Saúde e Bem-Estar

Raquel Derevecki

Boato na internet diz que farinha de trigo pode ser usada contra queimaduras

Raquel Derevecki
30/01/2019 16:51
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Foto: Bigstock

Com a alta temperatura nos últimos dias e muita gente voltando da praia com a pele vermelha, um antigo boato a respeito da farinha de trigo ser eficaz para queimaduras voltou a circular pelas redes sociais. Na mensagem, o autor afirma que aprendeu a técnica com um morador do Vietnã – país localizado no Sudeste da Ásia – e que o ingrediente é infalível para controlar a dor, não deixar bolhas e ainda evitar manchas. No entanto, a sugestão não procede e dificulta o tratamento adequado.
De acordo com o cirurgião plástico Luiz Henrique Calomeno, que atua no Hospital Evangélico, em Curitiba, passar farinha na queimadura interfere no diagnóstico e prejudica o atendimento. “Se você colocar esse produto em uma queimadura grave, ele vai formar uma crosta e o médico não terá condições de avaliar o que há embaixo”. Também será necessário retirar toda a farinha por meio de um procedimento dolorido que poderia, facilmente, ser evitado. “Existem casos em que precisamos submeter o paciente à anestesia geral para podermos tirar o que ele passou nas queimaduras”, lamenta o especialista.
Além da farinha, o médico relata que já atendeu pacientes que usaram vinagre, clara de ovo, pó de café, pasta de dente e extrato de tomate na tentativa de aliviar a dor e tratar o ferimento. “Essa é uma dificuldade que ainda encontramos no nosso trabalho por conta de crendices antigas”, lamenta.
O boato a respeito do uso da farinha de trigo para queimaduras voltou a circular pelas redes sociais, Foto: Reprodução/WhatsApp
O boato a respeito do uso da farinha de trigo para queimaduras voltou a circular pelas redes sociais, Foto: Reprodução/WhatsApp
Segundo ele, tratamentos caseiros como esses eram usados pela população em locais de difícil acesso, onde as pessoas não podiam receber atendimento em um posto de saúde ou hospital. “Então, eles pegavam os produtos que tinham em casa e tentavam aliviar a dor da queimadura da maneira que conseguiam”, explica.
Isso dava certo com o uso da farinha colocada na geladeira ou da pasta de dente, por exemplo, porque o contato com algo frio diminui o estímulo para o sistema nervoso, que é responsável pela sensibilidade.
Usar farinha de trigo nas queimaduras não traz benefícios e pode prejudicar o tratamento. Foto: Bigstock
Usar farinha de trigo nas queimaduras não traz benefícios e pode prejudicar o tratamento. Foto: Bigstock

“A pessoa percebia a diminuição dessa dor, mas não tratava o ferimento e nem evitava bolhas. Essas queimaduras superficiais saravam sozinhas, ou seja, a melhora não tinha nenhuma ligação com o produto usado”, aponta Calomeno.

Por isso, a orientação do cirurgião é usar água corrente fria ou gelada no local da queimadura. “Não pode ser gelo ou outro produto. Tem que ser a água para aliviar a dor do paciente sem prejudicar o diagnóstico médico ou agravar a situação”.
Nas queimaduras leves que deixam a pele vermelha, não é necessário procurar atendimento médico. Já nas queimaduras com formação de bolhas – que podem levantar em até três dias -, o paciente deve envolver a área queimada com uma bandagem e procurar um posto de saúde para avaliação. “Lembrandnão a bolha não deve ser furada porque ela está protegendo o ferimento dos micro organismo no ambiente”, afirma o médico.
Em situações mais graves em que as bolhas se rompem, os tecidos ficam expostos ou a região fica carbonizada, é necessário solicitar atendimento médico de urgência.

Cuidado com notícias falsas

Com a disseminação rápida de informações pelas redes sociais, aumentam as chances de transmitir notícias falsas como essa referente ao uso da farinha de trigo para tratar queimaduras. Portanto, antes de compartilhar qualquer informação para amigos e parentes, é necessário verificar se o conteúdo é confiável. Uma pesquisa rápida em veículos de comunicação de credibilidade, com certeza, vai ajudar.
Além disso, algumas dicas infalíveis podem desmascarar uma notícia falsa rapidamente. Basta ler o conteúdo até o fim e identificar se há erros de português, falta de dados como data e a localização, e poucos detalhes a respeito do assunto, já que essas mensagens costumam ter um texto genérico. Outro fator comum nessas correntes falsas é o pedido para que a mensagem seja compartilhada. Ao perceber essas características, ligue o alerta e não passe a informação adiante.
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