Saúde e Bem-Estar

Camila Kosachenco, Agência RBS

Quatro nutricionistas contam o que colocam na lancheira dos filhos

Camila Kosachenco, Agência RBS
12/04/2018 12:00
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Desembalar menos e descascar mais: uma das dicas para uma lancheira saudável. Foto: Bigstock

Bolo sem açúcar, frutas, água e sanduíche de pão integral: aqui, a regra é faça o que eu digo e faça o que eu faço. Quatro nutricionistas abriram as lancheiras dos seus filhos e contaram à reportagem o que os pequenos levam à creche ou à escola. São receitas fáceis de colocar em prática e à prova de cara feia.
“Esse cuidado é fundamental, pois as crianças estão formando os hábitos alimentares. São escolhas que precisam ser aprendidas cedo e que seguem por toda a vida “, afirma a nutricionista Luciana Dias de Oliveira, professora do curso de Nutrição da UFRGS e coordenadora de gestão do Centro Colaborador em Alimentação e Nutrição Escolar da Universidade.
O que o restante da família coloca no prato também conta pontos e serve de exemplo para os pequenos, diz a nutricionista e professora da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Anne y Castro Marques. Para ela, com o passar dos anos, a missão do comer saudável fica mais difícil, mas não impossível.
“Vejo que, quanto mais velha é a criança, mais difícil controlar. Não acho errado elas experimentarem alimentos não saudáveis. O problema é a rotina”, avalia.
Confira as dicas:
>> Claudia Corrêa Fernandes, nutricionista clínica – Mãe de Pedro, três anos, e Felipe, nove anos
Claudia é enfática ao dizer que não adianta caprichar na lancheira se, em família, a criança não é acostumada a comer de forma saudável: “A lancheira é uma extensão do que comemos em casa”.
Cenourinhas entram na lista. Foto: Visualhunt
Cenourinhas entram na lista. Foto: Visualhunt
Como os pequenos já estão habituados com esse tipo de alimentação, ela coloca na merendeira itens como sanduíches de pão integral recheados com queijo, patê ou geleia caseiros, frutas e até legumes – entram cenourinhas orgânicas e tomates cereja, que os meninos adoram. Água, chá, água de coco e sucos preparados para o almoço vão junto para garantir a hidratação.
“Às vezes, faço bolinhos salgados com legumes, e eles participam do processo de preparo”, conta Claudia.
O que fica de fora da lista são os alimentos processados e ultraprocessados como bolachas, salgadinhos e sucos de caixinha.
Se o problema é tempo, a nutricionista recomenda:
“Tem de ter planejamento. Costumo organizar a alimentação da família no fim de semana. Também dá para aproveitar os alimentos já prontos para o almoço. Hoje, por exemplo, fiz iscas de boi para o almoço e eles levaram pão recheado com a carne”.
A nutricionista diz que evita proibições e prefere explicar os motivos pelos quais a criança não deve comer esse ou aquele alimento.
“É mais a informação e ter o hábito em casa, mas não a proibição”, pondera.
>>Luciana Dias de Oliveira, professora do curso de Nutrição da UFRGS – mãe de Alice, cinco anos, e João Vitor, 10 anos
Além da alimentação, Luciana também se preocupa com o impacto que os resíduos das embalagens provocam no meio ambiente.
“O lanche vai em um pote que volta para casa e eu lavo. A água vai em uma garrafa que é nossa. Raramente uso múltiplas embalagens”, conta.
E a mamãe capricha no cardápio semanal: sempre faz um bolo com ingredientes orgânicos e farinha integral, manda frutas compradas na feira ecológica ou prepara sanduíches com pão integral, queijo e salada ou queijo e mel. Também entram – com menos frequência – produtos como iogurtes, leite fermentado e granola.
Foto: Fred Kendi/Gazeta do Povo
Foto: Fred Kendi/Gazeta do Povo
“Eventualmente, coloco biscoitos caseiros ou algum industrializado, mas cuido muito para não ter gordura hidrogenada”, afirma.
Nos raros episódios em que o mais velho pede para comprar lanches na cantina da escola, Luciana recomenda que não tome refrigerante e opte por sanduíche, pão de queijo e suco integral.
“Ele está acostumado. Quando fala que um colega levou bolacha recheada, relata meio apavorado”, diz a nutricionista.
>> Anne y Castro Marques, nutricionista e professora da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) – Mãe de Heitor, um ano
Idade não é desculpa para não levar merenda. Heitor, de um ano e seis meses, vai para a creche com três lanches. Anne explica que, na escolinha do filho, os pequenos fazem três refeições, e a primeira sempre é uma fruta. Também faz parte da rotina o compartilhamento dos alimentos entre as crianças.
“Assim, elas têm oportunidade de provar várias frutas” diz a nutricionista.
O segundo lanchinho, geralmente, é um pão integral puro mesmo.
“Margarina e requeijão têm muito sódio e não dou nada com açúcar. Ele se acostumou assim desde os 10 meses” justifica.
Bolo sem açúcar, com aveia e frutas, passas de uva e até amendoim fazem parte do menu semanal, finalizado com uma fórmula de leite no fim da tarde.
O trabalho conjunto da escola ajuda na hora de controlar a alimentação. Por lá, Heitor não recebe nada além do que veio de casa. Mesmo assim, ele já tentou pegar o lanche dos colegas, que levam bolachas doces, achocolatados e petit-suisse.
“Sei que não vou conseguir controlar isso por muito tempo, mas, enquanto der, vou oferecer uma alimentação saudável ” pondera Anne.
>> Luísa Rihl Castro, nutricionista e professora dos cursos de Nutrição da PUCRS e da Unisinos – Mãe de Guilherme, cinco anos
Para Luísa, o mais importante é não inventar demais na hora do lanche – é preciso respeitar os hábitos alimentares da criança.
“Sempre tem que pensar: do que ela gosta?” pondera a nutricionista.
Isso vale para a fruta que a criança adora, que deve ser oferecida no lugar daquela de que ela não goste tanto. Bolos caseiros e até mesmo os prontos podem ser uma opção para garantir a energia de que os pequenos precisam.
“Para os industrializados, tem de cuidar a lista de ingredientes. Quanto menos tiver, melhor. E é importante identificar todos os itens como comida. No rótulo deve ter farinha, óleo, ovo, e não conservante, emulsificante. Tem de ficar atento a isso ” recomenda.
Como Guilherme não gosta muito de água, Luísa adiciona o líquido a algum suco integral, em uma estratégia para garantir a hidratação. Quando o menino leva iogurte, a nutricionista dá a dica:
“Dá para congelar, tirar do freezer e colocar em refrigeração um pouco antes de levar. Isso mantém o alimento por mais tempo. Investir em uma lancheira térmica também é importante”.
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