Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

O que é o sangue Bombay, tipo raro encontrado no Brasil e que salvou criança

Amanda Milléo
26/07/2017 08:00
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Grupo sanguíneo Bombay é extremamente raro e exige cuidados na hora de uma transfusão (Foto: Bigstock)

Com um ano e três meses, a Ana Sofia, moradora de Medellín, na Colômbia, tinha um obstáculo a ultrapassar. Precisava de um sangue que fosse exatamente como o dela para uma transfusão urgente, depois de sofrer um sangramento no estômago. O tipo sanguíneo de Ana Sofia é extremamente raro, conhecido como sangue Bombay ou Bombaim, mas ela conseguiu um doador compatível – um brasileiro.
No Ceará, o mecânico Ewerton, de 23 anos, sem nem saber tinha o mesmo tipo sanguíneo que a menina colombiana. Depois de uma doação rápida, o sangue foi transportado até a cidade da Ana Sofia, e a história foi registrada pelo programa dominical Fantástico, da Rede Globo, no último domingo (23).
Pessoas com o tipo sanguíneo Bombay são extremamente raras, de acordo com os hematologistas ouvidos pelo Viver Bem. Na Índia, local onde este tipo sanguíneo foi descoberto, a prevalência deste sangue é de um para cada 10 mil pessoas. Na Europa, a prevalência cai para um a cada 1 milhão de pessoas.
“Ter um tipo sanguíneo Bombay não é uma doença e não traz nenhuma diferença para a vida da pessoa. A única dificuldade que pode ter é caso precise de uma transfusão de sangue, que deve ser de alguém com o mesmo tipo sanguíneo”, explica Juliana Souza Lima, médica hematologista do Instituto de Hematologia e Oncologia de Curitiba (IHOC).
Bombay: o “Falso O”
Outro termo pelo qual o tipo sanguíneo Bombay é conhecido é como o “falso O”. Comumente, as pessoas são divididas entre tipos sanguíneos do sistema ABO – A, B, AB, O – e Rh positivo ou negativo. No caso do Bombay, pessoas com o genótipo dos grupos sanguíneos A, B e AB expressam o fenótipo do grupo sanguíneo O. Ou seja, é um O falso e quando recebem esse sangue, podem rejeitá-lo.
“Quando você faz uma tipagem simples, pega os glóbulos vermelhos do paciente, coloca o soro anti-A e anti-B e não há reação. Isso é uma característica do tipo sanguíneo O. Essas pessoas com tipo sanguíneo Bombay não produzem nenhum antígeno na membrana dos glóbulos vermelhos e qualquer transfusão diferente, em um primeiro momento pode não acontecer nada, em uma segunda transfusão pode destruir os anticorpos e levar até mesmo a insuficiência renal”, explica Giorgio Baldanzi, médico hematologista e hemoterapeuta do Hemobanco de Curitiba.
Essa alteração genética continua pela vida toda e, por ser uma alteração dominante, tem uma chance maior de ser repassada aos descendentes. “O Bombay é dominante. Se um dos pais tem o subtipo Bombau, o filho tem uma chance maior de ter o mesmo tipo sanguíneo”, diz a médica hematologista.
Sou Bombay?
Para descobrir o seu tipo sanguíneo, basta solicitar ao médico uma tipagem sanguínea. O mesmo procedimento é feito quando a pessoa faz uma doação de sangue e essa informação é compartilhada com o paciente.
Mas, não se preocupe. Ter o conhecimento da tipagem é interessante, mas não fundamental. Se a pessoa precisar de uma transfusão de urgência, é obrigatória uma nova coleta para confirmar o grupo sanguíneo.
“É interessante, porém, que as pessoas saibam que existem outros grupos – muitos sem importância clínica para transfusões, mas alguns relevantes. Ao fazer uma tipagem sanguínea estendida, é possível descobrir se faz parte de grupos D, E e C, por exemplo. Normalmente somos D, que é o mais comum, mas E e C são importantes para quem faz transfusões de repetição”, reforça o médico hematologista.
A tipagem estendida é recomendada a pessoas do grupo sanguíneo O e que sejam doadores fidelizados, que possam doar sangue repetidamente sem maiores problemas.
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