Saúde e Bem-Estar

Danielle Brito

Para viver mais e melhor

Danielle Brito
25/02/2007 18:44
dbrito@gazetadopovo.com.br


O geriatra José Mário Tupiná e dois pacientes: tratamento integral.
Avanços científicos e tecnológicos estão ajudando a humanidade a viver mais. Porém, esse aumento de anos nem sempre vem com qualidade de vida. A geriatria é uma especialidade médica que tem por princípio tratar o indivíduo de forma integral. Mas o ramo ainda é pouco popular entre os próprios médicos. Em Curitiba são apenas 17 profissionais. No Paraná, o único centro formador de geriatras credenciado pelo Ministério da Educação (MEC) é o Hospital Universitário Cajuru. A instituição forma três geriatras por ano, número insuficiente para atender a demanda segundo o chefe do Serviço de Geriatria do hospital, José Mário Tupiná Machado, que concedeu a seguinte entrevista ao Viver Bem:
Vivre Bem – Quando começamos a envelhecer?
José Mário Tupiná Machado – O envelhecimento é um processo de mudanças estruturais e funcionais inerente à vida e de início impreciso. Ao mesmo tempo em que nos desenvolvemos, envelhecemos. São processos simultâneos.
As pessoas estão vivendo mais. Mas se vive melhor?
Vive-se mais, mas não se vive melhor. Isso porque temos medo da velhice que conhecemos, que é doentia, não é saudável. O medo é de ser velho doente. O envelhecimento traz rugas, calvície, diminuição da várias funções e outras alterações, mas não leva por si só à dependência e à perda de autonomia. É possível aos 90 anos exercer a cidadania desde que se tenha saúde.
E o que fazer para que isto aconteça?
Aí vem o investimento precoce. Se a pessoa tiver um bom pediatra e depois um bom clínico pode deixar o geriatra para mais tarde, aos 60, 65 anos. Mas o que acontece é que os colegas estão se dedicando a atender doenças e não a promover a saúde. Pediatra tem de imaginar que a criança vai ser um velho saudável, manter a saúde dessa criança e oferecer ferramentas aos pais para que eles incutam na rotina de vida da criança bons hábitos – de cultura, atividade física, higiene – diminuindo as chances de doenças como obesidade, depressão, osteoporose, hipertensão e diabete. Isso depende muito do estilo de vida, da harmonia, do equilíbrio, da alimentação, do sol, do manter-se ativo física e intelectualmente. Sabe-se hoje que aos 90 anos as pessoas têm 53% de chance de se tornarem dementes. Isso porque elas estão chegando aos 90 sem ter tido cuidados nos anos precedentes.
Até que ponto posso me proteger de doenças das quais tenho predisposição genética?
A predisposição não confirma a possibilidade de ser doente. Você pode usar de várias orientações para diminuir a chance ou protelar o início da doença. Qualidade do envelhecimento depende de 25 a 30% da genética e 70 a 75 % dos ambientes familiar, social e profissional. O restante fica por conta do estilo de vida. A pessoa não pode se acomodar e se conformar. A longevidade tem dependência pequena da genética. Vai depender do que se fez na vida nos anos anteriores. Veja como crianças de quatro anos são bem parecidas e os velhos de 90, não. A criança tem grande dependência da genética, outros itens vão se tornando mais importantes ao longo da vida.
Quais são os princiapais problemas da velhice atualmente?
Demência, osteoporose, insuficiência cardíaca, hipertensão arterial, diabete, depressão, Mal de Parkinson e catarata.
Como deve ser tratada a depressão na terceira idade?
A depressão não é inerente ao processo de envelhecimento – às vezes a família e o próprio idoso acham que é normal. Na velhice, a depressão pode se manifestar de forma sutil, com distúrbio de sono, dores nas costas, alterações no apetite e na memória. A manifestação clínica pode não ser clássica. O paciente vai ao médico por uma queixa e o profissional mais atencioso vai chegar ao diagnóstico. A opção de medicamentos disponíveis é muito grande, mas algumas não são adequados ao idoso. Outras, têm menos efeitos colaterais. Por exemplo, não usamos nos idosos antidepressivos tricíclicos, que têm grandes efeitos colaterais como constipação intestinal e tontura.
Em 2025 o Brasil vai ser o 6.º país com maior número de idosos do mundo. Até 10 anos atrás era o 16.º Quem vai cuidar de tanta gente?
A nossa sociedade, incluindo os médicos, não acordou para esse fato. Ainda formamos um grande número de pediatras. Os geriatras não ocupam espaço por causa de uma questão cultural. O clínico atende o idoso, porque idoso é interpretado como se fosse um adulto um pouco diferente. Ainda existem profissionais procurando o elixir da juventude. Há posturas e indicações sem critérios científicos e o consumidor desinformado embarca. O papel do geriatra é garantir o envelhecimento saudável e não promover o rejuvenescimento. A pessoa acha que o geriatra vai receitar uma coisa milagrosa. O geriatra não tem de agregar remédio e sim retirar remédio. Às vezes o paciente é atendido por vários profissionais e cabe ao geriatra administrar qual é a real coerência da necessidade desses remédios, encarando o paciente e não as doenças.