Saúde e Bem-Estar

Maria Miqueletto, especial para a Gazeta do Povo

Pesquisadores descobrem qual exercício promove maior perda de peso

Maria Miqueletto, especial para a Gazeta do Povo
25/03/2019 07:00
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Segundo descobertas de pesquisadores brasileiros publicadas no British Journal of Sports Medicine, o HIIT é, de fato, o método mais eficaz para perda de peso. Foto: Bigstock

Há alguns meses a coach Bianca Silva Pereira Caselato, de 33 anos, começou a sentir alguns desconfortos em seu corpo. A falta de energia e o descontentamento com o excesso de peso a motivaram a mudar sua rotina. Ela começou com a academia e, por indicação de seu personal, decidiu experimentar o HIIT, o treinamento intervalado de alta intensidade.
Para Bianca, que tinha como meta perder 15 quilos, foi a decisão correta. Segundo descobertas de pesquisadores brasileiros publicadas no British Journal of Sports Medicine, o HIIT é, de fato, o método mais eficaz para perda de peso.

“Sabemos que o modelo mais eficiente para emagrecer é o que leva a pessoa ao máximo e, assim, faz ela perder mais gordura”, comenta um dos autores, o especialista em Fisiologia do Exercício e professor da Universidade Federal de Goiás Paulo Gentil. O estudo compara os efeitos do HIIT com o treino moderado contínuo.

O segredo do HIIT está na intensidade. Independentemente do exercício realizado, o que realmente importa é levar o praticante ao seu máximo por alguns segundos.
Bianca Silva Pereira escolheu o HIIT para perder peso: o exercício exige mais e continua "queimando" após a prática. Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Bianca Silva Pereira escolheu o HIIT para perder peso: o exercício exige mais e continua "queimando" após a prática. Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo
“Pode fazer no parque, em casa, nas escadas do prédio, o mais importante é fazê-lo [o exercício] em uma alta intensidade”, ressalta Paulo. A modalidade repete um padrão: alta intensidade, seguida de um breve período de descanso. É assim sucessivamente durante todo o treino.
O especialista ainda explica que o grande diferencial do exercício não está relacionado ao momento do treino em si, mas ao que acontece no corpo após a sessão.

“Para o corpo se recuperar [do exercício], ele é obrigado a continuar gastando caloria. Em alguns casos o gasto energético de repouso dura até o dia seguinte”, complementa.

A lógica do “quanto mais, melhor” não se aplica a esse caso. Os treinos do HIIT têm, em média, 20 minutos e são realizados três vezes por semana. Isso porque o corpo precisa ter esse intervalo de recuperação, é a fase em que ele continua queimando gorduras.
“Essa visão tradicional do emagrecimento, de olhar o que acontece só na hora do exercício, é limitada. Nesse caso as enzimas continuam trabalhando muito tempo depois, afirma o especialista. “Normalmente a pessoa fecha a boca e faz muito exercício [para emagrecer], mas aqui já vi pessoas [fazendo o HIIT] que dobraram a quantidade de comida e ainda emagreceram”, relembra Paulo.
Menos tempo, mais resultado
A coach Bianca faz parte dos milhares de brasileiros que decidiram usar o tempo livre para fazer exercícios nos últimos anos – foi um aumento de 24,1% de 2009 a 2017, segundo dados da Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), de 2017, do Ministério da Saúde. O levantamento mostra ainda que mais da metade (54%) da população das capitais brasileiras está com excesso de peso.
O HIIT aparece como uma boa solução nesse cenário também por seu tempo reduzido. O educador físico e especialista em Atividade Física e Saúde Fabiano Klemtz Barbosa conta que esse é um dos grandes chamarizes do exercício.
A Academia Corpus, onde Fabiano é coordenador geral, criou uma turma da modalidade — a Burning Corpus — para atender às demandas há sete meses. “Hoje em dia as pessoas têm pressa para tudo. Então a maioria procura o exercício para perder peso e por ser um treino rápido”, afirma.

“O tempo que a pessoa investe no HIIT traz três vezes mais resultado que no treino de baixa intensidade”, afirma o pesquisador Paulo Gentil.

A alta intensidade de cada um
Um ponto importante da prática é entender que alta intensidade tem um significado distinto para cada pessoa. Para quem está em forma, correr é intenso, mas para um sedentário uma caminhada acelerada já resolve, por exemplo. Justamente por isso o treinamento precisa ser personalizado.
O nome complexo esconde a simplicidade do treino: até polichinelos podem ser usados durante a sessão. Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo.
O nome complexo esconde a simplicidade do treino: até polichinelos podem ser usados durante a sessão. Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo.
“O que passa na cabeça das pessoas com ‘alta intensidade’ é alguém fazendo uma proeza atlética, mas não é bem assim. Varia para cada um”, indica Paulo, que também é autor do livro “Emagrecimento: Quebrando Mitos e Mudando Paradigmas”. Em seu programa de 23 minutos, ele leva o praticante a sua capacidade máxima por 30 segundos por vez.
Além da perda de peso
O HIIT não é eficaz apenas para perda de peso. Fabiano conta que, por utilizar grandes grupos musculares, o treinamento promove um fortalecimento físico geral, além de melhorar a capacidade cardiovascular.
“Conseguimos fazer pessoas pararem de tomar remédios com o treino intervalado. Já vimos resultados em reverter diabetes tipo 2 e insuficiência cardíaca”, conta Paulo. Ele ainda relembra que o exercício já foi usado para tratar problemas cardiometabólicos dentro do hospital, melhorar a funcionalidade de idosos em asilos e aperfeiçoar a performance de atletas de alto nível.
A supervisão faz diferença
Por mais que seja alta intensidade, não é perigoso se for feito da maneira correta. Segundo os estudos de Paulo, a supervisão faz toda a diferença nos resultados. “É possível a pessoa ter disciplina para fazer o exercício sozinha, mas vemos que ter um profissional ao lado para prescrever e acompanhar ajuda”, ressalta.
Por mais que os riscos tenham sido nulos nos estudos, em especial por causa do acompanhamento profissional, Paulo indica fazer uma avaliação prévia para descobrir qual atividade o praticante consegue fazer em uma intensidade elevada.
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