Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Você pula o café da manhã? Veja como o hábito influencia sua saúde

Amanda Milléo
21/02/2019 08:04
Thumbnail

Recusar o café da manhã pode não ter impacto no peso, mas isso não significa que não afete a saúde me geral, a começar pela noção de saciedade e fome (Foto: Bigstock)

Tomar um café da manhã adequado não gera, conforme estudos mais recentes mostraram, um impacto tão significativo na perda de peso. Os dados contrariam as recomendações de boa parte dos nutricionistas e médicos sobre a “refeição mais importante”, e como ela teria o papel de reduzir o consumo calórico do paciente ao longo do dia.
O estudo do tipo metanálise foi realizado por pesquisadores australianos e divulgado no fim de janeiro na revista científica British Medical Journal (BMJ), onde sugere-se que tomar café da manhã pode não ser a melhor estratégia para quem está pensando em perder peso, seja qual for o hábito da pessoa.

“Deve-se olhar com atenção quando recomendar o café da manhã para a perda de peso em adultos, pois pode ter um efeito oposto. Futuros estudos clínicos randomizados, de alta qualidade, são necessários para examinar o papel do café da manhã na abordagem de cuidados com o peso”, alerta a publicação.  

Café da manhã serve a todo mundo?

Quando se tratam de recomendações nutricionais, não existe regra geral, conforme lembra a nutricionista franco-brasileira Sophie Deram.

Existem adultos que não têm por hábito tomar o café da manhã e isso não significa, necessariamente, que eles tenham algum problema de saúde mais grave. 

“Aí vem a questão: a pessoa pula o café da manhã pensando em emagrecer ou por que não tem fome mesmo? Uma pessoa que está tranquila, sem problema de peso, com saúde e chega ao meu consultório falando que não toma café, eu não mexo com a rotina dela. Mas se é uma pessoa que vem tentando emagrecer a vida toda, e não toma café, mas devora três pacotes de bolacha à noite, essa é uma paciente que eu preciso conversar”, explica a doutora pela Faculdade de Medicina da USP e autora do livro “O peso das dietas”.
Pacientes com este perfil, em geral, acabam exagerando em outras refeições (especialmente o jantar) e decidem que a melhor opção para perder as calorias extras é pular o café da manhã. Esse ciclo, porém, prejudica a noção do organismo de quando está saciado ou não — e a tendência é que a pessoa acabe comendo por outros motivos, e não a fome.
“Fisiologicamente, pode ser tranquilo pular o café da manhã para uma pessoa que está em paz. Não temos a obrigação do café, mas a maioria das pessoas vive de dieta, tentando emagrecer, pulando refeições e acabam bagunçando toda a sensação de fome e saciedade. O risco, então, é que ao comerem, comam mais que uma refeição normal, criando o ciclo de restrições e exageros”, reforça a nutricionista.

Redescobrindo a fome

Há várias estratégias que ajudam a reconectar a pessoa com o centro de fome e saciedade do organismo e, se acompanhadas adequadamente, os resultados podem ser vistos entre a primeira e segunda semana de mudança. Uma delas é incorporar uma rotina alimentar, que normalmente contém o hábito do café da manhã.

“Nascemos com o centro de saciedade inato. A criança amamentada só mama se ela tiver fome. Do contrário, a mãe pode até tentar fazer ela mamar, mas se não quiser, ela vira o rosto. Pais até forçam as crianças a comerem um pouco mais, empurrando os alimentos com medo que o filho não se alimente, mas isso faz com que a criança perca a sensação de saciedade. Ela acaba comendo por obrigação, para agradar os pais. Na vida adulta, come por prazer, por ansiedade, nem sempre por fome”, explica Michele Chibior, nutricionista materno-infantil, de Curitiba. 

Outra estratégia que pode funcionar, segundo a nutricionista Sophie Deram, é lembrar da rotina alimentar dos nossos avós/bisavós: “Você não podia falar para seu avô que hoje o almoço sairia meio dia, mas amanhã só às 15h. Ele ia fazer uma revolta! Tem sido cada vez mais comum no consultório encontrar pessoas que não sabem mais quando têm fome, quando não têm, ou quem tenha compulsão, exagero, que come alimentos que não foram planejados e no dia seguinte começa sem o café da manhã”, explica a nutricionista.
Acompanhamento com psicólogas também ajuda nessa retomada, conforme lembra Michele Chibior, nutricionista. “O acompanhamento ajuda a entender se essa sensação de fome é porque o estômago está roncando, estou me sentindo fraca, ou porque estou ansiosa, porque passei por algum momento e preciso de um prazer. É fome de comida ou fome seletiva, de um hambúrguer, por exemplo”, diz.
Fome seletiva pode ser melhor traduzida como a vontade de comer, enquanto na fome de comida a pessoa comeria qualquer alimento, desde que saciasse. “Se você tem desejo por fast food, e isso acontece sempre, é só uma vontade de comer, e não fome”, completa Chibior.

Apetite variável: Mesmo gêmeos idênticos têm um metabolismo único. O apetite, portanto, é também muito individual. Se você precisa apenas de poucos alimentos para se saciar no café da manhã, siga o que seu estômago mandar. Em uma mesma família, por exemplo, irmãos podem ter apetites bastante distintos e os pais não devem compará-los, mas respeitar seus limites. 

Café da manhã: tomar ou não tomar? Pular o café da manhã pode ser uma opção saudável para algumas pessoas – mas não todo mundo (Foto: Bigstock)

Crianças e a recusa do café da manhã

Embora os adultos tenham a possibilidade de, em alguns casos, “escaparem” da primeira refeição do dia, o mesmo não é aconselhado às crianças e adolescentes.
Ao não tomarem o café da manhã (seja em casa ou na escola, ao chegarem), o rendimento escolar é comprometido. “Estudos com crianças e adolescentes demonstram que elas sofrem com falta de atenção e memória. Há, sim, portanto, prejuízo escolar se não for tomado um café da manhã”, explica a nutricionista materno-infantil Michele Chibior.
Tudo que for ingerido na primeira refeição tende a ser extremamente aproveitado pelo organismo, por ter passado as últimas horas em estado de repouso. Portanto, café da manhã deve sempre ter uma qualidade nutricional acima da média, com a inclusão de frutas e proteínas, como ovos.
Não existe um café da manhã perfeito, porém. No Brasil, ele varia muito nas regiões, como o pão francês no Sul, a tapioca e a batata doce no Norte, e o pão de queijo no Centro-Oeste.
“É importante também respeitar o gosto dos filhos. Não é porque a mãe acha a tapioca mais saudável que precisa banir o pão, como se fosse um vilão. Obrigar uma criança a comer a tapioca quando ele quer um pão pode deixá-la com a sensação de frustração de manhã e querer descontar em outras comidas, ou comer escondido”, reforça a nutricionista Sophie Deram.

Vale também acordar mais cedo e dedicar 15/20 minutos para a refeição com a família: “até incentivo as pessoas a dormirem mais cedo para acordarem antes e fazer desse momento um encontro tranquilo. Nutrir-se com calma, com carinho e sair de casa menos estressado e já nutrido”, completa Deram. 

LEIA TAMBÉM