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Conhecer os gatilhos que dão início à dor de cabeça é fundamental para o tratamento. (Foto: Bigstock)
Conhecer os gatilhos que dão início à dor de cabeça é fundamental para o tratamento. (Foto: Bigstock) | Foto:

Enxaqueca não é uma dor de cabeça um pouco mais forte. Trata-se não de um sintoma, mas de uma doença, que exige diagnóstico e tratamentos específicos. Nem todos os médicos, porém, e menos ainda pacientes, tendem a reconhecer as diferenças, aumentando o preconceito à doença e atrapalhando o tratamento.

>> Aprovado novo medicamento para enxaqueca que pode ser tomado uma vez por mês

De acordo com o estudo global My Migraine Voice, realizado pelo grupo farmacêutico Novartis e pela Aliança Europeia para Enxaqueca e Cefaleia, mais da metade das pessoas (60%) que sofrem com a enxaqueca grave, ou crônica, perdem uma semana de trabalho por mês, em média. E pelo menos um a cada três entrevistados (37%) disse sofrer com a enxaqueca há 16 anos ou mais.

Das pessoas que relataram ter pelo menos quatro dias de enxaqueca por mês, 90% fez uso de algum tratamento preventivo. Ainda assim, a doença tende a reduzir a produtividade no trabalho pela metade (53%) e, por mais que a maioria dos empregadores soubessem da doença (63%), somente 18% ofereciam apoio.

“As pessoas acham que a enxaqueca é só uma dor de cabeça, mas não vêem que é uma doença neurológica e não imaginam a incapacidade que ela gera. Divulgar a doença, tanto para a população que tem e se sente culpada, quanto para as pessoas que não têm, ajuda muito os pacientes”, diz Thais Villa, médica neurologista, chefe do setor de Cefaleias da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e membro diretor da Sociedade Brasileira de Cefaleia.

Atualmente, a enxaqueca é a terceira doença mais incapacitante em pessoas jovens, entre os 18 e 50 anos. 

A incapacidade não está apenas no absenteísmo do trabalho, mas também no desempenho, nas atividades de lazer, de estudo, nas relações sociais e familiares, conforme explica Paulo Faro, médico neurologista e chefe do setor de Cefaleia e Dor Orofacial do Instituto de Neurologia de Curitiba.

“As pessoas não compreendem, acham que a pessoa é preguiçosa porque falta ao trabalho, ou que não se esforça, é mau profissional, quando na verdade ela não consegue”, explica Faro.

Para o estudo, foram entrevistadas 11 mil pessoas de 31 países, incluindo o Brasil. A coleta das informações foi realizada através de um questionário on-line de 30 minutos, entre os meses de setembro de 2017 e fevereiro de 2018.

Identifique a enxaqueca

Uma das principais batalhas dos médicos especialistas é encontrar pacientes que sofrem com a enxaqueca antes que eles exagerem nos medicamentos analgésicos e a enxaqueca se transforme de uma dor episódica para uma doença crônica.

“O remédio que um dia faz efeito, com o decorrer do tempo, não faz mais, e a pessoa passa de um comprimido para dois. Depois, dois não funcionam mais, troca de remédio, toma outro e aumenta a dose. A dor, ao invés de levar um dia para passar, leva dois”, explica Paulo Faro, médico neurologista.

Não raro, o especialista relata que encontra pacientes que fazem uso de remédios todos os dias e acabam desenvolvendo outro tipo de dor: a cefaleia por uso excessivo de analgésicos. “A dor de cabeça por uso excessivo de remédios também está entre as 20 doenças mais incapacitantes entre os jovens”, reforça o médico.

Contra a enxaqueca, há tratamentos com efeitos importantes na redução dos sintomas e, recentemente, foi lançado um novo medicamento voltado exclusivamente contra a doença: o erenumab. Formado a partir de um anticorpo monoclonal, o medicamento atua contra a molécula CGRP (peptídeo relacionado ao gene da calcitonina), cujo impacto na gênese das enxaquecas está comprovado em estudos.

Sintomas principais 

Embora nenhum exame indique a presença da enxaqueca, a doença é diagnosticada através de uma lista de sintomas. São eles, conforme a Classificação Geral das Cefaleias:

Dor de cabeça de duração de quatro a 72 horas;

Dor de cabeça unilateral, latejante;

Dor de cabeça de forte a moderada intensidade, e que piora com esforços;

Dor associada, ou não, com náusea, incômodo com a luz e barulho.

“Se o paciente preenche esses sintomas, podemos identificar a enxaqueca. Se diz que isso acontece uma vez por mês, é do tipo episódica. Mas, se forem 20 dias de dor e, 10 deles têm essas características, é sinal de uma enxaqueca crônica”, explica Paulo Faro, médico neurologista.

Mantenha os gatilhos afastados

De causa genética, a enxaqueca também carrega a hereditariedade. Logo, se tiver familiares com a doença, o risco de desenvolvê-la aumenta, e os fatores ambientais colaboram no desencadeamento.

Embora a enxaqueca seja igual em todas as idades, a forma como se apresenta muda conforme os grupos. Em crianças, segundo Thais Villa, médica neurologista, meninos e meninas têm a mesma prevalência e os sinais são os mesmos. A diferença começa a partir da puberdade, com a modulação hormonal.

Meninas tendem a apresentar mais enxaqueca que os meninos, por causa dos hormônios. A apresentação, ao longo da vida, também muda conforme as diferenças hormonais, o uso excessivo de remédios, os gatilhos, como luz, barulho. Na pós menopausa, mulheres podem tanto continuar com os sintomas, quanto reduzir e os homens, menos protegidos pela testosterona, também podem ter sinais mais intensos“, explica a neurologista.

Obesidade, segundo Villa, é um fator de risco sabido para quem já tem a enxaqueca, podendo torná-la crônica. Não significa, porém, que alguém sem a doença venha a desenvolvê-la com o sobrepeso. “Para apresentar a enxaqueca, tem que ter o gene que predisponha. Mas, sim, sedentarismo, obesidade, uso de analgésicos e mulheres correm o risco de terem crises mais frequentes“, finaliza Villa.

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