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Buscar medicamentos para alívio da dor no pós-treino é comum entre praticantes de atividades físicas. Foto: Bigstock
Buscar medicamentos para alívio da dor no pós-treino é comum entre praticantes de atividades físicas. Foto: Bigstock| Foto:

Quem pratica musculação, sabe. Ao iniciar na academia ou trocar de treino, um simples espirro ou risada são suficientes para sentir ainda mais forte a dor derivada da fadiga muscular. Durante alguns dias após o treino, movimentos simples como sentar, levantar ou erguer os braços se revelam um verdadeiro sofrimento. A ideia de tomar um anti-inflamatório ou relaxante muscular, então, parece ótima para dar um pouco de alívio a esse incômodo. Porém, o que muita gente não sabe é que, ao tomar remédios, boa parte do esforço para a hipertrofia muscular pode ser jogado fora.

Esse é um mecanismo fácil de entender: o crescimento dos músculos acontece justamente pela via inflamatória. Medicamentos que reduzem a inflamação e a dor afetam esse processo, o que reduz a sinalização para o remodelamento muscular. “A utilização excessiva de anti-inflamatórios, teoricamente, pode prejudicar o ganho de massa muscular devido à quebra da cadeia de síntese de proteína. A utilização esporádica, contudo, não é prejudicial”, diz o médico ortopedista Bernardo Ferreira da Luz, do hospital Vita Curitiba, especialista em traumatologia do esporte e coordenador do departamento médico do Paraná Clube.

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Em outras palavras, isso significa que, para crescer, as fibras musculares precisam se recuperar espontaneamente. Quando um anti-inflamatório é ingerido, o processo de hipertrofia se interrompe porque esses medicamentos atuam na inibição de enzimas que são necessárias ao crescimento do músculo em resposta ao exercício intenso.

Mais do que isso, a utilização regular de medicamentos para o alívio da dor pode trazer consequências sérias para a saúde, especialmente os anti-inflamatórios. “A utilização do relaxante muscular é uma prática corriqueira entre praticantes de atividade física. Porém, a utilização regular não é indicada, devido a alguns efeitos colaterais da medicação, como a sonolência. Já a utilização dos anti-inflamatórios, durante e após o exercício, em conjunto com a desidratação inerente à prática física, pode sobrecarregar os rins, gerando problemas renais futuros”, explica Bernardo.

No pain, no gain?

Essa expressão em língua inglesa significa, em tradução literal, “sem dor, sem ganho”. Muito usada como um lema que afirma que sem trabalhar pesado não é possível alcançar resultados vitoriosos, a frase motivadora está muito ligada ao universo das academias. Mas, afinal, o quanto dela é verdade?

“A chamada dor muscular tardia, que é a dor pós-treinamento, tem seu pico entre 48 e 72 horas, diminuindo após esse tempo. Claro que esse sintoma é normal, desde que não seja em excesso. A dor excessiva não tem qualquer significado em relação à qualidade do treino, pelo contrário, ela significa aumento da necrose (morte) muscular, podendo causar perda temporário de função na musculatura, o que favorece a perda massa muscular nesses dias”, coloca o médico.

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Dor x crescimento muscular

Segundo a Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED), a dor muscular após qualquer tipo de exercício físico é uma reação normal do organismo. “O esforço causa pequenas lesões musculares e é a partir dessa lesão que o músculo vai se reparar de uma maneira mais forte, mais resistente”, diz o endocrinologista Francisco Tostes, especializado em medicina do esporte. Ou seja, são essas lesões que contribuem para o esperado efeito de fortalecimento e de ganho de massa magra.

Medicamentos mais usados

Ainda segundo a SBED, medicamentos analgésicos (como o paracetamol), anti-inflamatórios, (como o ibuprofeno), e relaxantes musculares costumam ser os mais usados para aliviar esse tipo de dor. Nos casos do paracetamol e do ibuprofeno, como são vendidos sem receita médica, muitas pessoas acreditam que eles não têm efeitos colaterais importantes. Mas, como qualquer droga, o uso inadequado traz riscos.

“O paracetamol é um analgésico muito comum, mas tem grande potencial de causar problemas no fígado se ingerido em quantidades inadequadas. Relaxantes musculares precisam de prescrição médica, pois podem interagir com outras drogas e têm efeitos colaterais importantes, como o aumento da sonolência”, comenta o neurocirurgião José Oswaldo de Oliveira Junior, um dos diretores da SBED.

O anti-inflamatório ibuprofeno, por sua vez, inibe moléculas chamadas prostaglandinas, que atuam nas células e podem aumentar a sensibilidade dos receptores de dor. Como  elas também têm outras funções no organismo, o excesso de medicamento traz outras consequências, como a diminuição da produção do muco que reveste e protege partes do sistema digestório. “Com isso, a pessoa pode desenvolver irritação no esôfago, no estômago e até úlcera. As prostaglandinas também ajudam a controlar o fluxo de sangue, ao promover a dilatação dos vasos sanguíneos. Como o ibuprofeno inibe sua produção, pode reduzir o fluxo que chega aos rins, responsáveis pela filtragem do sangue e pela eliminação de toxinas do corpo”, coloca José Oswaldo.

Com cautela

Se um praticante de atividade física está fazendo uso regular de medicamentos para a dor, é sinal de que há algum problema, como uma lesão mais grave, que precisa de tratamento adequado e pode ter seu diagnóstico retardado devido ao uso da medicação.

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