Saúde e Bem-Estar

Monique Portela, especial para o Viver Bem

Comer o que você quiser é um dos princípios da alimentação intuitiva

Monique Portela, especial para o Viver Bem
07/10/2019 08:00
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O emagrecimento geralmente é efeito da alimentação intuitiva, pois que, além de ir na contramão dos exageros, inclui em sua filosofia a prática de exercícios de forma prazerosa, além da honra à saúde. Foto: Bigstock.

Esqueça as dietas restritivas. E se a chave para uma vida saudável fosse simplesmente comer o que você quisesse?
É exatamente essa a proposta da alimentação intuitiva, uma abordagem alimentar que tem na permissão incondicional para comer uma de suas bases.
Acredite: mesmo quem já pensou que viveria só comendo guloseimas, não o faria caso prestasse atenção nas vontades naturais de seu corpo, uma das premissas básicas da alimentação intuitiva.

“Quando a gente fala no comer intuitivo, é porque acreditamos nessa sabedoria inata do nosso corpo. Ele não vai pedir o tempo todo alimentos calóricos, de baixo valor nutricional. Nosso corpo pede por alimentos que são frescos, mais naturais”, explica Naiara Belmont, nutricionista clínica que trabalha com esta abordagem nutricional.

Criada em meados dos anos 1990, a alimentação intuitiva tem o autoconhecimento como palavra de ordem.
Em 10 princípios, discriminados no livro “Intuitive Eating”, das norte-americanas Evelyn Tribole e Elyse Resch, a ideia é fazer com que as pessoas voltem a reconhecer sensações fundamentais, como fome e saciedade, e passem a usá-las como parâmetro para todas as refeições.
Isso significa saber identificar o que é fome e o que é uma demanda emocional por comida, além de respeitar a saciedade como um alerta natural de que não é mais necessário comer.

“Muitas vezes, nós não estamos habituados a ter fome, nós comemos para não sentir a fome. E não sabemos diferenciar o que é estar saciado do que é estar cheio”, afirma a nutricionista clínica, Luciana Bittencourt Peixoto.

É preciso, portanto, aprender a olhar para si, além de adotar algumas práticas que favoreçam a percepção destes sinais, como mastigar devagar e prestar atenção no que se está comendo, sem a interferência da televisão ou do celular.

Mude a mentalidade restritiva

O primeiro princípio da alimentação intuitiva é justamente eliminar a autoimposição de regras, as restrições de alimentos e o controle externo da alimentação.
É preciso ter autonomia para escolher o que comer. Não existem alimentos proibidos ou permitidos, mocinhos ou vilões — tudo depende do contexto, da frequência e da quantidade.
Praticando uma observação atenta aos sinais do corpo, em certo momento estes fatores não precisarão mais ser mensurados, apenas sentidos.

“Uma pizza pode ser um alimento saudável para alguém que a tenha comido em um final de semana, em uma reunião de amigos, caso ela respeite estes sinais internos [de fome e saciedade]. É preciso considerar contexto, frequência e quantidade”, aponta Naiara.

Esse princípio relaciona-se com outro, que convoca as pessoas a “desafiarem o policial alimentar”. Isto é, combater aquela voz interior, típica de quem passou anos com práticas de dietas restritivas, que emana culpa toda vez que um alimento que seria tido como “proibido”, como um brigadeiro ou uma massa, são frutos de desejo.

“A Sophie Deram [doutora da USP, especialista em comportamento alimentar] tem uma frase que é ‘quando você come aquilo que quer, você come menos.’ Isso porque você pode estar satisfeito, mas não seu cérebro, então ele vai continuar mandando estímulos para que você coma”, explica Naiara. Na alimentação intuitiva, é preciso comer o que se tem vontade, e a isso é dado o nome de “fator de satisfação”.

Eu vou emagrecer?

O objetivo da dieta intuitiva não é o emagrecimento. Inclusive, outro princípio é justamente respeitar sua constituição física, no sentido de compreender que a busca pelo corpo tido como ideal não é uma meta justa ou real consigo mesmo.
Cada um carrega uma bagagem genética que favorece ou não que se alcance um tipo específico de corpo – é preciso lembrar que ser magro nem sempre é sinônimo de ser saudável.
Mas as nutricionistas afirmam que o emagrecimento geralmente é uma consequência dessa nova forma de se alimentar, posto que, além de ir na contramão dos exageros, inclui em sua filosofia a prática de exercícios de forma prazerosa, além da honra à saúde.

Os limites

Apesar de todos nascerem “comedores intuitivos”, existem alguns limites para esta abordagem nutricional. Algumas doenças, como o diabete, realmente demandam dietas mais restritivas.
No caso de pessoas que buscam objetivos específicos, a alimentação intuitiva, ao menos aplicada na íntegra, também não consegue trazer resultados.

“Se eu tenho como objetivo uma competição, eu preciso quantificar essa dieta. Se uma pessoa tem uma doença cardiovascular, por exemplo, eu também preciso quantificar e qualificar essa dieta”, explica Luciana.

Pessoas que apresentem transtornos alimentares ou um comer transtornado, ou seja, uma relação difícil com os alimentos, também podem ter dificuldades com a abordagem.
Lidar com as emoções sem usar a comida pode ser um grande problema — que por vezes não é resolvido apenas com o acompanhamento de uma nutricionista.
Também é difícil dizer “faça as pazes com a comida” para pessoas que sofrem com alguns transtornos como, por exemplo, a anorexia.
A alimentação intuitiva não descarta as necessidades fisiológicas, doenças e problemas nutricionais — nestas situações, caso seja buscado um profissional que atua com os princípios da alimentação intuitiva, os fundamentos desta abordagem servirão como base, mas outras condutas serão aplicadas.

Conheça os 10 princípios da Alimentação Intuitiva:

1. Rejeitar a mentalidade de dieta (no sentido de dieta restritiva)
2. Honrar a fome
3. Fazer as pazes com a comida
4. Desafiar o policial alimentar
5. Sentir a saciedade
6. Descobrir o fator de satisfação
7. Lidar com as emoções sem usar a comida
8. Respeitar seu corpo (genética)
9. Se exercitar, sentindo a diferença
10 Honrar a saúde
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