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Desde 2012, o uso da pílula como prevenção do HIV é liberado nos Estados Unidos. Foto: Getty Images
Desde 2012, o uso da pílula como prevenção do HIV é liberado nos Estados Unidos. Foto: Getty Images| Foto:

Nos próximos seis meses, o Ministério da Saúde disponibilizará pelo Sistema Único de Saúde (SUS) um medicamento capaz de prevenir a infecção pelo vírus HIV. A prevenção da doença, conhecida como PrEP (Profilaxia Pré-Exposição), será feita inicialmente em um grupo de 7 mil pessoas em 12 cidades brasileiras, Curitiba incluída. O medicamento é conhecido como Truvada e sua indicação foi aprovada pela Anvisa na última quinta-feira (25).

Desde 2012, o uso da pílula como prevenção do HIV é liberado nos Estados Unidos e a Organização Mundial da Saúde (OMS) já recomendava, na época, o medicamento como política pública de prevenção. O Truvada é uma marca comercializada nos EUA e em outros países, mas não há certeza quanto à sua importação. Se uma licitação não for realizada pelo ministério da Saúde, o país poderá produzir o medicamento genérico.

De acordo com o Ministério da Saúde, os estudos no país norte-americano comprovaram a eficiência do Truvada em 90%. O foco da PrEP é voltado a grupos específicos, como casais soro diferentes, homossexuais, profissionais do sexo e pessoas transgênero.

No Brasil, o programa PrEP Brasil funciona desde 2014 e tem quatro centros de pesquisa, entre eles a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Segundo Ricardo Vasconcelos, médico infectologista e coordenador médico do projeto, dos quase 600 participantes do PrEP Brasil, nenhum foi infectado pelo vírus. “As pessoas que fizeram a PrEP corretamente não contraíram a doença; houve, sim, surgimento de novos casos de HIV, mas apenas quando o remédio não era utilizado do modo certo”, afirma.

Para o especialista, a decisão do governo chegou em boa hora. “Estamos há muito tempo lutando por isso e pela primeira vez temos no Brasil o que existe de mais moderno quando o assunto é prevenção do HIV”, comemora.

Além da capital paranaense, Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Fortaleza, Recife, Manaus, Brasília, Florianópolis, Salvador e Ribeirão Preto também participarão dos estudos para o uso do remédio.

O que é a pílula anti-HIV

O comprimido é composto por dois medicamentos antirretrovirais, o fumarato de tenofovir desoproxila (TDF, 300 mg) e a emtricitabina (FTC, 200 mg). Estas substâncias são conhecidas – fazem parte do tratamento contra a doença há anos. Juntas, elas impedem a multiplicação do vírus no organismo e, por mais que ele tente, não consegue infectar outras células. Depois de algum tempo, o vírus morre.

Como deve ser feita a prevenção?

O comprimido deve ser ingerido uma vez por dia, todos os dias. Caso a pessoa fique um dia sem tomá-lo, não tem problema, garante Vasconcelos: “o remédio ainda estará circulando no sangue”.

A prevenção pode ocorrer por tempo indeterminado, à escolha do paciente. “É importante lembrar que a estratégia da prevenção não é só tomar o comprimido, mas vincular o uso ao aconselhamento médico e ao rastreamento de possíveis infecções”, diz.

Efeitos colaterais

Segundo Vasconcelos, nas primeiras quatro semanas de uso, sintomas como enjoo, refluxo e asia são comuns. “Depois da quinta semana isso melhora. É um efeito que ocorre em muitas pessoas que tomam medicamentos diariamente”, afirma.

O único efeito colateral grave foi notado entre 5% e 7% dos pacientes. Eles apresentaram uma lesão renal que, de acordo com o especialista, pode ser facilmente tratada se identificada num primeiro estágio. “Por isso, é importante que o indivíduo esteja constantemente com acompanhamento médico trimestral. Muitas pessoas que compram o medicamento importado ficam tomando o comprimido por muito tempo sem realizar os exames de rastreamento de infecções”, alerta.

De acordo com nota oficial, a Anvisa alerta que a pílula anti-HIV deve ser utilizada apenas por pessoas que sejam comprovadamente HIV-negativas. “Isto se deve ao dado de que Truvada isoladamente pode gerar o aparecimento de substituições de resistência ao vírus caso seja administrado em indivíduos com infecção não detectada por HIV-1, pois o Truvada administrado isoladamente não constitui um regime completo para o tratamento.”

Incidência do HIV no país

De acordo com dados do Ministério da Saúde, 827 mil pessoas são portadoras do vírus HIV no Brasil, sendo que, deste total, 372 mil ainda não estão em tratamento e 112 mil não sabem que estão infectadas. Embora a epidemia esteja estável na população em geral, com taxa de detecção em torno de 19,1 casos para cada 100 mil habitantes, o índice de 40 mil novos casos ao ano exige atenção e aperfeiçoamento constante da prevenção.

O crescimento da Aids entre os jovens (15 a 24 anos) – a incidência aumenta nessa faixa etária principalmente entre homens que fazem sexo com homens – também é motivo de preocupação, com a taxa de detecção tendo triplicado entre 2006 e 2015, passando de 2,4 casos para 6,9 casos por 100 mil habitantes.

Na faixa etária de 20 a 24 anos, esse número dobrou, indo de 15,9 para 33,1 casos por 100 mil habitantes. Em complemento, o Boletim Epidemiológico de HIV/AIDS registra que, enquanto a prevalência do HIV na população em geral é de 0,4%, nas mulheres profissionais de sexo é de 4,9% e entre homens que fazem sexo com outros homens é de 10,5%.

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