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Este isolamento tem uma parcela cultural: a sociedade muitas vezes não ajuda a promover uma inserção desta mãe, agora com um filho. Foto: Bigstock
Este isolamento tem uma parcela cultural: a sociedade muitas vezes não ajuda a promover uma inserção desta mãe, agora com um filho. Foto: Bigstock| Foto:

Na maioria das vezes não é intencional. Sequer é planejado. Muito menos desejado e, às vezes, nem mesmo percebido. No entanto, após o período inicial de adaptação da mulher com a chegada do bebê, a realidade traz uma nova perspectiva: o isolamento social da mãe.

“Não dá para definir quando isso começa e a hora em que pode acabar. Esse isolamento depende do tempo de cada mulher — de como ela se descobre e se organiza como mãe”, diz a psicóloga da Paraná Clínicas, Rafaela Teixeira.

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Este isolamento tem uma parcela cultural: a sociedade muitas vezes não ajuda a promover uma inserção desta mãe, agora com um filho. “É corrente que se idealize a maternidade como uma nova fase de vida, mas na hora de integrar esta família, as cidades não oferecem, normalmente, muitas alternativas, e as famílias, ao adotarem uma postura omissa, não colaboram”, comenta.

Estratégia para incluir

Felizmente, há programas mais inclusivos. O projeto CineMaterna, criado em 2008, é um exemplo. Presente em mais de 50 cidades brasileiras, promove sessões de cinema adaptadas para que mães e pais possam ir com seus bebês — a sala não fica completamente escura, o volume é diminuído e existem espaços para a troca de fraldas e roupinhas.

Foto: Bigstock
Foto: Bigstock

Irene Nagashima, fundadora da ONG CineMaterna, conta que o objetivo é ir além do cinema: “a ideia é permitir à mãe, em especial, que saia de casa por um período, que volte a dirigir, que se arrume para um passeio e que interaja com outras mulheres na mesma fase de vida, se sentindo normal e aceita”, conta.

“A maternidade é o momento de maior mudança na vida de uma mulher. O primeiro filho é um grande choque e sabemos que deixar o bebê sob o cuidado de outras pessoas pode ser um desafio. A amamentação torna o período ainda mais intenso”, considera Irene.

Neste momento, contar com uma rede de apoio é fundamental e saudável, “não precisamos, como mães, ser autossuficientes. Podemos e devemos pedir ajuda, contar com os outros. A maternidade tem uma carga emocional e física muito grande e, se não cuidar, a mulher pode adoecer”, alerta.

Ela conta que são inúmeros casos, ao longo desses dez anos de projeto, de mulheres que se conheceram e viraram melhores amigas ou sócias em novos negócios, de vizinhas que se encontraram apenas no cinema e hoje compartilham mais espaços juntas e, até mesmo, muitos casos de mães que aproveitavam o horário do cinema para dormir. “O importante é permitir a interação e o retorno à vida social”, explica Irene Nagashima.

Importância de trocar

Essa interação entre mães é muito importante na percepção de Fernanda Costa Mueller, publicitária e fundadora do blog Babyboom Curitiba. “A mulher muda muito e ter com quem trocar  informações e dividir as angústias desta fase é muito importante. Vemos isso com frequência em nosso grupo do Facebook, por exemplo.

Desconhecidas desenvolvem afinidade por estarem vivendo o mesmo momento e apoiam umas às outras de forma muito intensa. Inclusive, há casos de mães que não contam com nenhum outro tipo de apoio e suporte além do grupo virtual, o que gera cumplicidade e empatia”, conta.

Fernanda, que é mãe de uma menina de 10 anos e de meninos gêmeos de 7 anos, conta que é fundamental falar sobre a maternidade, mas cabe à mulher ir além e não se esquecer de outros pontos importantes na sua vida. Para isso, é fundamental contar com o apoio da família. “Muitas vezes precisamos aprender a pedir ajuda e a confiar no apoio dos outros. Não precisamos ficar sozinhas”, aconselha.

Família tem papel fundamental

A família tem um papel fundamental para a socialização não só da mãe, como da criança, e o pai é essencial.

“Ter um filho é um compromisso emocional do casal, não só da mãe. Deve existir um pacto para que o pai exerça o seu papel de pai, sem as chamadas ‘ajudas’. Que ele seja parte ativa e um grande parceiro, com iguais responsabilidades, na criação e educação dos filhos”, explica Rafaela Teixeira, psicóloga da Paraná Clínicas.

Ela acredita que avós, tios e tias também podem ser grandes aliados, afinal, todos têm um papel decisivo na criação dos futuros cidadãos. “A criança é também um ser social que precisa aprender a conviver nos diferentes círculos, entendendo que todas as pessoas têm seus papeis”, comenta. Cabe à mãe permitir o desenvolvimento destes relacionamentos e responsabilidades, compreendendo que todos são importantes para o desenvolvimento do bebê.

A editora e idealizadora do site Criança na Plateia, Paula Martins, acredita que esta é uma escolha da mãe. “A mulher tem o poder de escolher e cabe a ela se isolar ou não. Acredito que o ideal é que a criança seja inserida na rotina da mãe, de forma leve e natural, para que desde pequena perceba o contexto da família e seja apresentada ao universo da mãe. Assim fiz com meus dois filhos”, explica.

Foto: Arquivo pessoal
Foto: Arquivo pessoal

A jornalista trabalha com a divulgação de programações e eventos culturais e sociais para serem curtidos em família e acredita que hoje as cidades estão mais preparadas para receberem mães, pais e crianças de todas as idades: “temos muitos restaurantes com espaços para brincar, a maioria dispõe de menu kids e conta com facilidades para a troca de fraldas. Os shoppings evoluíram e se tornaram hoje grandes centros que se preocupam em oferecer entretenimento para toda a família e inúmeros espaços na cidade promovem atrações voltadas para todas as idades”.

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