• Carregando...
A explicação é científica para os homens sofrerem mais que as mulheres quando afligidos pela dor. Foto: Bigstock.
A explicação é científica para os homens sofrerem mais que as mulheres quando afligidos pela dor. Foto: Bigstock.| Foto:

“Durante o parto, as mulheres entendem a dor que um homem sente quando está com febre”. Já ouviu essa piada? De acordo com neurologistas e especialistas na área, essa brincadeira não reflete a realidade.

Isto porque diferentemente do que diz o senso comum, as mulheres são sim mais sensíveis à dor e sentem em maior intensidade incômodos que podem passar despercebidos pelos homens.

A explicação está nos hormônios femininos, como o estrogênio, que além de controlar a ovulação, também intensifica sensações como a dor e a irritabilidade.

Entretanto, justamente por sentirem dor em maior intensidade, as mulheres ficam também mais resistentes a ela.

A resistência feminina está ligada ao fato de elas passarem por mais episódios dolorosos ao longo da vida – que incluem partos, crises de enxaqueca, cólica menstruais e acometimento por doenças crônicas – apesar de também evidenciar uma questão cultural, explica o coordenador do Grupo de Dor do INC (Instituto de Neurologia de Curitiba), Daniel Benzecry de Almeida.

“Desde cedo a mulher desenvolve uma rotina de assistência médica, com idas ao ginecologista, por exemplo, algo muito diferente do comportamento masculino. Por isso e por passar vários episódios de dor, ela se conhece melhor e tem uma proteção para saber até que nível a sensação é aceitável. O que a mulher sente é mais forte, mas ela também tem uma melhor percepção da gravidade. Já o homem tende a perceber a dor de forma mais dramática”, resume.

Os estudos médicos na área provam que a ocorrência de doenças e sintomas dolorosos na mulher é realmente mais frequente. A Sociedade Brasileira do Estudo da Dor, por exemplo, diz que 15% das mulheres sofrem com cólicas menstruais excruciantes, suficientemente fortes para as deixarem de fora das atividades diárias como ir à escola ou ao trabalho.

A dor do parto, que também é relatada por 95% das mulheres, quando comparada a outras condições dolorosas através do questionário de dor de McGill, recebe pontuação maior do que a dor do câncer ou de uma fratura óssea.

“A cefaleia, por exemplo, atinge o dobro de mulheres do que os homens. Em doenças crônicas como a fibromialgia, essa proporção pode ser até nove vezes mais comum entre elas”, diz Almeida.

Falando tecnicamente

Para a Sociedade Brasileira de Estudo da Dor, as alterações hormonais explicam a maior parte dos motivos pelos quais as mulheres sofrem mais. Isto porque “aumentam a expressão do fator de crescimento neural e o número de sinapses excitatórias no hipocampo”, segundo a instituição. Traduzindo, o estrogênio é capaz de potencializar tudo o que elas sentem.

“Ainda faltam muitas respostas para conhecer exatamente como os hormônios influenciam diretamente nisso. Mas vamos entender dessa forma: se eu pegar um alfinete e picar meu dedo, o estímulo vai chegar ao meu cérebro, percorrendo um caminho”, exemplifica o neurologista do INC. “Só que nesse trajeto podemos sentir a picada de forma mais forte, se estivermos gripados ou com febre. Esse fenômeno é a sensibilização. A teoria mais aceita é de que os hormônios ativam esse mesmo mecanismo e, através dos receptores, fazem as mulheres sentir mais dor”, finaliza.

Hábitos saudáveis diminuem a sensibilidade

Antes de se dar por vencida, saiba que sentir mais dor não é sinal de que as doenças nas mulheres são mais graves. O incômodo causado com a sensibilização, no entanto, não deve ser desprezado e pode ser diminuído através de exercícios físicos rotineiros, alimentação regrada e meditação.

Sofrendo com fibromialgia há quatro anos, a palestrante Lynna Dutra, 34 anos, conta que aprendeu a conviver com as fortes dores, mas reclama que a sensação, aliada à confusão mental causada pela fibromialgia, prejudicam seu lazer.

>> Maracujá, alface e espinafre: conheça a dieta para parar de fumar

“Gosto muito de ler, estudar e me comunicar. Passei a ter dificuldade em assimilar aquilo que leio, em dias de crise.” Ela tenta driblar os dias mais difíceis usando essas técnicas. “O emocional tem um impacto muito grande. No dia a dia, sabemos que quem sofre com dor tem que estar exprimindo ela de uma forma aparente, se não as pessoas acham que é algo leve”, lamenta.

“A maioria tenta compreender a dor baseada em sua experiência pessoal, mas quem sofre com dor crônica sabe que é como se não existisse um filtro entre a sensação e o cérebro”, resume.

Companheira de diagnóstico, a cabeleireira Simone Alves, 48 anos, diz que descobriu a doença há nove anos, mas até chegar a este ponto sofreu com incompreensão do ex-marido, que não conseguia entender da mesma forma que ela, o nível de sensibilização.

“A mulher sente mais, mas é mais forte para suportar a carga”, comenta. “A gente se abre mais facilmente para relatar o que sentimos e corremos atrás dos recursos para atingir um equilíbrio, na alimentação e no estilo de vida”, continua.

“Já os homens, em geral, são menos pacientes e costumam não buscar ajuda para melhorar a dor. Isso entra muito na particularidade entre os sexos”, finaliza.

LEIA TAMBÉM

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]