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Riscos do uso de descongestionantes em crianças se sobrepõem aos benefícios do medicamento (Foto: Bigstock)
Riscos do uso de descongestionantes em crianças se sobrepõem aos benefícios do medicamento (Foto: Bigstock)| Foto:

O uso de remédios descongestionantes não deve fazer parte do tratamento de resfriados comuns.  O alerta vem de um estudo divulgado pela revista científica British Medical Journal (BMJ), publicado em outubro, que reforça a falta de evidências de que este tipo de medicamento traria alívio dos sintomas, mas poderia causar riscos à saúde cardíaca e danos à mucosa nasal.

Em geral, o resfriado comum (também conhecido por rinofaringite) é uma doença autolimitada, com sintomas que variam de sete a 10 dias, e que tende a se dissipar sozinha. Um dos sintomas mais conhecidos, e odiados pelos pais, é a obstrução nasal, que afeta a qualidade da respiração e do sono das crianças.

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Ao reagirem às agressões externas, como poeira, bactérias, vírus e ácaro, finas artérias localizadas na mucosa nasal inflam e o uso dos medicamentos descongestionantes, tópicos e orais, favorece a constrição de músculos da região e reduz o calibre dessas artérias, abrindo espaço para o ar passar novamente.

“Tem efeito benéfico por pouco tempo, e o uso é bem restrito em crianças. Depois que o efeito do descongestionante passa, a arteríola não responde mais aos nossos estímulos, e a mucosa fica mais inflamada, piorando os sintomas. Esse é o efeito rebote, um dos aspectos para não usar esse medicamento”, explica Gabriel Zorron, médico otorrinolaringologista e cirurgião crânio-facial do Instituto Paranaense de Otorrinolaringologia.

Na busca do alívio dos novos sintomas (gerados pelo próprio descongestionante), os pacientes tendem a usar o medicamento em intervalos cada vez menores, e isso aumenta o risco de uma superdosagem. Há também quem se “vicie” no medicamento, segundo Lauro Alcântara, médico otorrinolaringologista e chefe do serviço de Otorrinolaringologia do hospital Pequeno Príncipe.

“A partir do quinto, sexto dia de uso do descongestionante, a mucosa nasal cria uma dependência. O adulto, por exemplo, que acaba viciado, acaba levando o descongestionante no bolso da calça, no criado-mudo do quarto, no carro, na gaveta do trabalho”, alerta.

Problemas no coração

Embora os pacientes acreditem que a ação dos descongestionantes está limitada no alívio dos sintomas nasais, o medicamento também traz efeitos colaterais importantes para o restante do corpo. De acordo com Michel Nomura, médico otorrinolaringologista geral e otorrinopediatra na clínica Otorrinos Curitiba, a atenção deve se voltar, principalmente, ao coração:

“Há aumento do risco de eventos nocivos ao corpo, como taquicardia, hipertensão arterial sistêmica, arritmias cardíacas, dores de cabeça e, em crianças pequenas, depressão do sistema cardiorrespiratório ocasionando, em casos severos, a morte“, explica.

Os efeitos, embora possam ocorrer a qualquer idade (inclusive entre os adultos), tendem a ser potencializados em crianças menores de seis anos. “Mas, não é recomendado o uso na faixa etária pediátrica, que é abaixo dos 12 anos”, reforça Nomura.  

Resfriado comum em crianças: cuidado na hora de tratar os sintomas Crianças com resfriado comum não precisam ser tratadas com descongestionante, por riscos à saúde (Foto: Bigstock)

Resfriado: e agora?

Crianças, especialmente entre os seis e oito anos, tendem a ter mais resfriados que os adultos porque, dentre muitos motivos, o sistema imunológico ainda não chegou a uma eficiência total. Segundo Michel Nomura, médico otorrinolaringologista, isso acontece porque elas não tiveram uma grande exposição aos causadores das doenças mais comuns a acometerem as vias aéreas superiores e estão, portanto, mais susceptíveis.

“O ambiente escolar também é um fator de risco para o acometimento dessas doenças pelo número de crianças em sala de aula, e devido a uma das fases de desenvolvimento, a fase oral, que indiretamente é um disseminador de patógenos”, reforça Nomura.

Então, uma vez identificados os sintomas do resfriado comum — secreção nasal, espirro e congestão –, a primeira orientação aos pais é para que busquem um médico que confirmará ou não o diagnóstico.

“O descongestionante trata os sintomas e, se usado incorretamente, piora os sintomas. Até que se consiga uma consulta com o médico, o melhor a fazer é lavar com soro fisiológico. O soro ajuda a umidificar e tirar a secreção acumulada”, sugere Gabriel Zorron, médico otorrinolaringologista. 

Aumentar a hidratação oral, usar dispositivos de aspiração oral, encontrados em farmácia, também podem contribuir para o alívio dos sintomas, além de evitar o uso do ar condicionado no período.

Alerta aos sinais

Entre as crianças com resfriado comum, se houver uma piora nos sintomas, com prostração, dificuldade respiratória (esforço no tórax, batimento das narinas, respiração mais rápida), criança com dificuldade para se alimentar ou com recusa aos alimentos, volte ao médico.

“Persistência da obstrução nasal e falta de melhora nos sintomas além dos sete dias, persistência da febre, secreção nasal amarelada e espessada. Esses são alguns dos sinais e sintomas que os pais e cuidadores devem estar atentos e de prontidão a levar a criança ao médico para uma avaliação mais detalhada”, explica Michel Nomura, médico especialista.

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