadores sente que tem muito a fazer e não tem tempo para dormir e se exercitar.
No entanto, eles precisam interromper o ciclo vicioso entre o sono ruim e o baixo desempenho. Quando o sono é roubado no dia-a-dia, haverá um alto custo a pagar em termos de saúde mais tarde, e talvez a produtividade de amanhã.
Tradução de Giovani Formenton.
©2019 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.
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