Saúde e Bem-Estar

Mariana Ceccon, especial para a Gazeta do Povo

Privação de sono por mais de três dias amplia comportamentos compulsivos

Mariana Ceccon, especial para a Gazeta do Povo
28/05/2019 17:00
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Mal estar, náusea, dores de cabeça matinais, sensação de cansaço, falta de memória, confusão mental e demora em resolver problemas são sintomas que podem indicar que a falta de sono pode estar te levando para um quadro perigoso. Foto: Bigstock.

Comer demais, por ansiedade, realizar movimentos repetitivos e específicos, arrancar fios de cabelo e até desejar o suicídio são compulsões que podem estar intimamente ligadas à falta de horas dormidas. Dormir menos do que oito horas por noite pode ter um impacto significativo nesses comportamentos.
Em pessoas que já passam por transtornos, quando o sono deixa de cumprir o papel de ser um refúgio do sofrimento, até mesmo o suicídio pode ser uma “solução” buscada por esses indivíduos como forma de se fugir da angústia vivida.

Segundo o psiquiatra especialista em medicina do sono, João Guilherme Gallinaro, a crença de que uma noite mal dormida influencia em pensamentos compulsivos e até suicidas se baseia em uma pesquisa realizada há pouco menos de dois anos, na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos.

Na ocasião, 5 mil jovens estudantes, entre 18 e 23 anos tiveram o sono monitorado por 21 dias. Ao final dos testes e aplicação de questionários foi constatado que aqueles que tinham noites mal dormidas relatavam mais vezes ideações suicidas, bem como aqueles que tinham o chamado “sono leve”.
A otorrinolaringologista especializada na área, Danielle Salvati Malaquias diz que existem síndromes neurológicas mais graves e raras que associam diretamente os distúrbios de sono com a obesidade e TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo). “Em geral, quando dormimos, adquirimos a habilidade de ter respostas melhores a situações negativas. O sono repara, equilibra, conserva a nossa energia e protege nossos neurotransmissores”, explica.
A especialista diz que três dias vivendo privações de sono são suficientes para as pessoas tomarem decisões diferentes das que tomariam se estivessem com o sono em dia, apresentando alterações em seu senso de julgamento.

“Quando a pessoa está passando por problemas e não está gerenciando mentalmente como deveria o estresse, o medo e a culpa, a propensão de desenvolver um quadro de ansiedade e depressão é maior”, comenta.

Mal estar, náusea, dores de cabeça matinais, sensação de cansaço, falta de memória, confusão mental e demora em resolver problemas que antes eram feitos com maior agilidade fazem parte do rol de sintomas que podem indicar que a falta de sono pode estar te levando para um quadro perigoso.
“Gestantes, por exemplo, formam um grupo de atenção nesse quesito. Quando sofrem com insônia e privação de sono ficam mais propensas a desenvolver uma depressão pós-parto, que quando não acompanhada, pode colocar tanto a mãe quanto o bebê em situações de risco”, acrescenta a otorrinolaringologista.

“Precisamos mudar essa ideia de que dormir é perda de tempo. Essa perda do reparo orgânico que o sono faz tem um preço e essa conta chega na forma de compulsão e outros distúrbios, que vão desde hipertensão até o aumento na propensão para alguns tipos de câncer”, finaliza.

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