Saúde e Bem-Estar

*Ellie Krieger, The Washington Post

Por que você deve parar de tentar perder peso e focar na mudança de hábitos

*Ellie Krieger, The Washington Post
14/08/2018 17:20
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Exercícios e uma alimentação saudável não devem ser motivados pelo objetivo único de perder peso. Foto: Pixabay

Como alguém que sofreu com a montanha russa das dietas e eventualmente escapou dela, e que tem estado em uma missão profissional para ajudar outras pessoas a escapar também, eu sigo vozes anti-dieta nas redes sociais. Muitas deles são especialistas em nutrição. Eu normalmente concordo com tudo quando estou lendo suas postagens, mas uma recente tendência de mensagens me perturbou.
À primeira vista, elas pareciam ir além da anti-dieta e beirar a anti-saúde. Uma postagem proclamava que qualquer tentativa de perder peso é uma dieta. Pense sobre isso por um momento. Se tratamos “dieta” como uma palavra de cinco letras, então a mensagem é a de que tentar perder peso  — mesmo de maneira saudável — é algo a ser condenado.
Isso me deixou pensando se o movimento anti-dieta tinha ido longe demais. As pessoas deveriam mesmo ser desencorajadas de buscar a perda de peso, mesmo em um contexto de estilo de vida saudável, quando isso poderia levar a uma saúde melhor —com menos dor nos joelhos, sem remédios para o açúcar no sangue, reduzindo o risco de um ataque cardíaco e daí em diante?

Qual o caminho certo?

Para me aprofundar, eu falei com muitos líderes sobre o assunto e cheguei à conclusão de que aquela postagem era sobre o seguinte: embora o peso importe quando se trata de saúde, o verdadeiro atalho para o bem-estar pode ser não tentar perder peso.
“O sobrepeso e a obesidade são ameaças sérias à saúde”, diz Walter Willett, professor de epidemiologia e nutrição na Escola de Saúde Pública Harvard T. H. Chan. “Se nós realmente nos importamos com alguém, queremos que eles estejam o mais próximo possível de um peso saudável; não há dúvida.”
Mas o número na balança é só um indicador de bem-estar. “Não importa qual é seu peso, você pode melhorar sua saúde sendo fisicamente ativo, comendo de forma saudável e não fumando”, diz Willett.
O efeito platô é uma falta de resposta do corpo a um determinado estímulo, assim mesmo que faça exercícios, por exemplo, a pessoa não consegue emagrecer. Foto: Bigstock
O efeito platô é uma falta de resposta do corpo a um determinado estímulo, assim mesmo que faça exercícios, por exemplo, a pessoa não consegue emagrecer. Foto: Bigstock

Regimes sem sucesso

Tentar controlar o peso de forma ativa pode ser uma tática eficaz para alguns, mas para outros pode ser completamente destrutivo. Um estudo de 2005 publicado na Revista Americana de Nutrição Clínica mostrou que cerca de 20% das pessoas com sobrepeso têm sucesso em dietas de longo prazo.
Mas e todas aquelas que tentam, mas não conseguem perder nenhum peso ou que o perdem, mas ganham de novo em seguida? Muitos nesse grupo (e possivelmente alguns dos que perderam peso, também) acabam eternamente lutando, constantemente ansiosos a respeito da comida e insatisfeitos com seus corpos. Alguns desenvolvem distúrbios alimentares. Muitos se curam e se tornam vozes anti-dieta no feed do meu Instagram. Atada à luta pessoal está a pressão da nossa sociedade profundamente influenciada pelo peso, em que a discriminação por tamanho é a norma.
Não é surpresa que tantas pessoas estejam se afastando e de fato mandando às favas nossa cultura obcecada pela dieta — e pelo peso. Mas embora esse posicionamento seja necessário, o lado negativo é que para alguns ele tem significado a rejeição de qualquer conversa sobre saúde, seja ela relacionada ao peso ou não.
“É quase como se houvesse uma barreira em que você não pode falar nada sobre comer de forma saudável em comunidades de ‘gordura positiva'”, diz Jessamyn Stanley, autora de “Every Body Yoga” (“Ioga para todos os corpos”, em tradução livre). “É como se você estivesse criando um ambiente inseguro se falar de comida saudável.”

Palavra-chave: autocuidado

Ela vê a aceitação e no autocuidado como soluções para derrubar essa barreira. “Quando você se ama você quer se abastecer bem; você quer ter esse cuidado consigo mesmo.”
Rebecca Scritchfield, uma dietista que escreveu “Body Kindness” (“Bondade corporal”, em tradução livre), concorda:

“se ampliarmos a visão de saúde para além do peso ou da aparência, vamos todos ficar livres para buscar a saúde de nossa própria maneira.”

Pouco exercício

Com isso em mente, abandonar a perda de peso como um objetivo – tirá-la completamente da mesa – e redirecionar o foco para comportamentos individualmente significativos parece ser nossa melhor chance de alcançar um bem-estar verdadeiro. Sandra Aamodt, neurocientista e autora de “Why Diets Make Us Fat” (“Por que as dietas nos tornam gordos”, em tradução livre), diz que muitos problemas de saúde que associamos à obesidade são na verdade uma consequência de não fazer exercícios suficientes.
“É loucura que como sociedade nós tenhamos escolhido focar na perda de peso em vez de focar em melhorar a nutrição e os exercícios, o que é mais fácil e mais importante“, ela diz. A autora sugere escolher objetivos positivos e concretos: “sente-se e faça uma lista de coisas que você gostaria de conseguir fazer e não consegue no momento – seja andar algumas quadras sem ficar sem fôlego, brincar de cavalinho com uma criança ou correr cinco quilômetros. Tenha algo que você queira atingir.”
(Foto: Bigstock)
(Foto: Bigstock)
Stanley sugere fazer pesquisas online, ou perguntar a amigos, para encontrar um grupo que pratique exercícios e que receba pessoas de todos os pesos, então você saberá que está entrando em um ambiente positivo e livre de julgamentos. “A indústria fitness tem lucrado por um bom tempo com as pessoas acreditando que elas são insuficientes”, diz. “Você já é incrível quando entra no espaço das academias. A razão para ir até lá deveria ser divertir-se.”
Foi a ioga que levou Stanley a prestar atenção a como a comida afeta seu corpo. Ela ficava mais confortável fazendo inversões e se sentia mais energizada depois da ioga quando ela come bem. É esse tipo de motivação interna e pessoal que pode realmente fazer efeito, diferente de ser motivado – ou torturado – pelos números na balança.
“As pessoas fazem todas essas mudanças de comportamento e depois as abandonam porque não perderam peso”, diz Aamodt. “Quando você define saúde em termos de peso, esse é o risco que você corre.”
Em vez disso, Scritchfield sugere, faça mudanças que importem para você por razões que estejam além do peso, como uma melhor digestão, mais energia, melhores padrões de sono ou ter uma atitude melhor em relação à comida.
“O fator chave é fazer as escolhas que sejam mais adequadas para você, que façam você se sentir bem, e acredite que você vai estar dentro do peso que é saudável para você”, ela diz. Você não precisa de uma balança para isso.
*Texto original por Ellie Krieger, dietista registrada, nutricionista e autora que apresenta o programa “Ellie’s Real Good Food” (“Comida realmente boa da Ellie”, em tradução livre).

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