Saúde e Bem-Estar

Julliana Bauer, especial para Gazeta do Povo

De ora-pro-nóbis à taioba: plantas brasileiras são nutritivas e negligenciadas

Julliana Bauer, especial para Gazeta do Povo
15/10/2019 13:00
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As plantas e frutos brasileiros têm aspecto nutricional excelente e devem ser incluídos no cardápio diário. Foto: Bigstock.

Uma pesquisa realizada em 2018 pela Dunnhumby, uma consultoria britânica especializada em ciência do consumidor, mostrou que 48% dos brasileiros afirmam ter uma alimentação saudável.
No entanto, aqueles que confessaram ainda não ter bons hábitos também mostraram se preocupar com os alimentos e as bebidas que consomem.
A pesquisa descobriu também que os brasileiros estão dispostos a gastar um pouco a mais em produtos que consideram saudáveis. Mas e se para incluir itens nutritivos e diferentes não fosse necessário gastar mais?
De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, o Brasil conta com a maior biodiversidade do planeta – mais de 20% do número total de espécies da Terra.
Com isso, temos uma abundância de plantas, sementes, flores, castanhas, folhas e frutos comestíveis, mesmo que, em nosso dia a dia, só tenhamos conhecimento e acesso a uma pequena fração.

“Estima-se que o Brasil tenha em torno de dez mil plantas com potencial alimentício”, ressalta a nutricionista Daniele Dominoni.

Exercitando o olhar e o paladar, é possível encontrar novas opções nutritivas sem precisar ir longe e gastando muito pouco.
Mas o que impede que tenhamos acesso ao potencial nutritivo de toda essa variedade? Para Daniele, a resposta está na industrialização, que fez com que tenhamos deixado de consumir muitos alimentos naturais que eram rotineiros para nossos antepassados.
“Com o crescimento do agronegócio, muitas plantas acabaram sendo esquecidas, e passamos a consumir principalmente as plantas produzidas por ele, como soja, arroz, milho, alface e tomate”, esclarece.
Especialista nas chamadas PANCs (Plantas Alimentícias Não Convencionais), a nutricionista e pesquisadora alimentar Bruna de Oliveira incentiva a prática da coleta. “Tem comida em todo o lugar”, afirma.

Isso porque muitas PANCs são plantas que crescem de forma espontânea, em jardins, quintais e até mesmo em calçadas, e muitas vezes sendo consideradas “mato”.

Ela explica há pesquisas que comprovam que, de aproximadamente 30 mil possibilidades alimentares vegetais no mundo inteiro, o mundo consome, em média, 120 variedades de alimentos no ano.
“É menos de 1% de toda a fitomassa alimentar existente no planeta. Praças, hortas comunitárias, quintais domésticos, hortas caseiras são espaços onde muitas plantas espontâneas com potencial alimentício podem ser encontradas”, recomenda a pesquisadora alimentar.
Daniele também é estudiosa das PANCs, e conta que elas são bem recebidas por seus pacientes no consultório. “Sempre enfatizo seu poder nutricional, e já cheguei até receber mudas de ora-pró-nobis de uma paciente, de tanto que ela gostou da planta”, conta.

Um novo olhar

Mas como inserir novos alimentos em nosso dia a dia? Algo que ambas as nutricionistas recomendam é que alguns deles sejam cultivados dentro de casa.
“Qualquer planta alimentícia, convencional ou não, pode ser cultivada em ambientes domésticos, dependendo das quantidades de luz solar e irrigação que a planta estará exposta”, ensina Bruna.
Ela conta que já cultivou muitas plantas em apartamento: feijão, taioba, bertalha, capuchinha, beldroegas, major gomes, jabuticaba.

Daniele complementa que uma das plantas mais comuns para plantar em casa – e também uma das quais as pessoas mais gostam – é a ora-pro-nóbis, um tipo de trepadeira que, além de ser comestível, dá flores muito bonitas. A taioba, por ter folhas grandes, também pode ser incluída em jardins.

Outra nova forma de repensar os alimentos é redescobrindo o potencial daqueles que já consumimos em nosso dia a dia, e que compramos facilmente no supermercado.
Bruna ensina que as folhas da batata doce, por exemplo, também são comestíveis, e podem ser tanto refogadas como incorporadas em massas de pães. Outro exemplo é o coração e o palmito da bananeira, que assim como a banana, são fontes de potássio.
A pesquisadora reforça também que é preciso valorizar alimentos produzidos localmente, e incentivar os movimentos de agricultura urbana e agroecologia. “Alimentação vai além do garfo e a faca, e começa antes das gôndolas do supermercado”, analisa.

Comida que cura

Além de trazerem mais diversidade à mesa, as PANCs e outros alimentos menos comuns também podem trazer benefícios para a saúde.
É o caso da araruta que, segundo Daniele, pode ser usada como fécula e é uma ótima aliada de pacientes celíacos.

“A araruta ajuda muito nos problemas gastrointestinais, como a síndrome do intestino irritável, devido à presença de fibras. Possui também alta concentração das vitaminas do complexo B, proteína vegetal, e é baixa em caloria, rica em fibras e em potássio, podendo ajudar a reduzir a pressão arterial”, ensina.

No entanto, a nutricionista reforça que é preciso pesquisar bem sobre qualquer novo alimento antes de ingeri-lo.
“O mais importe sempre é buscar conhecer melhor qualquer planta que se escolha para levar à mesa, pois algumas, por apresentarem fatores antinutricionais, devem somente ser consumidas refogadas ou cozidas, como é o caso da taioba”, aconselha.
PLANTAS DO BRASIL
Com a ajuda de Daniele, e também do livro 50 Plantas e Frutos Brasileiros que Turbinam a Saúde, das autoras Regina Célia Pereira e Thaís Manarini, escolhemos 18 opções de raízes, frutos, folhas e plantas brasileiras que trazem diversidade e saúde à mesa. Confira:
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