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Muito comum, a reposição de testosterona por gel pode não trazer os resultados esperados, conforme estudos (Foto: Bigstock)
Muito comum, a reposição de testosterona por gel pode não trazer os resultados esperados, conforme estudos (Foto: Bigstock)| Foto:

Anúncios de televisão que promovem produtos contra “níveis baixos de testosterona” deram origem a um boom no uso de géis, adesivos e injeções de testosterona para homens idosos nos últimos anos, de acordo com um novo relatório. Entretanto, qualquer pessoa que acredite que doses de testosterona representam um antídoto fácil aos músculos flácidos, à falta de energia e à perda de libido ficarão surpresas com os resultados dos estudos mais recentes do governo norte-americano a respeito dos hormônios sexuais.

Os ensaios clínicos publicados no ano passado são os primeiros estudos rigorosos a avaliar os possíveis efeitos benéficos do tratamento de reposição de testosterona para homens idosos com níveis baixos de hormônio. Os cientistas acompanharam 790 homens com mais de 65 anos que têm níveis de testosterona no sangue abaixo dos 275 nanogramas por decilitro de sangue, muito abaixo da média entre homens jovens e abaixo até mesmo do esperado entre idosos. Os homens também apresentam sintomas que refletem os baixos níveis hormonais, tais como a perda de libido. Metade dos participantes foram tratados com gel de testosterona, ao passo que a outra metade recebeu um placebo.

Os estudos tiveram resultados incongruentes, revelando que durante um período de um ano, a terapia com testosterona corrigiu a anemia, ou seja, níveis baixos de glóbulos vermelhos, que pode causar fadiga, além de aumentar a densidade óssea. Contudo, um estudo que visava avaliar se a testosterona melhorava o desempenho cognitivo não teve resultados relevantes.

Enquanto isso, o estudo clínico acendeu uma luz vermelha em relação aos possíveis riscos de ataque cardíaco: testes de imagem revelaram uma concentração de placas não calciformes nas artérias coronárias de homens tratados com testosterona por um ano, um indicador de risco cardíaco, se comparados a homens que receberam o placebo durante o mesmo período.

O aparecimento das placas não foi completamente surpreendente; muitos relatórios já haviam conectado o uso de testosterona a um aumento no índice de ataques cardíacos, e o FDA já exige que os produtos incluam alertas sobre o aumento do risco de ataques cardíacos e AVC (homens no grupo de risco de doença cardiovascular não puderam participar dos estudos mais recentes por essa razão).

Contudo, estudos observacionais, que são mais fracos, apresentaram resultados mistos de forma geral, e um estudo publicado no mês passado revelou que aqueles que fazem reposição de testosterona têm menos problemas cardíacos.

Apenas 15% dos homens de mais de 65 anos tiveram os níveis baixos de testosterona analisados nos ensaios clínicos mais recentes. A maioria deles passa por um ligeiro declínio na produção do hormônio à medida que envelhecem, portanto, os resultados não se aplicam necessariamente à população de homens idosos como um todo.

Os resultados foram obtidos em uma pesquisa do ano passado, que revelou que a testosterona melhorava o desempenho sexual de homens idosos com baixos níveis do hormônio no sangue, embora a melhora fosse ligeira e desaparecesse com o tempo. Além disso, os pesquisadores destacaram que, no caso da função erétil, medicamentos como o Viagra são mais eficazes. A testosterona não ajudou idosos a caminhar por mais tempo, e também não eliminou a fadiga, nem aumentou o senso de vitalidade, embora tenha melhorado ligeiramente o humor.

“A testosterona está longe de ser uma panaceia”, afirmou o Dr. Thomas Gill, geriatra da Faculdade de Medicina de Yale, um dos autores do estudo e responsável pelo local onde os testes foram realizados. “Não se trata de um agente que funciona como uma fonte da juventude. Os benefícios são modestos, ainda que sejam favoráveis.”

O Dr. David J. Handelsman, diretor do Instituto de Pesquisa Anzac, em Sydney, Austrália, autor de um editorial que acompanha a publicação do estudo mais recente, mas que não participou de sua
realização, fez uma avaliação mais sombria.

“O que vemos nesses testes de testosterona é uma presença constante de riscos de doenças cardiovasculares, embora ainda sejam apenas uma previsão, não um fato”, afirmou Handelsman em uma entrevista.

Ele destacou que os idosos com baixos níveis de testosterona muitas vezes possuem outras condições crônicas, como obesidade, que também afetam os níveis hormonais, mas que podem ser controlados por meio de mudanças no estilo de vida, como dietas e exercícios.

A testosterona é um medicamento que está disponível há tanto tempo que nunca havia sido objeto de ensaios clínicos para avaliar sua segurança e eficácia, como são obrigados os que entram no mercado atualmente. Além disso, a substância não havia sido testada em grandes estudos realizados pelo governo, que costumam se estender por anos, como o que avaliou a terapia de reposição hormonal em mulheres idosas e revelou que os hormônios não evitam doenças cardíacas após a menopausa, além de oferecerem graves riscos.

Estudos grandes e de longa duração precisam ser realizados para avaliar a segurança do uso de testosterona, uma vez que os mais recentes, conhecidos como ensaios T, acompanharam os usuários por apenas um ano, muito pouco tempo para determinar com certeza se o hormônio aumenta o risco de problemas como doenças cardíacas e câncer de próstata.

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Os ensaios T “não respondem a questão do risco”, afirmou o Dr. Evan Hadley, diretor da divisão de geriatria e gerontologia clínica do Instituto Nacional do Envelhecimento. “Obtivemos muito mais dados a respeito dos benefícios, mas apenas estudos sobre os benefícios não respondem todas as questões sobre o uso de testosterona. É muito importante obter dados definitivos, para que possamos ter uma visão mais ampla dos riscos e benefícios.”

Contudo, os resultados não confirmam a promessa implícita nas propagandas de testosterona que afirmam que o usuário vai se sentir “mais forte e saudável”, afirmou, embora muitos homens tenham dito simplesmente que “se sentiam melhor” quando usavam o medicamente, e algumas melhoras na caminhada fossem identificáveis, dependendo de como os resultados eram analisados.

A prescrição de testosterona nos Estados Unidos praticamente dobrou nos últimos anos, passando de 1,2 milhões em 2010, para 2,2 milhões em 2013, à medida que mais homens saudáveis de meia idade e idosos começaram a tomar o hormônio. Muitas dessas pessoas não tinham as condições médicas – tais como defeitos genéticos, quimioterapia, ou problemas no hipotálamo e nas glândulas pituitárias do cérebro – que impedem a produção do hormônio em níveis suficientes. Muitos jovens também utilizam hormônio para melhorar o desempenho na academia de ginástica.

Usar testosterona para fazer musculação ou para contrabalancear o declínio natural na produção de hormônio causado pela idade não são finalidades aprovadas pelo FDA. Contudo, os médicos têm autorização para prescrever medicamentos para finalidades não aprovadas, uma prática conhecida como “uso extra-bula”.

O FDA afirmou às fábricas que produzem e vendem testosterona que os estudos de grandes proporções serão financiados pelo setor. Um porta-voz da AbbVie, fabricante do AndroGel, que forneceu o gel de testosterona para os estudos recentes, afirmou que os fabricantes estão trabalhando em parceria com a agência para realizar esse estudo.

“Acredito que os resultados são mais que suficientes para darmos início a um teste de longa duração”, afirmou o Dr. Peter Snyder, endocrinologista e professor de medicina na Faculdade de Medicina Perelman, da Universidade da Pensilvânia, além de diretor de pesquisa dos ensaios T.

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