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Leia Armitage tinha um tipo raro de surdez profunda. Foto: Guy’s and St Thomas/ NHS
Leia Armitage tinha um tipo raro de surdez profunda. Foto: Guy’s and St Thomas/ NHS| Foto:

Escutar a voz dos pais, o barulho dos brinquedos e seu próprio choro eram situações impossíveis para a britânica Leia Armitage, de sete anos. “Ouvimos [dos médicos] que nem se colocássemos uma bomba atrás da orelha dela ela escutaria a detonação”, disse o pai Bob Armitage, em entrevista à BBC News.

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No entanto, uma cirurgia cerebral e cinco anos de acompanhamento com fonoaudiólogos tiraram a menina da vida em silêncio. Hoje ela ouve diversos sons à sua volta, frequenta uma escola tradicional com o auxílio de um intérprete de linguagem de sinais e fala várias frases completas.

“‘Te amo, papai’, é provavelmente a melhor coisa que já ouvi ela dizer”, comemora o pai. “Quando estou colocando ela para dormir, ela já diz ‘boa noite, mamãe’, algo que eu nunca imaginei ouvir”, completa a mãe Alison.

O procedimento cirúrgico que mudou a vida da garota existe há dez anos e também é realizado no Brasil. No entanto, sua aplicação é rara porque poucos pacientes necessitam dele. “Esse tratamento só é indicado nos casos em que a criança nasceu sem os dois nervos auditivos — que é a agenesia do nervo coclear — ou quando o adulto teve um tumor nos dois lados do nervo e sofreu uma surdez severa por conta disso”, explica o otorrinolaringologista Rogerio Hamerschmidt, coordenador da equipe médica que realiza o procedimento em Curitiba.

Segundo ele, o procedimento custa em torno de R$ 100 mil e é altamente arriscado porque instala um implante auditivo no tronco encefálico do paciente, próximo ao cérebro. “Um feixe de eletrodos é colocado na saída do nervo que vai para o ouvido, então, se o procedimento não der certo por algum motivo, o paciente pode ficar com sequelas neurológicas e até morrer”, explica.

Leia Armitage tinha um tipo raro de surdez profunda. Foto: Guy’s and St Thomas/ NHS
Leia Armitage tinha um tipo raro de surdez profunda. Foto: Guy’s and St Thomas/ NHS

Esses riscos fizeram com que os pais da britânica Leia Armitage ficassem receosos a respeito do procedimento, mas eles aceitaram que a filha realizasse o implante para ter mais qualidade de vida e ouvir, pelo menos, as buzinas dos carros quando fosse atravessar a rua.

A garota passou pela neurocirurgia aos dois anos e iniciou uma longa fase de terapia e acompanhamento com fonoaudiólogos até reagir a sons como o das portas de metrô e entender algumas frases ditas pelos pais. Esse processo, de acordo com Hamerschmidt é extremamente complexo para crianças porque a percepção de sons após a cirurgia é muito inferior à audição normal, com ruídos que dificultam o aprendizado.

“Em adultos que perderam a audição, o processo é mais rápido porque eles já sabem falar, mas para a criança é necessário bastante estimulo de um fonoaudiólogo para que, lentamente, ela entenda os sons e aprenda a se comunicar”.

No caso divulgado pela BBC, a paciente demorou cinco anos para falar as primeiras frases e acompanhar os colegas na sala de aula com o auxílio de um intérprete da Linguagem de sinais.  Além disso, hoje a menina consegue escutar algumas músicas, ouvir conversas ao telefone e atender ao chamado dos pais. “Se ela estiver no andar de cima da casa e a gente chamar, ela vai ouvir”, relataram os pais à BBC.

A cirurgia

No Brasil, o procedimento cirúrgico já foi realizado em São Paulo, no Rio de Janeiro e uma vez em Curitiba. “Aqui no Paraná, nós atendemos há dois anos um adulto que teve tumor nos dois nervos cocleares. Ele se recuperou bem após a cirurgia e já consegue se comunicar bem”, afirma Hamerschmidt.

Segundo o otorrinolaringologista, o implante é colocado no tronco encefálico e cicatriza em até 60 dias. Após esse período, o paciente recebe um aparelho de alta tecnologia para captar o som e emiti-los ao implante interno. “Esse processador de som é semelhante ao aparelho de audição, vai atrás do ouvido e gera um estímulo que faz a pessoa perceber os sons e começar a entendê-los”.

Vale ressaltar que essa cirurgia é bem diferente do tradicional implante coclear, realizado quando os pacientes possuem os nervos auditivos, mas apresentam surdez por fatores genéticos ou doenças como a rubéola. “Esse implante ocorre dentro da cóclea e, por não ser uma cirurgia intracraniana, é muito mais comum e tem resultados melhores”, explica o médico, que já realizou mais de 500 procedimentos como esse na capital paranaense.

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