Saúde e Bem-Estar

Monique Portela, especial para o Viver Bem

Ingerimos um cartão de crédito em plástico por semana, diz estudo

Monique Portela, especial para o Viver Bem
28/07/2019 13:00
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No corpo humano, essas micropartículas, que têm até cinco milímetros, podem ser inspiradas pelas vias aéreas e incorporadas pelo intestino, gerando lesões inflamatórias. Foto: Bigstock.

Micropartículas de plástico estão presentes no ar que respiramos e nos alimentos e bebidas que consumimos, potencialmente trazendo riscos à saúde humana.
A soma total ingerida semanalmente seria de cinco gramas — o equivalente ao peso de um cartão de crédito, segundo um estudo realizado pela Universidade de Newcastle, na Austrália.

“Não se sabe há quanto tempo estamos comendo plástico”, diz Camila Domit, bióloga e pesquisadora da Universidade Federal do Paraná (UFPR). “Mas hoje estamos submetidos ao efeito de todo o plástico que está disponível no ecossistema desde que ele virou nosso principal auxílio de vida”, fala.

No corpo humano, essas micropartículas, que têm até cinco milímetros, podem entrar pelas vias aéreas e ser incorporadas pelo intestino, gerando lesões inflamatórias.
As partículas menores podem ser absorvidas pelas células e atingir o sistema linfático, a circulação, alguns órgãos como baço, fígado, rins e até mesmo o sistema nervoso central. É o que explica Anderson Martino Andrade, professor do Departamento de Fisiologia da UFPR que pesquisa a ação de agentes químicos sobre a saúde humana.
“Quanto menor a partícula, maior a capacidade de captação pelas células e infiltração nos tecidos e, portanto, maior a possibilidade de danos”, alerta. Os estudos que mapeiam a ação específica dos microplásticos a longo prazo ainda são escassos, então é difícil apontar quais são os riscos para a saúde humana.

O que se sabe, porém, é que essas micropartículas podem carregar bactérias, microorganismos e outras substâncias nocivas, como agrotóxicos, trazendo todas elas para dentro do corpo humano.

“Os microplásticos podem liberar agentes químicos que fazem parte da estrutura do plástico ou substâncias aderidas às micropartículas plásticas, de forma que os efeitos sobre a saúde podem ser ainda mais amplos”, aponta o pesquisador. “Mas a contribuição dos microplásticos para a exposição total a agentes químicos ambientais ainda é amplamente desconhecida”, completa Andrade.

Onde está o microplástico?

A maior concentração de microplástico foi encontrada em um elemento fundamental: a água potável, tanto de torneira quanto engarrafada. Ao todo, uma pessoa estaria passível de ingerir 1769 partículas de plástico semanalmente apenas bebendo água.
“Todo o microplástico vai para a água. E por mais que ela seja tratada, nosso sistema não tem como filtrá-lo”, explica a pesquisadora Camila Domit.
A água potável é um dos itens que mais contém micropartículas de plástico. Foto: Bigstock.
A água potável é um dos itens que mais contém micropartículas de plástico. Foto: Bigstock.
De fato, a legislação brasileira não prevê o tratamento dessas partículas e, portanto, elas não são filtradas. Mas o problema não é apenas nacional — criar um método eficaz de lidar com esta poluição é um desafio tecnológico que tem mobilizado pesquisadores de diversas áreas e países nos últimos anos.
Ao investigar a presença de microplástico em seis países diferentes e um continente, a Europa, os pesquisadores de Newcastle concluíram que, entre os países analisados, aqueles com maior porcentagem e concentração de microplásticos é o Líbano e os Estados Unidos.
Em comparação, o Equador, único país da América Latina analisado, apresentou quase metade da concentração média de fibras de plástico a cada meio litro de água — ainda assim, 79,2% das amostras continham microplásticos.
Outra pesquisa realizada em 2018 pelo médico Philipp Schwabl, da Universidade de Medicina de Viena, na Áustria, encontrou partículas de microplástico em fezes humanas de oito países diferentes: Áustria, Finlândia, Holanda, Itália, Japão, Polônia, Reino Unido e Rússia.

Além da água, foram identificados microplásticos em frutos do mar, sal e até na cerveja, no caso de alimentos e bebidas. Já em cosméticos, desde 2014 órgãos internacionais têm investido em campanhas para que as empresas deixem de usar as partículas na composição de seus produtos, como esfoliantes e géis de banho.

Um relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) publicado em 2015 apontou que a quantidade de plástico encontrada dentro destes produtos pode equivaler à mesma quantidade que compõe suas embalagens.
Não dá para escapar: o panorama é global e exige atenção imediata, principalmente pela via da prevenção. “É como um vazamento. Em vez de pensar em como você vai salvar os móveis, você precisa estancar o vazamento. Então o que precisamos fazer agora é barrar a entrada de mais plástico no planeta”, aponta Camila.
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