Saúde e Bem-Estar

Daniela Neves - danielan@gazetadopovo.com.br

Um relógio sem pilha

Daniela Neves - danielan@gazetadopovo.com.br
12/04/2009 03:06
A regularidade, segundo o proctologia e cirurgião do aparelho digestivo Marcos Bonardi, é mais importante do que a frequência. “Cada um tem seu próprio comportamento fisiológico e o hábito de evacuar varia de pessoa para pessoa. Clinicamente, uma constipação só é considerada crônica quando o paciente não consegue evacuar ao menos três vezes por semana”, diz Bonardi. Quem sofre de dores abdominais insistentes, estufamento, tem fezes duras ou faz muito esforço na hora de ir ao banheiro, deve consultar um especialista.
As mulheres são as mais afetadas pela constipação intestinal e isso é explicado culturalmente. Quando os pais ensinam que a menina deve segurar a vontade para usar o banheiro de casa, não ir a qualquer sanitário, elas, ainda crianças, aprendem a segurar a urgência e acostumam o intestino com esse mau hábito. Para resolver o problema crônico, muitos apelam para os métodos mais rápidos.
O conhecido óleo de rícino ainda é uma substância muito usada. Mas afirmar que ele resolve é mais um mito. De acordo com o médico, o remédio funciona a curto prazo, mas a consequência pode ser o efeito inverso. “Usando essas substâncias, inibe-se a função fisiológica e com isso o intestino vai ficando atrofiado, já que o laxante faz o trabalho do órgão e ele ‘entende’ que não precisa mais trabalhar”, diz Bonardi.
Outros medicamentos, como osmóticos, que acumulam líquido nas fezes – o sulfato de magnésio é um deles –, são mais indicados. Não têm efeito laxativo e sim regulador do intestino. O efeito geralmente não é imediato, podendo levar de semanas a meses para que a função intestinal se regularize.
Segundo cérebro
Os sintomas de constipação crônica não são só os mais evidentes, como dores e gases. “O intestino é considerado o segundo cérebro porque é nele que é feita a absorção dos nutrientes, necessários para o bom funcionamento das células. Se não absorve como deve, o cabelo cai, a pele fica ruim, a unha fraca, entre outras coisas”, diz a nutricionista funcional Catarina Stocco. Como no intestino é produzida boa parte da serotonina, o mau funcionamento também causa ansiedade e até sintomas de depressão.
Os problemas começam quando as bactérias consideradas ruins para o equilíbrio da digestão se proliferam mais e, ao mesmo tempo, as boas diminuem dentro do intestino. O fígado fica mais lento e com isso as toxinas não são eliminadas. Isso reflete não só na digestão como na pele e até na qualidade do sono.
Em muitos casos, as mudanças de costume alimentar são suficientes para a regularização do intestino. E são bem conhecidas: tomar muita água, ingerir diversos tipos de fruta – o indicado são cinco durante todo o dia –, além de um prato generoso de salada, com muitas folhas. “Quando indicamos líquido, é bom deixar claro que é a água o mais indicado. Além de não ter calorias, é o líquido que mais hidrata o corpo”, diz Catarina. As “vedetes” para o bom funcionamento intestinal são a farinha de quinoa real e a farinha de semente de linhaça. Esta, de preferência, deve ser comprada em forma de semente e triturada em casa. O indicado é uma colher de sopa de cada tipo, incluída nas refeições.
Iogurte
Os iogurtes funcionais têm sido a opção mais usual. Segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), 15% dos domicílios brasileiros compram iogurtes funcionais pelo menos duas vezes por mês. Não são iogurtes comuns, mas sim aqueles com fibras e probióticos, micro-organismos como lactobacilos. Mas Catarina alerta que eles só funcionam quando a pessoa não tem intolerância à proteína do leite. Nesse caso, o intestino pode parar de vez. “Só podemos verificar se há ou não intolerância analisando cada paciente. Alguns têm respondido bem quando retiramos o leite e derivados da dieta”, diz.
Bonardi alerta que a maioria das pessoas que sofre com intestino preso têm má alimentação ou são sedentárias. “O organismo precisa, em media, 25% de fibras na dieta diária. O primeiro passo é incluir uma dieta de fibras e líquidos. Em segundo, a atividade física e assim se ajuda a encontrar o ritmo intestinal”, diz.
Serviço
Catarina Stocco (nutricionista), fone (41) 3362-0988. Marcos Bonardi (proctologista e cirurgião do aparelho digestivo), Hospital Santa Cruz, fone (41) 3243-1023.