Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

No futuro, estresse poderá ser combatido com vacina

Amanda Milléo
21/06/2019 15:00
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Pesquisadores estão desenvolvendo uma espécia de vacina contra o estresse (Foto: Bigstock)

Combater o estresse, no futuro, poderá ser mais fácil. Pesquisadores norte-americanos e europeus descobriram que uma bactéria presente no solo era capaz de reduzir a reação de estresse em camundongos. Embora a pesquisa ainda esteja em fase inicial, futuramente eles imaginam poder desenvolver uma espécie de vacina, voltada aos humanos, que controle as reações de luta/fuga.
Para verificar essa ação, os pesquisadores injetaram bactérias da espécie Mycobacterium vaccae (ou M. vaccae) nos roedores antes que eles fossem expostos a uma situação de estresse. O resultado foi animador, visto que os camundongos não tiveram sintomas de estresse pós-traumático, mas os estudiosos não sabiam de que forma as bactérias atuavam.
Em um artigo publicado mais recentemente, divulgado em maio de 2019 pela revista científica Psychopharmacology, eles trouxeram a resposta. Células de lipídio (gordura) das bactérias ligam-se aos receptores das células do sistema imunológico dos camundongos, bloqueando a ação química que leva à inflamação e ao estresse.

“O artigo é bastante sério, de impacto, e muitos dados podem ser considerados, embora tenham que amadurecer a pesquisa. Eles perceberam que essa bactéria, a M. vaccae, consegue atenuar o exagero induzido pelo estresse e acreditam que em 15, 20 anos consigam transformar em uma espécie de vacina. Eles usam ‘vacina’ para simplificar, mas via de ação é diferente”, explica Ricardo Corrêa da Cunha, educador físico doutor em Biotecnologia na Saúde da Criança e do Adolescente, e professor de Educação Física da Universidade Positivo.

Em uma vacina tradicional, a exposição ao agente (seja vírus ou bactéria) atenuado, ou em partes dele, incentiva o sistema imunológico a produzir anticorpos que, quando encontrar as ameaças reais, saiba o que fazer. Neste caso, trata-se de uma bactéria que consegue reduzir a reação do organismo frente a uma ameaça, ou ao estresse.
“A pesquisa é bem interessante, mas é preciso levar em consideração os fatores que levaram ao estresse, que no final gera a inflamação. O estresse, porém, é multifatorial. Como analogia, ao tratar uma dor, posso tomar um anti-inflamatório, mas se eu não souber, e nem tratar, que a fonte daquela dor é uma lesão, ela volta”, exemplifica Cunha.

Preciso mesmo ficar sem me estressar?

É comum acharmos que o estresse é algo muito negativo, mas nem sempre é o caso. O estresse também é uma reação positiva do organismo, que faz com que a gente se mexa frente a uma ameaça ou susto. O problema está em manter essa reação estressante o tempo todo. Afinal, o corpo precisa ficar mais momentos relaxado do que em alerta.

“A vida sem estresse não seria bem uma vida. Existe o estresse bom, e o ruim. O bom é aquele que te impulsiona, que te faz trabalhar. Mas tem um limite para isso. Se ele se mantém, gera substâncias no organismo como adrenalina e cortisol que não podem ficar em exagero”, explica Henrique Suplicy, médico endocrinologista, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR). 

Mesmo que seja intenso, o estresse também pode ser rápido — e, nesse caso, não há motivo em “medicá-lo”. “É muito difícil separar um estresse intenso de um estresse menor. Às vezes é intenso, mas em uma duração pequena. Você se estressa no trânsito, mas é naquela hora. Você vai tomar uma “vacina” para isso? O estresse não fica sempre no organismo, ele vai e volta”, explica o especialista, que reforça que a pesquisa citada ainda é muito inicial para pensarmos nas consequências aos humanos.
"Vacina" contra o estresse será o futuro do tratamento (Foto: Bigstock)
"Vacina" contra o estresse será o futuro do tratamento (Foto: Bigstock)

Como controlar o estresse hoje

Se você perceber que o seu corpo está passando muito mais tempo em alerta do que relaxado, confira as sugestões da psicóloga Josiane Knaut, coordenadora do laboratório de Estudos sobre Estresse e Qualidade de Vida da UP, em Curitiba:
“O estresse é uma resposta psicofisiológica do organismo, que ocorre em várias situações. Por exemplo, quando eu levo um susto, quando me excito, quando me amedronto. O problema do estresse no dia a dia é que estamos cronificando a resposta do organismo, e ficamos em estado de alerta constante, levando ao transtorno de ansiedade. Pensando nesse desequilíbrio, é importante ter estratégias que retomem o equilíbrio”, explica a especialista.
  1. Observe a respiração. A respiração é vista como um antídoto contra o estresse e ela que ajuda a encontrar um ritmo adequado em momentos de estresse. Respire profundamente, segure o ar e solte devagar até encontrar um ritmo mais equilibrado.

  2. Perceba a musculatura. Em geral, a musculatura em momentos de estresse fica ativada. Observe cada parte do corpo, rapidamente, e relaxe, solte os músculos.

  3. Batimentos cardíacos. Do ponto de vista científico, quando a pessoa observa os batimentos, você ativa o ramo Parassimpático do Sistema Nervoso Autônomo, favorecendo o estado de relaxamento (enquanto o sistema Simpático acelera, colocando a pessoa em estado de alerta, o Parassimpático relaxa, volta ao equilíbrio).

A recomendação da psicóloga é que se faça o passo a passo acima pelo menos três vezes ao dia, durante cinco minutos. “Não é nada complicado, o tempo é curto e o retorno é grande. Numa próxima situação de estresse, a pessoa consegue sair dela mais rapidamente, porque sabe como retomar o equilíbrio”, diz.

“Isso é suficiente? Não. Ajuda muito. Mas a pessoa precisa aprender a lidar com as situações que saem fora do controle. Por isso vale a psicoterapia, um entendimento do que acontece e ter estratégias de enfrentamento. Mas em um primeiro momento é muito importante a pessoa recobrar o equilíbrio corporal, sair da resposta de luta ou fuga”, explica a psicóloga.

Outras medidas que devem ser adotadas são os hábitos de vida: exercícios físicos regulares, alimentação equilibrada e balanceada e cuidado com a saúde mental. 

“O ideal é ter uma alimentação saudável, sono adequado, exposição ao sol, realização de atividades prazerosas, exercícios físicos de rotina e, um importantíssimo: relações interpessoais significativas. Pessoas sozinhas ou isoladas têm um nível de estresse maior”, reforça a especialista.

Eu não tenho tempo

Um dos grandes fatores de estresse — que acomete grande parte das pessoas — é a suposta falta de tempo. “Dentro da sociedade e do momento em que vivemos, quanto mais coisa fizermos, em menos tempo, melhor. As pessoas ficam sufocadas para fazerem cada vez mais, e não estabelecem prioridades. Quando você aprender a estabelecer prioridades, você vai gerir melhor seu tempo e reduzir o estresse”, sugere Josiane Knaut, psicóloga.
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