Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo

Peixes crus que podem colocar sua saúde em risco

Amanda Milléo
12/02/2016 22:00
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Fotos: Bigstock.

Antes era preciso ir a um restaurante de comida oriental para encontrar sashimis, sushis e outras versões de peixes crus. Hoje, qualquer restaurante que ofereça um buffet variado traz opções com pescados crus. Quanto mais peixe comemos na forma crua, maior é o risco de desenvolvermos infecções causadas pelo pescado infectado. Um exemplo clássico é o salmão, que pode desencadear uma condição conhecida como a “tênia do peixe”, a difilobotríase. A fragilidade dos médicos e laboratórios diagnósticos em identificar essas condições, que tendem a aparecer cada vez mais, levou Gilberto Pavanelli, professor e pesquisador em Zoologia da Universidade Estadual de Maringá (UEM), a desenvolver o livro Zoonoses Humanas Transmissíveis por Peixes no Brasil (Editora UniCesumar, 2015). Confira a entrevista que o professor deu ao Viver Bem – Saúde sobre essas infecções e aprenda como se prevenir.
Como identificar se o peixe pode estar infectado e desenvolver alguma doença?
O peixe vem da natureza contaminado, e a pessoa não consegue identificar no olho qual pode conter a infecção e qual não. O salmão que vem do Chile chega ao Brasil em cima de uma camada de gelo, suficiente apenas para evitar o crescimento das bactérias. A fiscalização do Estado deve ser eficiente, nesse sentido, para evitar que a população coma peixes crus infectados e que venha a desenvolver as doenças. O que pode ser indicado é que as pessoas escolham restaurantes e peixarias com peixes de boa procedência, que sejam confiáveis.
O uso de molho de soja, gengibre e wasabi pode impedir o desenvolvimento de infecções no peixe cru?
Não são eficientes porque eles tocam superficialmente a parte externa do peixe, além de dar um sabor ao alimento. Mas, não age nas partes internas, onde está a fonte da infecção.
O que poderia ser feito para impedir o desenvolvimento da doença?
O procedimento mais adequado e que funciona 100% é congelar o peixe. Compre, congele durante sete dias no congelador da geladeira, e todos os possíveis parasitas serão destruídos. Mas, os japoneses e descendentes não costumam comer o sashimi de peixe congelado, porque pode mudar a textura e o paladar. Se fritar ou assar, não há problema algum.
Quais os principais sintomas dessas infecções?
Algumas das doenças causadas pelo consumo de peixe cru passam despercebidas, como se fosse uma verminose comum, e não deixa sequelas. São sintomas brandos, de ordem gastrointestinal, mas outras podem provocar choque anafilático em pessoas sensíveis, que pode levar à morte.
Quais foram os casos de infecções do consumo de peixe cru no Brasil?
Há uns seis anos, na região do litoral sul de São Paulo, houve uma grande produção de tainha. Para estimular o consumo, fizeram festa da tainha e incentivaram a população a criar receitas diversas com o peixe, que deu origem ao sashimi de tainha. Depois disso, apareceram vários casos na literatura médica de infecções gastrointestinais em pessoas que consumiram o peixe na forma crua. Outro caso em São Paulo, em 2008, houve um surto muito grave de parasitoses a partir do consumo cru de salmão, no bairro da Liberadade. Foi uma epidemia, que reduziu em até 40% o consumo do peixe.
Fique de olho onde come: quando contaminado, o salmão pode transmitir difilobotríase.
Fique de olho onde come: quando contaminado, o salmão pode transmitir difilobotríase.
Perigos do mar para a mesa
Repense o consumo cru dos seguintes peixes e crustáceos, pois eles podem desencadear as doenças a seguir: Tainha (Fagicolose), Salmão (Difilobotríase), Linguado Chinês (Clonorquíase), Arenque (Anasaquíase), Bacalhau (Pseudoterranovíase), Cacharas, tipo de Pintado (Contracequíase), Lagosta, rã, caranguejo e peixes de água doce (gnatostomíase), Peixes de água doce (Capilaríase), Catfish, Mirabaia, Perca (Eustrongilidíase) e Chub (Dioctofimose).
12 doenças
foram registradas até o momento em todo o mundo relacionadas às infecções de peixes crus. No Brasil, há o registro de pelo menos quatro doenças com pessoas contaminadas, e uma quinta doença de pessoas que se contaminaram fora do país.
10 quilos
de peixe por ano por brasileiro é o consumo médio segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura A média mundial é de 18 quilos. No Japão, 86 quilos e, na Irlanda, 80 quilos. Portugal com 55 quilos, Espanha com 35 quilos e a França com 24 quilos.