Saúde e Bem-Estar

Camila Tremea, especial para a Gazeta do Povo

Vício em internet não para de crescer: você conhece os sinais?

Camila Tremea, especial para a Gazeta do Povo
19/02/2016 22:00
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Os problemas causados pela dependência da internet em curto e médio prazo, de modo geral, estão relacionados a aspectos físicos e aspectos psicossociais. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo.

Um mal necessário. A frase é clichê, mas descreve bem o que significa a internet e suas tecnologias na vida dos indivíduos. Não se pode negar que ela é uma ferramenta fantástica: traz comodidade, conecta as pessoas, permite o acesso às informações e facilita – e muito – a execução de tarefas rotineiras. Mas para os especialistas, a grande questão é: você consegue se desconectar?
A psicóloga colaboradora do Núcleo de Dependências Tecnológicas do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Sylvia van Enck, diz que o prognóstico não é bom. Apesar de não ser considerada uma doença, o uso abusivo da internet tem preocupado os profissionais da saúde, especialmente porque os pais estão utilizando este recurso para distrair os bebês.
“Não tem como concretizar o que vai acontecer, mas é assustador, considerando que o acesso está cada vez mais fácil”, aponta. Antes, ela era restrita ao computador – famoso desktop – e, hoje, sem limites, graças aos dispositivos móveis. A internet e seus atrativos estão onde você está. Basta sair de casa para observar que as pessoas estão de alguma maneira conectadas. O que deveria ser uma necessidade eventual passou a ser instantânea.
Os problemas causados pela dependência da internet em curto e médio prazo estão relacionados a aspectos físicos – transtornos alimentares, como obesidade e anorexia, do sono, como insônia e exaustão, atraso no desenvolvimento cognitivo, dificuldades na visão e audição, entre outros – e aspectos psicossociais – confinamento, baixa autoestima, depressão.
O estudante Gabriel Augusto Zancanaro, 14 anos, sabe como é ser um dependente da internet. Todos os dias, ele acorda, vai para a escola e quando volta, não dá tempo de trocar de roupa e nem de almoçar. Vai direto para o computador. Aliás, ele tem dois, que é para garantir caso um deles pare de funcionar. O rapaz, que tem hipoglicemia, já chegou a passar mal por ficar muito tempo sem se alimentar. Escovar os dentes e tomar banho, só quando a mãe insiste. E muito!
O estudante Gabriel Augusto Zancanaro, 14 anos, com a mãe Elaine Correia: limites para o garoto por tempo demais conectado. Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo.
O estudante Gabriel Augusto Zancanaro, 14 anos, com a mãe Elaine Correia: limites para o garoto por tempo demais conectado. Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo.
“Ele deixou de ter uma vida de criança para viver em função disso. Para mim, isso é um vício”, afirma Elaine Correia, mãe de Gabriel. Até que ele passou a tirar nota baixa no colégio. Daí não teve jeito: Elaine precisou colocar limites e estipulou horários para o rapaz usar o computador. O próprio estudante admite que costumava fazer outras coisas antes, inclusive jogar bola. “Antes de conhecer a internet eu tinha uma vida”, reconhece o garoto.
Consciência
Em algum momento, as pessoas se identificam como dependentes da internet e suas tecnologias. Isso não significa que alguém é, de fato, viciada nela. Segundo a psicóloga Sylvia van Enck, em primeiro lugar, o indivíduo deve identificar a necessidade em usar a internet na sua vida. Para o trabalho, estudo, interação social, compras, pagamentos, resolver coisas do cotidiano. Até aí, tudo bem.
Agora, quando ele abre mão do contato presencial – família, amigos, relacionamentos – e do cuidado pessoal – alimentação, sono, atividade física, espiritualidade – é um importante alerta. É o caso do empresário T.M., de 29 anos, que prefere não se identificar. Ele relata que só se percebeu usando a internet excessivamente quando a esposa começou a reclamar. Mais que isso, quando não podia acessá-la, ele sentia-se muito ansioso.
Na medida em que as pessoas identificarem que não conseguem interromper o uso da internet – seja pelo computador ou qualquer outro dispositivo móvel – e, quando o fazem, manifestam sintomas como irritabilidade, angústia e ansiedade, está na hora de buscar a ajuda de um psicólogo e, em alguns casos, até de um psiquiatra.
Sylvia destaca que o principal a ser feito, no momento, é conscientizar a sociedade. Por isso, ela e outros profissionais da saúde montaram, em São Paulo (SP), um Programa de Psicoterapia de Grupo que atende gratuitamente a população. Além disso, eles investem forte em palestras para divulgar o tema e explicar porque isso acontece e como fazer para se autorregular.
Em Curitiba, não existe um programa similar. Mas a psicóloga confirma que as pessoas que buscam ajuda pelo site são encaminhadas para especialistas.
SINAIS DE ALERTA
O celular virou uma extensão dos indivíduos. Entretanto, a psicóloga Sylvia van Enck explica que para ser diagnosticada como dependente da internet e suas tecnologias, a pessoa deve apresentar, pelo menos, cinco dos oito critérios descritos a seguir:
  • Foco total ? Preocupar-se excessivamente com a internet (em geral).
  • Mais e mais ? Sentir a necessidade de aumentar o tempo on-line para obter a mesma satisfação.
  • Dificuldade ? Exibir esforços repetidos, sem sucesso, para diminuir o tempo de uso da internet.
  • Abstinência ? Apresentar irritabilidade ou depressão quando uso da internet está limitado.
  • Fuga ? Usar a internet para escapar dos problemas ou regular o emocional.
  • Tempo voa ? Permanecer mais tempo on-line do que o programado.
  • Isolamento- Ter o trabalho e as relações familiares e sociais em risco pelo uso da internet.
  • Negação ? Mentir para os outros sobre a quantidade de horas on-line.